quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Resenha: O Protocolo de Machado de Assis


























Título: O Protocolo
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil:
Número de páginas: 34
Nota: 4/5

O Protocolo é uma peça de teatro. O enredo é bem simples. Um casal está brigado e uma parente deles tentam fazer com que eles se reconciliem. É uma premissa que poderia ser desenvolvida de várias formas e ter vários finais diferentes, o que é bom, porém perigoso se a forma escolhida não for do agrado geral dos leitores.

A peça, em cena, provavelmente deve ser bem mais gostosa de acompanhar e com isso, a experiência faz com que o amor ou ódio pela peça possa aumentar ou diminuir. Caso alguém não saiba, estou com o Projeto Machado de Assis, para ler a obra inteira do autor, nos arquivos disponibilizados no próprio site do Machado de Assis. O que acontece é que O Protocolo vem junto com O Caminho da Porta, uma peça que eu amei, e logo depois vem a peça aqui resenhada, e creio que isso fez muita diferença.

O Caminho da Porta é uma peça de comédia romântica super engraçada, com várias tiradas dos personagens, insultos engraçados que não ofendem etc. Já Protocolo é mais um drama romântico. O básico do enredo não me incomoda, eu poderia amar um filme, por exemplo, em que um casal estivesse brigado e uma amiga tentasse juntar os dois, porém as atitudes do homem me fizeram não gostar da peça tanto quanto poderia.

Sei que não é tão certo olhar para as obras antigas com anacronismo, mas pelo menos para mim, se tratando de feminismo, é impossível. O homem da história é incrivelmente babaca. Ele se casou há cinco meses, e por causa de uma pequena briga - da qual ele falou que não aceita sair perdedor - ele diz que vai devolver a esposa à casa do pai. Quando a parente deles tenta conversar com ele sobre isso para ver se ele muda de ideia sobre uma trégua, ele diz que ela não sabe de nada e coisas do tipo.

"Ousas tu, posteridade de Eva, falar de capricho a mim, posteridade de Adão!" _ página 46. 

A frase acima foi com certeza uma das que mais me incomodou. Pelo simples fato de que o homem se acha melhor do que a mulher simplesmente por ser homem, ser descendente de "Adão", como se ser descendente do primeiro homem a ser burro no mundo fosse algo nobre e bom. As pessoas falam de Eva como se ela tivesse enganado Adão, mas na Bíblia não diz que ela forçou-o a comer o fruto, ela apenas ofereceu e ele, de bom grado, comeu. Portanto devemos admitir que Adão foi expulso do Éden não por causa de Eva,  mas por causa dele mesmo

E sim, sei que essa é uma visão bem mais moderna e não teocêntrica de Adão e Eva. Sei que há séculos atrás as pessoas viam Eva como a pessoa que fez Adão pecar, e entendo que muitos dirão que não deveria ser um critério avaliado, mas como até mesmo as duas personagens femininas da peça dizem que as atitudes do homem estão sendo erradas, creio que tenho a liberdade de concordar com elas.

Não é uma peça ruim, porém algumas coisas me incomodaram muito a ponto de não conseguir aproveitar a leitura. Recomendo aos que gostam desse tipo de enredo, aos que não ligam para esse tipo de atitude vinda do personagem masculino e também aos que acham horrível esse tipo de atitude, pois isso é um leque para novas discussões. E claro, recomendo à todos que querem ler a obra completa do Machado de Assis.


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