domingo, 19 de novembro de 2017

Resenha: Além da Superfície


Título:Além da Superfície
Autor:Maria Eduarda Razzera
Ano de publicação:2017
Número de páginas:150
Onde encontrar: Além da Superfície no Wattpad / Skoob
Nota:4/5


Eu fui leitora beta desse livro. Por enquanto ele está disponível no wattpad, mas em breve ele será lançado oficialmente em ebook e acredito que também seja lançado em versão física. Darei minha opinião 100% sincera, o fato de a autora ter entrado em contato comigo não muda nada.


Alice é uma mulher que acabou de se formar na faculdade de Administração e deveria estar muito feliz por essa grande conquista, mas Gustavo acabou de terminar o relacionamento de quase três anos que os dois tiveram. Além disso, Alice estavam com 7kg a mais do que achava ser o ideal e ainda morava com os pais, o que faz com que ela não se considere uma pessoa vencedora. Para piorar tudo isso, Alice começa a ter crises de pânico e depressão, o que torna tudo isso um buraco negro, que suga toda a sua energia.


Como lidar com ansiedade, depressão e síndrome do pânico ao mesmo tempo? Alice não sabe, mas sabe que precisa fazer algo sobre isso. Após se formar, ela decide que precisa de um emprego novo, pois trabalhar com seu tio não lhe dá a liberdade que ela precisa para fazer um bom trabalho, e decide sair para procurar um emprego que possa ajudá-la a ocupar a cabeça e não pensar nas tristezas da vida.

"Queria lhe pedir desculpas, não devia ter falado da maneira como falei... Eu não tenho o direito de me meter na sua vida. mas, se o faço, é pelo seu bem..."

Seus pais são separados e seu irmão Matheus não mora mais com ela e sua mãe, porém a família está quase sempre na mesma casa. Seus pais se separaram pro causa de brigas, desentendimentos pequenos que acabaram tomando uma proporção enorme no final. Foi em meio à esse caos que Alice e Matheus cresceram, o que torna mais entendível o fato de ela ter depressão, pois o modelo mais próximo de relacionamento que ela tinha, era o dos pais, e desde cedo ela viu que aquele relacionamento não era bom. Então quando Gustavo termina com ela, ela não sabe muito bem o que fazer, pois mesmo depois de anos de separação, seus pais continuam se vendo... e continuam brigando sempre que se veem.


Alice tem dois melhores amigos, Cris e Malu, que sempre a ajudam quando ela precisa. Ela e Malu se conhecem desde crianças, e Cris veio depois. Provavelmente as pessoas pensam que Cris é muito sortudo, pois tem duas lindas amigas que são bem próximas, mas ele não pensa nas meninas dessa forma. Os três estão juntos sempre que podem, e sempre ajudam uns aos outros, pois apesar de as crises de Alice serem mais preocupantes e mais frequentes, os dois, como seres humanos, também tem momentos difíceis.


É um livro que aborda o amor de várias formas, não somente aquele amor de interesse sexual, ou amor de amantes, mas o amor pela família e o amor pelos amigos. É também um livro que mostra o cotidiano de uma pessoa, que assim como muitos da minha geração, tem depressão e ansiedade, e mostra a realidade de viver com isso, sem exageros e sem colocar panos quentes nessas questões. É um livro que fala sobre se descobrir, se reinventar para ir para lugares mais altos, sobre a vida.





Gostei bastante da forma como os problemas psicológicos de Alice foram tratados. O livro é narrado em primeira pessoa, então ficamos bem por dentro de tudo que ela está sentindo, e na maioria das vezes, ela sente DEMAIS. Gostei por que pareceu verdadeiro, por que eu tenho essas três coisas e eu sei como são as crises dessas três coisas, e ver isso sendo tratado em um livro, com tanta naturalidade e verdade, foi ótimo. A família de Alice quer sim que ela melhore, que saia com outras pessoas e fique bem, mas eles não conseguem entender que nem sempre isso é possível. Problemas psicológicos, na maioria das vezes são bem maiores do que a gente, e mesmo que a pessoa tome remédios, vai sim acontecer uma recaída de vez em quando, e é importante que a família saiba como agir. Querer ajudar demais pode acabar atrapalhado.


Sei que existem sim pessoas que têm crises piores, aquelas crises de realmente não conseguir fazer nada, mas isso não significa que não existam pessoas como a Alice, que têm várias crises durante a semana, mas são crises leves e que passam rápido. Eu mesma já tive crises de pânico que duravam 5 minutos e já tive crises de pânico que duravam dias, isso é bem relativo, então apesar de Alice não ter crises realmente fortes, as crises que ela tem são bem verdadeiras por que não tentam ser o que não são.

"Achei que era Deus me dando um sinal, me punindo ou não sei. No fundo, só estava com medo."


O livro ainda não foi totalmente revisado. A autora fez sim uma revisão própria, mas o livro ainda não passou por um revisor profissional, então tem alguns erros, mas eu não me incomodei com nenhum deles, pois são erros aceitáveis. Erros que me incomodam são do tipo "serto, concerteza, agente, a gente fomos..." e acredite, já vi isso em livros. Entendo que existem livros que realmente são escritos assim com a finalidade de nos causar estranheza, mas na maioria dos casos, são apenas erros ridículos que as pessoas cometem por querer escrever, mas não gostarem de ler à ponto de aprenderem a escrever.


O que me fez ficar presa ao livro foi o modo como a Alice lidava com tudo o que estava acontecendo ao redor, e era bastante coisa! Apesar de ter esses problemas, ela sabia que tudo tinha seu tempo, então nos momentos da crise, quando ela sabia que podia se permitir chorar, ela chorava bastante, até tudo de ruim sair junto com as lágrimas. Nos momentos em que ela estava no trabalho ou na rua, ela segurava ao máximo, para que depois ela pudesse falar sobre isso com o amigos dela, e em vários desses momentos ela percebe que apesar de tudo, ela ainda tem um certo controle sobre a mente dela, que ela consegue empurrar as crises para os devidos lugares em certos momentos, e é exatamente isso que acontece na vida real, quando nos permitimos chorar, mas sabemos que em certos momentos, chorar não é o ideal. Precisamos de momentos assim para percebermos o quanto evoluímos.


Sei sim que eu gostei bastante do livro por causa da identificação que rolou com a personagem, e que talvez algumas pessoas não se interessem pela história como eu, mas creio que boa parte das pessoas que lerem vão gostar. Nos tempos atuais, problemas psicológicos estão sendo tratados de formas mais sérias, então acho que não vai ter nenhum leitor que não vai gostar do livro por causa disso. A escrita é bem leve, apesar de tratar de temas meio pesados, e isso é o que torna a leitura agradável, pois a Duda consegue falar de temas pesados com uma leveza enorme, fazendo com que aquilo tudo nos pareça natural, e não algo de outro mundo.


Recomendo bastante, principalmente se você de alguma forma se identificou com a personagem apresentada na resenha. É bom ver livros tratando problemas psicológicos com leveza, sem aquele peso de achar que toda pessoa com síndrome do pânico é louca e pode te matar a qualquer momento, nem o peso de achar que todo depressivo vai se matar a qualquer momento. Livros assim são importantes para que as pessoas percebam que existem vários graus de cada doença, e que tê-las não te impede de viver uma vida "normal". Talvez você precise tomar alguns remédios, ou fazer algum tipo de terapia alternativa, mas nada disso te impede de ter amigos, sair, namorar, trabalhar ou estudar. O primeiro passo para a mudança, é acreditar que vai dar certo.


PS: Doenças psicológicas não são "falta de Deus".

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