domingo, 10 de março de 2019

Resenha: Sonata em Punk Rock de Babi Dewet



Título: Sonata em Punk Rock
Autor: Babi Dewet
Editora: Editora Planeta
Ano de publicação no Brasil:
Número de páginas: 300
Onde encontrar: Americanas / Submarino / Amazon / Skoob
Nota: 5 / 5 



Sonata em Punk Rock narra a história de Valentina Gontcharov, fica de um grande violinista, um dos melhores do Brasil, mas que nunca foi um bom pai. Abandonou ela e a mãe quando Valentina ainda era criança, nunca apareceu, e para se redimir oferece pagar os estudos da filha na melhor escola de música do país.

"As pessoas pareciam talentosas demais, concentradas demais. Eram músicos, dançarinos, artistas completos. Ela não pôde evitar de reparar que o movimento de cada um ali entoava um ritmo. Como se o conservatório fosse uma grande orquestra e cada aluno, um instrumento"

Ela sabe que nunca teria condições de pagar os estudos ali, então acaba aceitando, para se tornar a melhor guitarrista que ela pode ser. O lugar é enorme, fica literalmente no centro de uma cidade que criaram para ser a "cidade da música", parece um palácio. Tim, como Valentina prefere ser chamada, se impressiona com tudo que vê. Como toda garota punk rock, que só usa coturnos e roupas rasgadas e escuras, Tim atrai olhares, e por isso prefere ficar mais em seu quarto do que pela universidade nos primeiros dias. O quarto é enorme, e possui até mesmo uma sala com televisão.

Mas como nem tudo são flores, os estudos são muito pesados. Tim se matricula nas disciplinas obrigatórias, e escolhe algumas outras. Dentre elas está a disciplina Piano, em que a professora quer que os alunos aprendam partitura e toquem Sonata ao Luar como verdadeiros profissionais. Só que Tim nunca havia tocado piano antes.

Há na universidade um pianista excelente, Kim, sul coreano, filho da diretora. Sempre consegue tudo que quer (ou quase), anda somente com pessoas ricas que estão ali apenas por nome e não por talento, e tem todas as meninas aos seus pés. Ele e Tim não se dão bem de início, mas o fato de ela saber de um segredo dele faz com que ela consiga aulas de piano com ele, ameaçando contar o segredo à todos caso ele negasse.

Tim tem ótimos amigos. Sarah é a minha preferida, e a que ganhará destaque aqui. Ela é negra, e é uma personagem extremamente importante dentro do contexto em que estamos vivendo. Ter uma personagem negra num momento em que o debate sobre racismo é algo cotidiano e acontece em vários lugares é ótimo, principalmente por que no livro Sarah conta alguns episódios racistas que acontecem com ela, trazendo uma ótima mensagem de repúdio ao racismo.



E outra coisa maravilhosa, que também tem tudo a ver com o contexto atual, é o feminismo. Tim é claramente e abertamente feminista, então em alguns momentos do livro em que acontecem coisas machistas ela sempre abre a boca, fala que está errado, para que nenhuma mulher seja diminuída simplesmente por ser mulher. Uma das minhas passagens preferidas do livro é quando Valentina salienta o que é feminismo e sororidade.

"A sororidade ensina que não podemos odiar alguém apenas por ser mulher, mas quando a pessoa é mau-caráter faz sentido que não se queira ficar perto"

Eu simplesmente amei Sonata em Punk Rock! É um livro favorito desse ano. Vários aspectos no livro me fizeram gostar da leitura. Um deles é a leitura fácil, com palavras simples, já que é um livro jovem-adulto. A história é narrada em terceira pessoa, o que poderia trazer um afastamento do leitor com o personagem, fazendo com que fosse difícil ter alguma identificação, porém não é isso que acontece. Eu me identifiquei muito com vários pensamentos e ações, tanto de Valentina quanto dos outros personagens, então neste caso, a narrativa em terceira pessoa foi algo que ajudou a ter essa identificação com várias personagens diferentes.

Claro que ter militância feminista e negra no livro também me fez gostar mais dele. O público-alvo são pessoas de 15 à 25 anos, ou seja, jovens-adultos, e é extremamente importante haver algum tipo de conscientização, pois são pessoas que ainda estão lendo sua personalidade moldada. Acho muito importante esses livros trazerem algum tipo de reflexão, lição e conscientização, seja sobre qual tema for, pois os jovens precisam ter contato com realidades diferentes para se tornarem adultos melhores.

E como a escrita da Babi é leve e super divertida, é muito gostoso de ler. A leitura com certeza vai ser bem fluida para todos. Outro ponto super positivo é que Kim e Valentina acabam descobrindo que possuem muitas coisas em comum, principalmente coisas que tem a ver com a família deles, e mostra a importância da empatia, de não julgar o que as pessoas fazem, por que no lugar delas você faria o mesmo. Empatia é conseguir se colocar no lugar das pessoas.

Senti várias coisas durante a leitura, fui sentindo tudo o que Tim também sentia, o que não acontecia há muito tempo. Sabe aquele sentimento de conseguir se enxergar dentro da história? Passar um tempinho antes de dormir se imaginando naquelas situações? Há meses isso não acontecia comigo, e aconteceu quando li Sonata em Punk Rock, e com certeza é algo muito positivo!

Uma única coisa que me incomodou foi as atitudes de Kim, por que em vários momentos em sabe que está sendo ruim, rude, que está fazendo as pessoas se sentirem mal e mesmo assim continua, e não há arrependimento nenhum, o que me deixou estressada e triste ao mesmo tempo. Como é uma série de livros e só li o primeiro, talvez nos livros seguintes Kim mude. As atitudes dele são bem escrotas. Mas não se engane! Kim evolui bastante já no primeiro livro, e muda alguns pensamentos, mas parece que ele tem medo de que as pessoas descubram que ele mudou e acaba agindo sempre da mesma maneira perto dos outros, mesmo que quando está sozinho, ou apenas com Valentina, ele seja menos ácido.

Por todos esses motivos, o livro me conquistou muito. Em vários momentos eu li o livro sorrindo. Sabe aquele sorriso bobo de quem tá apaixonado? Li com esse sorriso! Por que eu realmente me apaixonei pela história. Recomendo muito à todas as mulheres que tenham entre 15 e 25 anos, pois com certeza o livro tem muito a dizer sobre feminismo de uma forma bem natural, e que pode fazer com que haja um despertar da busca pelo conhecimento mais teórico mesmo do feminismo. Também recomendo à todos que amam música. Ao longo do livro temos várias indicações de músicas punk, clássicas, indie e rock. Sem contar que cada capítulo tem o nome de uma música que tem uma letra que faça sentido para aquele capítulo.

"Ela obviamente queria que ele ficasse por ali a noite toda, que morasse ali, que se fundisse com o piano ou qualquer coisa esquisita que pessoas apaixonadas pensavam. Mas não diria nada disso em voz alta"

Há um erro de continuação da história, bem no final, quando a autora diz que tal coisa vai acontecer às 14h e assim que termina já é por do sol, sendo que ela diz ter durado apenas 30 minutos. É algo ruim, mas não atrapalha a experiência de leitura.

Recomendo muito à todos os instrumentistas. Eu não gosto de dizer que sou saxofonista, por que toquei por pouco tempo e tive que parar, mas sei tocar saxofone e já estudei teoria musical, então pra mim foi simplesmente uma delícia ler esse livro! E claro, recomendo aos que gostam de ler séries, e principalmente séries com uma história que poderia ser clichê, mas com elementos tão diferentes que a tornam única.





Nenhum comentário:

Postar um comentário