domingo, 25 de fevereiro de 2018

Resenha: A Parte que Falta de Shel Silverstein


Créditos à Folha de São Paulo



Título: A Parte que Falta
Título original: The Missing Peace
Autor: Shel Silverstein
Editora: Cosac Naify / Companhia das Letrinhas
Publicado em: 1976
Ano de publicação no Brasil: 2013 / 2018
Número de páginas: 112
Preço: R$ 49,90
Nota: 5/5


É com certeza um dos livros mais lindos que você vai ler na sua vida. O público-alvo são crianças pequenas, aquelas que tem entre 4 e 8 anos, ou seja, ainda em fase de alfabetização, porém esse livro vai funcionar perfeitamente para todas as idades, desde os mais novos até os mais velhos. Claro que cada pessoa, em cada faixa etária, vai tirar coisas diferentes do livro, por isso recomendo que releia o livro em alguns anos, pois cada releitura vai te trazer um aprendizado diferente, ou vai falar com você de uma forma diferente.

O protagonista é um ser quase redondo, esférico, como o Pac-Man, mas uma parte lhe falta. Ele vive sua vida em busca dessa parte. Por não estar completo, ele não rola com tanta velocidade quanto poderia, e essa lentidão faz com que ele possa aproveitar as pequenas coisas da vida como conversar com uma minhoca, parar para observar e cheirar as flores, e até mesmo ter uma borboleta pousada em sua cabeça. Apesar de todas essas pequenas felicidades, ele continua buscando a parte que falta.

Atravessa oceanos, montanhas e lugares difíceis, tomando chuva e sol ardendo, em busca da parte que lhe falta. Ele acha algumas partes, mas nenhuma parece ser a certa para ele. Uma hora é pequena demais, ou grande demais. Num certo momento ele não segura bem a parte e ela se solta, e com medo de isso se repetir, ele segura bem forte a próxima parte achada, o que faz com que essa parte se quebre.

Não vou falar mais nada sobre o enredo, pois acho que o que foi dito já é um ótimo resumo do livro, e tenho certeza de que já despertou pelo menos o mínimo interesse em você. Talvez essa resenha esteja emocional demais, mas lhe dou a certeza de que é 100% verdadeira, apesar de talvez ser mais intensa do que deveria ser.

















Agora vou falar sobre minha experiência com o livro. Eu não o li, eu ouvi e vi as gravuras. Jout Jout gravou um vídeo lendo esse livro, e foi assim que tive o contato com ele. Caso você também queira ver o vídeo e conhecer o livro, clique aqui, ela lê o livro na íntegra. Eu cliquei nesse vídeo apenas por que ele estava Em Alta. Acompanho a Júlia há anos e amo os vídeos em que ela nos apresenta os livros que ela gosta, mas não estava muito na vibe para vê-lo, mesmo ele estando no meu feed desde a parte da manhã. Gostaria de dizer que "li" o livro e estou escrevendo essa resenha no dia vinte de fevereiro, dia em que ela postou o vídeo.

Esse livro me tocou de uma forma muito profunda. É uma história tão simples, que até as crianças pequenas conseguem entender, mas que muitas vezes não ouvimos, não somos ensinados a certas coisas e continuamos em busca de algo que é impossível conseguir.

Em nossa vida sempre vamos ter algo faltando, algum buraquinho que queremos preencher, e nem sempre vai ser possível, e precisamos entender isso o quanto antes. Precisamos entender isso para não perdermos anos e anos da nossa vida tentando ter uma vida perfeita que na verdade não existe.

Se você tem 3 sonhos, ter dois filhos, se formar na faculdade e ter um bom emprego, você sabe que não vai poder ter todos ao mesmo tempo, não é? Não por que seja impossível, algumas pessoas conseguem isso, mas ficam tão cansadas no fim do dia que não aproveitam os pequenos prazeres da vida. Não adianta você ser um médico super renomado e rico, ter um emprego num hospital maravilhoso e trabalhar as 12 horas de plantão sempre com um sorriso no rosto, se você não tiver tempo para dedicar à sua família. Isso não significa que TODO médico é assim, mas se você estiver exercendo a profissão e estiver estudando ao mesmo tempo, seu dia foi embora todo aí. Vamos fazer as contas. 12 horas de plantão no hospital, mais 4 horas por dia estudando para alguma especialização, e no minimo 6 horas dormindo. Considerando que você demora algum tempo para ir de um lugar à outro, seu dia foi embora aí, e você não vai ter tempo para a sua família. Se você escolher sacrificar suas horas de sono, vai trabalhar mal no outro dia, e se escolher não ir estudar, pode se dar mal em alguma prova. Entende? Não tem como termos tudo ao mesmo tempo, sempre vai faltar algo, às vezes coisas pequenas, às vezes coisas enormes, mas temos que aprender a conviver com a falta de algo, e entender que nem sempre aquela falta é algo ruim.

Por exemplo, eu sei que não conseguiria, humanamente, estudar 4 horas por dia, trabalhar por 8 horas, gastando duas horas diárias dentro do ônibus e ir à academia depois disso. Considerando que eu duma pelo menos 6 horas por noite, eu vou ter apenas 4 horas do dia livre, e apesar de saber que sim, eu poderia ir à academia, eu iria perder o tempo com a família ou com amigos. Então sempre vai faltar algo, por que em algum momento eu vou ter que escolher um ou outro, e o que não foi escolhido vai ficar faltando, vai deixar um buraco.

A lição que esse livro nos traz é: aprenda a viver com as faltas. Aprenda que não poderemos ter a vida perfeita, não há como nos dedicarmos nos estudos, no trabalho, à família, aos amigos, à espiritualidade e ao corpo tudo de uma vez. Você pode tentar arrumar seu horário para que pelo menos uma vez na semana cada coisa seja feita, mas sempre vai ter aquele sentimento de "poxa, eu estou aqui com minha família enquanto eu poderia estar estudando para passar naquela prova difícil". A vida é feita de escolhas e prioridades, seja sábio ao escolher as suas, para que o vazio deixado não te mate, não seja mais do que você pode aguentar. Quando for escolher suas prioridades, se pergunte o que mais te faria falta, essa é a sua prioridade. O resto você pode sim deixar para depois, ou pode tentar arrumar um horário, mesmo que pequeno, para aproveitar as outras coisas, mas não corra atrás de uma vida perfeita, onde todos os buracos estarão preenchidos, essa vida não existe! Viva com os seus vazios, suas faltas, da melhor forma possível, onde ainda te seja possível apreciar os pequenos prazeres da vida, pois no final, são esses pequenos prazeres que ficarão na sua memória.

Espero que essa pequena resenha tenha feito vocês terem curiosidade em ler ou ouvir o livro, saibam que não vão se arrepender. É um ótimo livro para ser lido para crianças, para que elas entender desde bem pequenas que os pequenos prazeres da vida, mesmo com coisas faltando, é o que faz a vida valer a pena.



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