quinta-feira, 23 de maio de 2019

Resenha: As Crônicas Marcianas de Ray Bradbury



























Título: As Crônicas Marcianas
Autor: Ray Bradbury
Editora: Editora Globo de Bolso
Ano de publicação no Brasil: 2007 (a edição de bolso)
Número de páginas: 304
Onde encontrar: Amazon / Submarino / Skoob
Nota: 5 / 5



As Crônicas Marcianas é uma coletânea de contos sobre a colonização de Marte, e pode ser resumida apenas como isto, mas é muito mais do que apenas uma coletânea. Os contos foram publicadas separadamente em revistas de ficção-científica na década de 1950, e posteriormente foram reunidas para compôr este maravilhoso livro. Ray Bradbury, também autor de Fahrenheit 451, escreve de maneira genial sobre um tema pouco abordado na época, trazendo reflexões super importantes. Quero dizer também que apesar de os contos estarem dispostas no livro de maneira cronológica, você pode ler na ordem que preferir. Eu recomendo que leia na ordem cronológica apenas para não correr o risco de ficar perdido.

Não vou falar a história de todas os contos aqui, e nem vou falar a história completa de nenhuma delas, pois creio que o legal é ir descobrindo o que vai acontecer. É uma resenha difícil de fazer, por que ao mesmo tempo que as crônicas estão dispostas em ordem cronológica por que os acontecimentos são contínuos, cada uma delas também pode ser lida de forma separada.

O livro começa com contos falando sobre expedições à Marte. Os terráqueos tentaram por várias vezes irem à Marte, para colonizar o planeta, mas por algum motivo nunca voltam. Os que estão na Terra acreditam que o foguete se perdeu e todos os que estavam dentro dela estavam perdidos no espaço ou haviam morrido pela falta de mantimentos, oxigênio ou mal funcionamento do foguete. A cada período de tempo um novo foguete é lançado, até que um finalmente consegue voltar com alguém vivo para dizer o que aconteceu em Marte e como o planeta é.

"Por mais que nos aproximemos de Marte, nunca o tocaremos. E ficaremos bravos por isso, e o senhor sabe o que vamos fazer? Vamos despedaçá-lo, arrancar sua pele e transformá-lo à nossa imagem e semelhança" _ Página 97.

Nos primeiros contos, o que fez eu me apaixonar pelo livro logo de cara, é que em uma delas a narrativa é feita pela perspectiva de uma mulher marciana. E aí podemos traçar vários paralelos à nossa realidade, inclusive em questões de hierarquias sociais, ciúme, o que é feio ou não.

O fato é que os terráqueos conseguem ir para Marte em dado momento. Primeiro vão chegando os mais ricos, os que vão "construir" um novo planeta ali, pessoas poderosas, e aos poucos as outras pessoas vão chegando ao planeta. Marte tem uma atmosfera bem mais rarefeita do que a da Terra, o que significa que as pessoas têm dificuldades para respirar, mas nem essa parte mais difícil da adaptação impede as pessoas de começarem um novo mundo.

"Foi um dia puxado - disse o capitão. - Estou atordoado e cansado. Hoje aconteceu coisa demais. Sinto-me como se tivesse passado quarenta e oito horas embaixo de uma chuva torrencial sem guarda-chuva nem capa. Estou encharcado até os ossos de tanta emoção" _ Página 83.

Enquanto isso na Terra as coisas começam a entrar em colapso. Em um conto específico, escravos negros se juntam para fugir da Terra e conseguirem ser livres, é um contos ótima por que fala muito sobre questões sociais e como o negro é visto por pessoas gananciosas que os vêem apenas como fonte de dinheiro escrava. Também há um trecho maravilhoso sobre rompimento de barragens, que é com certeza a minha parte favorita do livro. Li este livro bem na época do rompimento da barragem por causa da Vale, e esse trecho descreve uma realidade muito sofrida, e claro, como eu estou do lado de tudo o que aconteceu, pra mim foi extremamente doloroso ler isso enquanto acompanhava (e sigo acompanhando) os resgates.






























No livro há um conts que se difere muito dos outros, tanto em questão de narrativa quanto de enredo mesmo. Ela faz parte da cronologia da história inteira, e é uma parte super importante, mas é muito diferente de tudo, e seria uma ótima crônica para ser lida em outubro, para os projetinhos de horror, e se chama Usher II. O contos tem inspiração e citação de Edgar Allan Poe, mestre do horror, e não apenas à um conto dele, mas sim à toda a sua obra de horror, o que é muito interessante, pois se você conhece os contos do Poe, consegue ir fazendo os links com tudo que está acontecendo, pois neste conto, acontece em Marte, coisas que o Poe narrou acontecendo na Terra, só que uma coisa acontecendo atrás da outra sempre.

"A ignorância é fatal, Garrett" _ Página 196.

Também tem uma coisa muito legal em alguns contos mais pro final, que é o fato de que livros de ficção não serem permitidos. O governo apenas permite que livros de histórias reais sem escritos e vendidos, e tudo que é ficção é caçado e destruído, o que eu encarei como um "ensaio" para escrever Fahrenheit 451, em que acontece uma coisa parecida, já que As Crônicas Marcianas foram lançadas antes.

E aqui terminam meus comentários sobre os contos. Como eles possuem uma ordem cronológica de acontecimentos, acho que falar sobre as últimas crônicas seria dar spoilers, e não quero fazer isso. Já tem uns dois anos que eu simplesmente não leio mais sinopses de livros, estou sempre começando as leituras na total surpresa (quando não são livros famosos).

"Não basta terem estragado nosso planeta, precisam mesmo estragar outro? Será que precisam destruir a manjedoura de outras pessoas?" _ Página 113.

Amei muito a escrita do autor, por que um tipo de escrita fácil, leve e rápida. Meu medo com livros de ficção-científica é justamente que a linguagem do livro seja difícil demais para que eu entenda, mas a linguagem que o autor usa é super acessível, mesmo sendo um livro com mais de meio século de idade. Este livro é um prato cheio para os que gostam de ficção-científica, para os que gostam de livros que se passam em ambientes totalmente diferentes e para todos os que amam narrativas que sempre tem várias críticas à sociedade. E as críticas que o autor fez há mais de 50 anos ainda servem para a sociedade atual. É um livro incrível e merece muito ser lido!



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