domingo, 17 de dezembro de 2017

Resenha: Através dos Teus Olhos




Título:Através dos Teus Olhos
Autor:Beatriz Cortes
Ano de publicação:2017
Número de páginas:328
Nota: 5/5


Quero deixar avisado aqui no início que eu participei do processo de revisão do livro, o que não altera em nada minhas opiniões e sentimentos sobre a leitura. Serei 100% sincera. Elogio quem merece.



Manuela era uma médica recém-formada quando seus pais morreram em um acidente. Médicos são treinados para saberem lidar com a morte, mas isso não significa que eles não vão ficar tristes, e no caso de Manuela, não significou que ela não pudesse ter depressão. Manuela se muda do país e faz a residência e a especialização em cardiologia no Canadá, não tira férias, ela precisa estar com a cabeça ocupada a todo momento. Lá ela conhece Alex, um fotógrafo, que acaba virando seu namorado. Ela sabe que a relação dos dois não é muito convencional, mas ela gosta, eles não se cobram em nada, não ficam pensando no futuro, é tudo muito seguro e calmo com Alex. Segurança e calmaria é tudo que ela busca, então ela se sente confortável.

"Às vezes, a gente se acostuma com algo só para não sair da acomodação. Tudo que é mais confortável, é mais fácil." _ Página 206

Ela, depois de três anos, resolve tirar férias e voltar para o Brasil para visitar a família. É tudo muito novo para ela, voltar depois de tudo, voltar à casa em que viveu quase toda sua vida e não encontrar os pais. Mas ela encontra sua família, seu irmão Murilo, sua cunhada Ana e seu sobrinho Vinícius. Murilo sabe o quão difícil é para ela estar de volta, e faz o possível para que ela se divirta. Ana é enfermeira e vive em plantões, e apesar dos horários malucos, é uma família unida.

"Sei que não posso esperar que algo mude sem que eu mesma lhe dê condições para isso. " _ Página 71

Vinícius precisa ir ao dentista, mas os pais estão ocupados, e como Manuela não tem compromisso, leva o sobrinho até o consultório. O dentista, Benjamin, é super carismático, não conversa muito com ela, mas parece gostar muito de Vinícius e os dois brincam durante toda a consulta, o que faz com que o menino não tenha medo do temido motorzinho. Benjamin é lindo, e como é dentista, tem o sorriso perfeito, daqueles que tiram o ar quando vemos. Benjamin acha que Manuela é a mãe do menino, e a trata assim, até por que Vinícius, para pregar uma peça no doutor, resolve chamá-la de mamãe.

"Mesmo que eu saiba que você está tão desesperada quanto eu, espero que a gente possa se desesperar junto." _ Página 217

Benjamin vive sozinho em uma casa enorme, que um dia foi dos pais. Eles resolveram que aproveitariam a vida viajando sempre, moravam na Austrália mas sempre estavam em outros países. Benjamin preferiu continuar no Brasil, trabalhando e tendo a segurança de ter um lugar fixo. Ele tem um cachorro, um labrador gigante chamado Sírius, que não é preto! (me desculpem pelo trocadilho ruim) Sírius, como todo bom labrador, é bagunceiro e ama brincar, ama atividade, ama estar em movimento, o que faz com que a casa de Benjamin esteja constantemente suja de lama.

"Era tudo o que eu precisava de uma sexta-feira. Vinho, comida estranha e solidão." _ Página 29.

Benjamin tem um melhor amigo chamado Pedro, que com certeza é o melhor melhor amigo de todos os tempos. Pedro é o divertido da dupla, trabalha na organização de eventos e sempre chama Ben para ir, apesar de todos os convites serem recusados, pelo menos por um bom tempo. Pedro sempre esteve ao lado de Ben, nos momentos mais felizes e nos momentos mais difíceis, e em todos esses momentos, sendo eticamente correto ou não, Pedro dizia o que pensava, era sincero, deixava Benjamin saber o que ele achava ser o certo a ser feito. Pedro gosta de sair para beber, ama pizzas e não entende muito do universo feminino, o que não significa que ele esteja sozinho, mas significa que discussões acontecem com uma certa frequência.


Quando Manuela chega ao Brasil, reencontra sua amiga Micaela, que também é médica e é pediatra. Micaela é super divertida, e muito, muito insistente. Não significa que ela não aceite um não, ela até aceita, em certas situações, principalmente em momentos delicados, onde ela também consegue ser uma ótima amiga, mas quando se trata da autoestima de Manuela, ela é sim super insistente. Ela esteve ao lado da amiga quando ela perdeu os pais, e sabe o quão difícil é para Manu estar novamente no Brasil, então faz de tudo para que a amiga não fique sozinha, e principalmente para que ela não fique triste, mas que sempre esteja animada, alegre.

" Alguém capaz de comprar pizza para mim, merece todo o amor do mundo." _ Página 235

Esse é o núcleo principal de personagens, há vários outros, mas o foco maior é neles. Essa vidas vão se cruzar, se encontrar e se misturar, se fundir umas às outras. Amizade e amor não são coisas que escolhemos, elas acontecem naturalmente, as pessoas chegam e quando elas te conhecem de verdade, decidem se querer ficar ou se querem ir. Amigos são os que ficam, mas os que ficam de verdade, não apenas para passar a mão na sua cabeça, mas para te dar uma bronca de verdade. Família sempre será o lugar seguro para onde você poderá correr, não importa o quão problemática ela seja. Todos esses personagens vão aprender o valor da existência de cada um na vida deles e em pouco tempo perceberão que se tornaram uma família, uma rede de apoio, um porto seguro.


É um livro de romance, de superação, sobre família e amor, sobre amizade e principalmente sobre saber quem você é, se enxergar por inteiro. Ver seus próprios pontos fortes e fortalecê-los, e trabalhar para que os pontos fracos não te atrapalhe na vida. O romance do livro vai encantar os leitores, principalmente os que amam romances com história, não somente aquela coisa água com açúcar. (amo romance água com açúcar também!) Quem gosta de medicina, quem se interessa por algo relacionado à isso vai amar! Tem bastante coisa interessante, por termos duas personagens médicas estando no núcleo principal. Aqui vemos que medicina não é essa beleza toda de salvar vidas.






É um livro leve. O sentimento que permaneceu durante toda a leitura foi de leveza. É um livro gostoso de ser lido, não apenas por ser um entretenimento bom, mas por realmente ensinar algo. Claro que essa parte aqui é sobre minha experiência pessoal, e muitas vezes um livro que muda minha vida não muda uma palha na vida de outra pessoa, mas creio que pessoas sairão da leitura desse livro mudadas, melhores. Eu confesso que em vários dias eu peguei esse livro quando eu não estava emocionalmente bem, quando estava triste, e isso foi bom, porque o livro é tão leve, que eu me esquecia dos problemas com muita facilidade e mergulhava na história.

"– Eu sou uma bagunça… – comento. Ele não sabia de nada da minha vida.
– Eu ia dizer que quero te ajudar a arrumar, mas sou muito desorganizado. Então, vai ser um caos duplo!" _ Página 125

Sou uma pessoa que se apega fácil, à tudo na vida, no nível que eu "ganhei" uma pedra de um amigo no final de 2016 e essa pedra continua no meu estojo escolar. E eu nem estudo. (só vem faculdade 2018) Eu tenho uma facilidade maior a me apegar à personagens fortes, não gosto de gente que foge. Tudo bem em ser emocionalmente instável, todos somos, em um dia ou em todos eles, mas todos somos. O problema é quando você escolhe ser fraco, quando você prefere colocar suas emoções debaixo do tapete, escolhe não cuidar de você mesmo e depois percebe que você colocou tanta coisa lá embaixo, que precisa de um guindaste para tirar tudo de lá. Esse foi um dos motivos que me fez demorar para realmente gostar da Manuela.


Reparei, nesses anos todos como leitora ávida, que é mais comum em livros de romances a mulher ser mais fácil, medrosa, fugir das coisas. Um livro que foge disso é Querido John do Nicholas Sparks, o mocinho é o instável, o que fugiu das preocupações achando que tudo se resolveria. Em Através de Seus Olhos, é a Manuela, o que não tem problema nenhum, não tenho nada contra, e inclusive até gosto disso em alguns livros. Eu demorei bastante para gostar da Manuela, cerca de 100 páginas (o que é muito se formos parar para pensar que me apaixonei por Sírius no segundo em que ele apareceu, ok, ele é um cachorro, é fácil se apaixonar, mas foi bem rápido), por que o livro já começa contando como ela fugiu quando os pais morreram porque não conseguia ficar em casa, não sabia lidar com as memórias e resolveu ir para um lugar onde as memórias não fossem um problema. Ela parou de sofrer? Não! Agora ela estava no Canadá, com saudade da família e dos amigos, e sofrendo com a morte dos pais, sozinha. Manuela voltou para o Brasil e estava aparentemente fugindo de seu namorado por que não queria pensar no futuro, discutir a relação e quem sabe dar um passo à frente. Ela fugiu novamente.

"“A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero”. (Victor Hugo)" _ Página 83

Isso me irritou profundamente no início. E agora vou dar-lhes uma explicação psicológica para isso: temos a tendência de não gostar das pessoas que agem da mesma forma que agimos. Sim, é verdade. Temos a tendência a exaltar, a adorar pessoas que fazem coisas que nós não teríamos coragem de fazer, e quando vemos alguém que faz algo que nós faríamos, ou que até já fizemos, não gostamos dela. Claro que não é sempre, muitas vezes encontrar alguém que faça o mesmo pode gerar uma identificação, mas o oposto também acontece. Esse ano foi o ano em que eu menos fugi dos problemas, o ano em que mais me empenhei a resolver o que deveria ser resolvido, mas confesso que já deixei de falar coisas para algumas pessoas para não ter que arcar com as consequências depois, já deixei de postar pensamentos meus em redes sociais por medo de aquela postagem um dia voltar e me dar um soco na cara. E a pior coisa: não quero ter uma família por medo de seguir os exemplos que tenho perto de mim, e se isso não é a definição de fugir, não sei o que é!


Eu gosto de pessoas seguras justamente por que eu não sou tão segura assim, então foi fácil gostar do Ben, foi fácil gostar do Murilo e ainda mais fácil gostas das crianças que aparecem no livro. Eles são seguros, eles fazem o que querem mesmo sem saber se vai dar certo no final, eles se jogam de cabeça. Esse ano eu me joguei de cabeça em vários projetos, mas confesso que desisti de alguns sem um bom motivo para desistência. Não vou dizer que continuei não gostando da Manuela por todo o livro, chegou um momento em que eu comecei a me identificar com ela positivamente, e a partir daí, meus sentimentos em relação à ela mudaram. Também houveram momentos em que a odiei por fazer coisas muito burras que nem eu faria? Sim! Mas essa é a graça em ler um livro!

"Era como estar perdido no meio do oceano e só conseguir pensar em como é bom mergulhar." _ Página 121

Quem acompanha minhas resenhas sabe que eu amo personagens que me provocam sentimentos. Personagens que não são 100% bons, nem 100% maus. Aqueles que concordamos com certas atitudes e páginas depois estamos recriminando-os por atitudes erradas. Gosto de personagens reais, que me fazem sentir que estou lendo uma história real, uma história de verdade. Personagens que existem e podem existir. Amo quando um personagem me faz odiá-lo tanto quando adoro amar os personagens. Manuela foi uma das poucas que me fez sentir essa montanha-russa de sentimentos. Amor e ódio eram constantes. E confesso que em alguns momentos eu só queria sentar com a Manu na minha sala e dizer "minha linda, acho que você tá fazendo merda". Isso significa que os outros personagens são perfeitos? Não! Muitas vezes eu me pegava pensando "Por que essa pessoa está fazendo isso? É óbvio que vai dar errado!", mas essa é a beleza da leitura, pelo menos para mim.


Agora quero dar destaque ao papel da medicina na história. Se preparem para ver os personagens passando mal e indo ao hospital durante o livro inteiro, e quando digo se preparem, é se preparem de verdade! Medicina não é só a beleza de salvar vidas, medicina também é suor, é lutar pela vida, e é ficar triste quando as coisas não dão certo. Não é spoiler! Manuela, como cirurgiã cardiologista, sabe muito bem como é estar com a vida de outra pessoa literalmente em suas mãos, sabe qual é a sensação de operar um coração e ver que depois de tudo feito ele não está batendo, ou que não está da forma como deveria. Em pensamentos ficamos sabendo que durante o tempo em que ela esteve no Canadá, ele teve que aprender a lidar com isso, a perder pacientes, o que não significa que ela não chore toda vez que perde um, mas que ela sabe que precisa se manter forte e seguir sua própria vida, mesmo diante da morte.

"A morte é assustadora porque é desconhecida. Toda vez que nos aproximamos dela, somos impactados. Isso, – ele apontou para a paciente – vai acontecer o tempo todo, e você nunca vai se acostumar. E, sinceramente, nem deve. No dia que você se acostumar, Manuela, é você quem estará ali, ou então, deve parar de estar aqui, desse lado”" _ Página 150

Sobre o enredo em si. Não vou dizer que você vai encontrar coisas inovadoras ou inéditas aqui, há vários clichês no livro, mas na minha opinião, o problema não é o clichê, é como você o utiliza. Existem muitos clichês por aí que funcionam, enquanto alguns... e não é pelo tipo de clichê, mas pelo modo como o autor do livro faz aquele clichê aparecer na história. Então aqui tem sim pessoas querendo se encontrar e encontrando no par romântico uma força a mais para recomeçar. Tem sim pessoas brigando por coisas incrivelmente bobas. Há um momento específico no livro em que Sírius invade um lugar, e se não fosse por ele ter invadido, a cena seria clichê, o desenrolar da cena seria clichê e provavelmente não seria tão bom. Valorizo muito isso.

"Eu preciso falar que te amo porque tenho medo que outra pessoa fale primeiro." _ Página 165

Apesar dos clichês, há sim coisas que apesar de não serem inéditas, não acontecem sempre, e ver isso sendo explorado num livro nacional é ótimo! O fato de a Manuela ser médica e de uma parte da história se passar no hospital, já que em certo momento ela precisa exercer a profissão, é uma coisa que foi bem trabalhada, apesar de que devo admitir que até sabia muitos dos termos utilizados, pelo único motivo de eu me interessar no assunto, mas sei que uma pessoa 100% leiga vai entender pouco de certos parágrafos e vai ter que pesquisas no google por que não há uma explicação mais simples sobre os termos científicos usados, e isso é um ponto negativo do livro. Ter que ficar pesquisando no google, e correr o risco de acabar vendo imagens nojentas e indesejadas simplesmente por que queria saber o que significa tal palavra, é ruim.


Uma coisa que me deixou um ponto triste é que as profissões da Ana e do Murilo não são muito valorizadas aqui. Ok, Ana é enfermeira e acompanhamos a Manuela e a Micaela no hospital, mas Ana é uma pessoa separada, ela tem suas experiências com toda certeza, e elas não são citadas. Murilo trabalha com aviões, não me lembro da exata função dele, mas ele trabalha dentro do avião, viajando, nas nuvens, e apesar de eu ter uma certa fobia disso, gostaria de saber mais sobre. A profissão de Pedro só aparece em dois momentos fortes, mas pelo menos aparece, o que incomodou, é que do meio para o final do livro, ficou parecendo que Pedro não tinha mais um emprego. Apesar de poucas cenas se passarem no consultório de Benjamin, coisas sobre a profissão dele são citadas, o que não me fez sentir tanta necessidade de saber mais, mas sobre os outros personagens, acho que poderia ter dito algum momento, algum jantar em família ou com os amigos em que eles falassem de como foi o dia no trabalho.


Não vou falar dos erros gramaticais ou de concordância que encontrei durante o livro, por que meu trabalho com ele, além de resenhar para ajudar na divulgação, foi revisar e acho que não seria justo falar sobre isso aqui. Agora sobre a escrita da autora, é linda. Leve, como já disse anteriormente e poética. Reparei muito nisso durante a leitura, e lendo as frases do livro que separei para vocês, as frases em negrito e itálico durante a resenha, já dá pra perceber que é uma escrita bonita, poética, sensível, e posso dizer que a escrita dela é assim por que esse é o segundo livro da Beatriz que eu leio. Não vou dizer que o clima do livro fica leve durante o livro inteiro, há momentos tensos e até melancólicos, porém a escrita dela faz tudo ficar mais leve, mais brando, e de vez em quando é bom ler um livro levinho, mas que tem uma carga grande, que tem algo para ofereceu ao leitor, que faz o leitor pensar.

"Um coração não se quebra sozinho, então, você não precisa estar sozinho para consertá-lo." _ Página 322

Recomendo bastante, principalmente para os que gostam de romance mais real, um romance provável, e acima de tudo um romance em que os dois lutam para tudo dar certo, e não apenas os dois, mas a família deles e os amigos. Eu ainda não sei como vai ficar a publicação do livro, quando ele vai ser publicado, nem onde ele será publicado. Espero, de verdade, que ele vá para a Amazon em ebook e que futuramente tenha uma edição física, é um livro que eu gostaria de ter na estante. Se você se interessou pela história, clique aqui para ter acesso ao facebook da Beatriz Cortes, e conversar com ela sobre como e quando será a publicação do livro. Leiam, vale super a pena.

2 comentários:

  1. Ahhhhhhh como amei isso! hahaha Linda! Obrigada pelo carinho! Amei a resenha! Estou emocionada ao saber sua opinião. Quanto à publicação, será até o final de 2018. Estou em período de adaptação da história, mexendo nas coisas que os betas - inclusive você - pontuou! Enfim, obrigada pelo carinho! <3

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