sexta-feira, 12 de maio de 2017

Resenha:O Bater de Suas Asas de Paul Hoffman





Título:O Bater de Suas Asas
Título original:The Beating of His Wings
Autor:Paul Hoffman
Editora:Suma de Letras
Ano de publicação:2013
Ano de publicação no Brasil:2013
Número de páginas:392
Preço:R$ 44,90
Paguei:R$ 20,90 (pelo box com a trilogia completa)
Nota:5/5

Resenha do primeiro livro,A Mão Esquerda de Deus / Resenha do segundo livro,As Últimas Quatro Coisas

Esse livro já começa de um modo bastante estranho,com um parecer jurídico pois aparentemente o senhor Paul Hoffman não se chama Paul Hoffman e nem sempre foi um escritor de livros.Seu nome é Paul Fahrenheit e aparentemente ele trabalhava com arqueologia,descobriu um lugar chamado Lixeiras do Paraíso."Essas lixeiras,para extinguir qualquer dúvida,constituem os dez quilômetros quadrados centralizados na primeira descoberta por Paul Fahrenheit de grandes quantidades de papel impresso extremamente antigos".O que acontece é que no segundo livro,há passagens em que Cale está nessa "Lixeira",que os arqueólogos até então desconheciam,e só ficaram sabendo depois que boatos sobre Paul Hoffman ter descoberto o lugar apareceram.


"O Anjo da Morte vagou por esta terra;pode-se quase ouvir o bater de suas asas.John Bright" _ Página 329


Agora vamos deixar de lado os detalhes jurídicos,já que eles não vão interferir na leitura,nem na história do livro.A estória do livro começa de um modo estranho,mas que eu amei super.Numa meio que entrevista com Cale,e quem o está entrevistando é um psiquiatra.Cale está doente,não somente fisicamente,mas mentalmente também,e precisa ficar internado por um tempo num "hospício".


Antigamente Cale era forte e conseguia matar 10 pessoas em 5 segundos,agora ele está tão fraco que mal consegue se mexer em sua cama.Obviamente IdrisPukke está pagando suas despesas,pois agora que a guerra contra os Redentores é quase inevitável,Cale é a única esperança de uma vitória.Mas existem mais pessoas que sabem disso,pessoas que querem evitar a guerra e sabem que se os Redentores ganhassem,conseguiriam sair ilesos e viverem em paz em algum outro lugar,por isso,dois homens estão vigiando Thomas Cale para poder assassiná-lo no melhor momento.


"É da natureza humana odiar a pessoa que magoamos" _ Página 224


Nas duas primeiras partes do livro,que é dividida em cinco,há várias conversas de Cale com sua "psicóloga",uma freira que está ali como uma última ajuda que podem oferecer à Cale.Apesar de ser uma freira,ela não é exatamente da mesma religião que Cale,e apesar de sempre presentes,poucas linhas são dedicadas à esses assuntos.Apesar de a religião ser uma pauta que está em 100% das conversas indiretamente - afinal Cale ficou doente,em parte,por causa de Bosco -,raramente eles falam dela abertamente,mas quando falam,nossa,são diálogos incríveis.


Conn Materazzi,marido de Arbel é agora o novo queridinho do rei,e apesar de odiar o rei,Conn é aconselhado a tratá-lo com pelo menos o mínimo de decência,apesar de também ser aconselhado a trata-lo com um certo desprezo,pois o rei adora os que o desprezam,mas estão sob seu poder.Cale obviamente não gosta disso,pois qualquer pessoa que esteja relacionada com Arbel,para ele,não presta e merece morrer,mas ele,em suas condições atuais,tanto físicas quanto políticas,não pode fazer muita coisa.


"Se você olha muito tempo pra dentro do abismo,o abismo também começa a olhar dentro de você" _ Página 210





Eu vou parar de contar o enredo por aqui,pois qualquer coisa a mais pode ser spoiler pra alguém e não queremos spoilers,não é mesmo?Então vamos para opiniões e sensações.Eu de cara já gostei bastante do livro pelo diálogo do primeiro capítulo,como eu disse,o diálogo de Cale com um psiquiatra e devemos reconhecer que é um diálogo bem perturbador,ainda mais quando as palavras saem da boca de um menino de 15-16 anos(nem Cale sabe sua idade),doente,quase morto.


Cale passa mal em quase todas as cenas em que aparece,por boa parte do livro,mas eu não consegui sentir pena dele,sentir dó ou algo assim,foi mais como se eu estivesse vendo um desconhecido vomitando na rua.Isso provavelmente se deve ao fato de o meu personagem preferido ser o Henri,então eu sempre sentia mais tristeza ou alegria quando algo acontecia com ele,do que quando acontecia com Cale.


"As pessoas tratam o presente como se ele fosse apenas uma parada a cainho de algum grande objetivo que vai acontecer no futuro,e aí ficam surpresas quando o longo dia se acaba;olham para trás,para suas vidas,e veem que as cosias que deixaram passar tão negligentemente,os pequenos prazeres que elas descartavam tão facilmente eram,na verdade,o significado real de suas vidas..." _ Página 55


Kleist,apesar de continuar sendo um personagem importante,depois dos acontecimentos do segundo livro,ficou meio voado,mal falava e quando falava,às vezes falava coisas totalmente sem sentido.Acontecem coisas com Kleist nesse livro que me fizeram chorar,não sei bem qual sentimento poderia descrever o que eu senti,talvez uma mescla de felicidade com pena.Sabe quando a pessoa sofre tanto que quando finalmente algo bom acontece você fica feliz,mas se lembra do que aconteceu e fica com pena?Foi isso.


Obviamente a questão religiosa está bem presente e forte aqui.O motivo maior da guerra que está por vir é a religião,o modo como o fanatismo de Bosco está destruindo a vida de milhares de meninos.Existem nesse livro algumas citações de passagens da Bíblia,mas só vai perceber isso quem leu a Bíblia,pois várias doutrinas do Redentor Enforcado são inventadas e outras são realmente tiradas da Bíblia e levadas à sério num nível tão extremo que chega a ser doentio.Uma referência clara à Bíblia é num diálogo da página 69,onde dizem que devemos perdoar 70x7.Coisa que obviamente não acontece,pois os pecadores são mortos,não perdoados.


"Como qualquer romancista habilidoso,ele consegue usar fatos reais para torar os imaginados verdadeiramente plausíveis" _ Página 19


A parte física do livro continua impecavelmente maravilhosa.Essa capa é a que eu acho mais bonita,pois a imagem do Cale num lugar algo ficou incrível!E vai ter um significado importante mais pro final do livro.As cores escolhidas também ficaram ótimas,e a capa continua sendo feita daquele papel,quase papelão,mais grossinho e os barulhinhos que a capa faz quando a gente passa as unhas pela parte de dentro é uma delícia.



E a diagramação também é igual à dos outros dois livros anteriores.Letras pequenas,mas não tão pequenas quando letras de edições econômicas,páginas amareladas e espaçamento ótimo.O fato de as letras serem pequenas atrapalha um pouco porque fica mais demorado de ler,mas como as páginas são amareladas,você não vai se cansar,a menos que seus olhos já estejam cansados.



Aqui fica,novamente,a recomendação dessa trilogia incrível,mas é claro que ela não vai agradar à todos.Recomendo pra quem gosta de bastante violência,pra quem gosta de críticas à religião,e pra quem gosta de guerras.Talvez quem goste de aventuras também goste da trilogia,principalmente do primeiro livro que é bem mais aventureiro que os outros dois.Os dois últimos entram numa onde de violência tensa.Não que no primeiro seja tudo flores,afinal,várias páginas são dedicadas à tortura e morte,mas se compararmos com os dois últimos,o primeiro é romance água com açúcar.Leiam e me digam o que acharam.

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