domingo, 1 de setembro de 2019

Resenha: Cartas Para Você de Duda Razzera































Título: Cartas Para Você
Autor: Duda Razzera
Editora: Publicação Independente
Ano de publicação no Brasil: 2014
Número de páginas: 237
Onde encontrar: Skoob
Nota: 3 / 5


Aviso: Esta resenha é de um livro que fala sobre ansiedade e depressão. Não leia em momentos de fragilidade.


Cartas Para Você é um livro de ficção, porém quem conhece a autora sabe que muito do que está no livro realmente aconteceu na vida dela, e justamente por isso, a carga emocional do livro é muito forte. O pai de Georgia Castro faleceu. O pai era tudo na vida dela, seu melhor amigo, a pessoa que a ajudava nos momentos difíceis, e a pessoa que sempre a incentivava.

Georgia passou por um término de namoro bem traumatizante, e isso fez com que ela desenvolvesse depressão, e piorou seu estado de ansiedade. E quando ela estava se recuperando, o pai faleceu. Foi um golpe muito duro, e uma forma que ela encontrou de continuar viva depois disso tudo, foi escrevendo cartas para a Aceitação.

"O fato é: sinto que cartas são chiques, dramáticas e despretensiosas. E eu me sinto assim: embora mais dramática do que chique e despretensiosa"

Georgia quer muito ficar bem com tudo que aconteceu, e fica se perguntando quando a Aceitação vai passar por ali. No livro a Aceitação é personificada, e mesmo que as cartas nunca sejam mandadas, Georgia escreve como se a Aceitação estivesse recebendo cada carta, e que não as está respondendo.

Com o tempo, escrever as cartas vai ajudando Georgia em seu processo de cura interna, de compreensão, e de ressocialização, já que com a morte do pai, ela se trancou em seu mundo e não queria mais sair dali. O modo como o livro foi escrito, por cartas, é bem interessante, funcionou muito bem para o enredo, e dá um tom pessoal, sempre ficamos sabendo de tudo que a Georgia tem para contar. Sabemos de todos os sentimentos, pessoas com quem ela se relaciona, lugares pra onde ela vai, e acompanhar esse processo de cura sabendo disso tudo, me fez sentir como se eu fosse uma estagiária de psicologia, que ouve e observa tudo, mas não fala nada.































Esse foi o primeiro livro escrito pela Duda Razzera, e como eu disse, tem muito da vida dela no livro. E eu acho até meio estranho fazer uma resenha do livro, por que sei que em partes estarei julgando a vida da autora. Um ponto positivo do livro é que ele acaba incentivando as pessoas que têm algum distúrbio psicomental a escreverem sobre isso. E, pelo menos pra mim, há alguns anos, quando eu estava em uma das piores fases da depressão, me ajudava bastante.

Acho que a leitura desse livro vai ser muito boa, em termos de aprendizado, para quem convive com alguém depressivo ou ansioso. Mesmo que a realidade da pessoa seja bem diferente da mostrada no livro, os sentimentos são bem parecidos. Digo isso por que eu já senti muita coisa que é narrada no livro. 

E aqui vem algo que eu acho negativo. Pessoas frágeis, psicologicamente falando, não podem ler esse livro de maneira alguma. Li esse livro em um dos meus momentos mais fortes. Ainda tenho depressão e ainda tenho ansiedade, mas está bem controlada, graças a Deus, e em diversos momentos eu senti muito desconforto. Como eu havia dito, tem uma carga emocional bem forte, tem crises de ansiedade bem descritivas e ler isso em momentos de fragilidade com certeza não é bom. O que significa que o livro não atinge muitas pessoas, e que não dialoga bem com o tipo de pessoa que se interessaria pelo livro, que são os depressivos e ansiosos. Tudo bem se você tiver depressão e/ou ansiedade e for ler o livro, mas não leia em momentos de fragilidade.

"Eu tenho quase certeza de que não me conheço mais. Não sei explicar... Não sei se eu vivo com uma imagem de mim como eu era, de como os outros me veem. As expectativas são tantas, principalmente vindas de mim, e eu não sei o que fazer"

Achei que colocar a culpa das dores dela na "Aceitação", é terceirizar a responsabilidade. Por que, querendo ou não, apenas nós somos responsáveis pela nossa vida. A personagem, principalmente na primeira metade do livro, culpa muito as coisas externas por como ela está se sentindo e lidando com tudo que está acontecendo, porém ela vai evoluindo nesse quesito ao longo do livro. A única coisa que me incomoda mesmo, é que em toda crise que ela tem, até o final do livro, a culpa sempre é da Aceitação, e não dela mesma.

Sei que não é legal ouvir que a culpa da sua depressão é sua, afinal, não há culpados aqui. Depressão e ansiedade são problemas hormonais, então não é culpa de ninguém. Muitos acontecimentos podem levar à depressão e à ansiedade, mas a forma como lidamos com isso é responsabilidade totalmente nossa. Depressão e ansiedade só são tratadas de forma eficaz com acompanhamento psicológico, e quando estamos dispostos a fazer a situação mudar, de pouco em pouco.

"Alguns me dizem que é hora de seguir em frente, outros me dizem que ainda é muito cedo. Passei por tantos estágios de luto que já nem consigo contar, tento enquadrá-los com os números e nomes que os especialistas dão nesses livros de autoajuda e fico perdida"

Se você for ler histórias de pessoas que superaram a depressão, vai perceber que todas elas, em algum momento, tiveram um momento de começar a fazer o que realmente gostava, de experimentar coisas novas. A depressão e a ansiedade não são tratadas - e muito menos curadas - se não decidirmos fazer algo sobre isso. E culpar as coisas ao nosso redor definitivamente não é a saída.

Basicamente eu só encontrei duas coisas que me incomodaram no livro, mas foram coisas que me incomodaram bastante, e ao longo de toda a leitura. Já li diversos outros livros da Duda Razzera nos últimos anos, e posso garantir que a escrita dela evoluiu absurdamente. Ela continua tratando de depressão e ansiedade nos livros, e continua sendo bem realista, porém de uma forma mais responsável.

De qualquer forma, recomendo a leitura do livro, para psicólogos que têm foco em depressão e ansiedade, para pessoas que convivem com pessoas que possuem esses transtornos. É sempre bom se manter informado, e por mais que livros teóricos realmente ajudem e sejam extremamente importantes, é sempre bom ler algum relato real. E sim, o livro é ficção, mas muito baseado na vida da própria autora. Fica aqui a recomendação, mas leia somente em momentos em que você estiver bem!




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