domingo, 6 de outubro de 2019

Resenha: Frankenstein de Mary Shelley





Título: Frankenstein
Autor: Mary Shelley
Editora: L&PM Pocket
Ano de publicação no Brasil:
Número de páginas: 256
Onde encontrar: Submarino / Americanas / Amazon / Saraiva
Nota: 4 / 5



Frankenstein é um livro clássico de terror/horror, escrito por uma mulher, então apenas por isso ele já merece um pouco da sua atenção. Mas mais do que isso, ele traz uma história muito interessante. Eu já conhecia os pontos-chave da história, mas não sabia que o desenrolar da história seria o que eu encontrei no livro. 

Devo alertá-los de que Frankenstein não é o nome do monstro, e sim do homem que faz o monstro. A história de Victor Frankenstein é narrada por Walton, um jovem que crê que seu futuro é fazer descobertas e fortunas em alto mar. Perseguindo esse sonho, ele compra um navio, recruta marinheiros e vai. A viagem segue sem muitos problemas, mas também sem novidades. E num momento, quando ele se vê pronto para desistir e voltar, ele vê um homem com vários metros de altura de trenó sobre o gelo. Logo após vem outro homem, mas o gelo se quebra, ele acaba afundando, e é resgatado por Walton.

Eles começam a conversar sobre como Frankenstein chegou até ali, e o que estava perseguindo, e Walton, todas as noites, escreve isso em um diário que pretende mostrar à irmã. Victor Frankenstein gosta muito de ciências da natureza, principalmente no que envolve medicina, e apesar de ter começado seus estudos autodidatas de forma errada, procurando em fontes ultrapassadas e esotéricas demais, ele decide que irá estudar para se tornar um médico. Porém seus conhecimentos em medicina o deixam ambicioso, e ele coloca como meta criar um ser.

"A brandura de minha natureza tinha desaparecido e, dentro de mim agitava-se o fel da amargura" _ Página 150

Ele passa meses coletando partes de corpos de pessoas no cemitério, e finalmente consegue tudo que precisa. A ideia é criar alguém que seja muito maior do que todos os homens existentes, e muito mais forte. Por ser feito literalmente de gente morta, a pele já não está com uma cor normal, e se torna amarelada, meio esverdeada, então sim, o monstro é meio verde. Apesar de o filme clássico mostrar que no momento em que o monstro recebeu vida o doutor Frankenstein ficou feliz e começou a comemorar por sua obra estar viva, no livro não é o que acontece. Ele fica alguns segundos admirando sua obra, e em pouco tempo cai sobre ele um terror enorme, e um arrependimento sem tamanho por ter criado um monstro.

"... e um cemitério nada mais era para mim do que o receptáculo de corpos privados de vida que, depois de terem sido sede da beleza e da força, se haviam transformado em alimento dos vermes" _ Página 57

O monstro foge, Frankenstein pensa estar seguro, e continua sua vida. Começa a se arrepender dos estudos que o levaram a cometer algo tão terrível: brincar de ser Deus, e cai em depressão. Com isso, ele interrompe os estudos, o que significa que ele nunca chega a ser um doutor de verdade. Porém, algum tempo depois, o monstro que ele criou começa a matar pessoas, e desde o início ele sabe que é o monstro, e a partir daí seu propósito de vida é matar o monstro que criou.


























Como puderam ver pela nota, eu gostei muito do livro. Não consigo dar nota total à ele por alguns motivos. Primeiramente, a parte que mais me interessava, que era a descrição sobre as partes do corpo do monstro, saber como ele conseguiu essas partes, narrar ele coletando-as, simplesmente não existe. Ele informa que entrou em alguns lugares para pegar as partes e logo depois já fala sobre a noite em que o monstro foi de fato criado. Isso acontece bem no início do livro, uma coisa que quando eu li me incomodou, por que eu pensei que teria um pouco mais de suspense até chegar de fato no momento de dar vida ao monstro.

O foco acaba ficando no que o monstro faz, e claro, como todo livro escrito no século XIX, a linguagem é rebuscada, e para dizer uma coisa que poderia ser dita em um parágrafo eles usam uma página. Já estou acostumada com isso, mas acho que a autora deu foco demais em algumas coisas que poderiam ser mais enxutas, e as partes de terror mesmo, do gore, não aconteceram. Eu não catalogaria esse livro como terror, e sim como suspense, mistério e ficção-científica, por ter a criação de um ser à partir de partes de seres humanos mortos. Não é um livro que dá medo, definitivamente, e apesar de ter um clima de suspense no livro inteiro, não há picos desse suspense, não há nada que faça dar medo. Não há sequer uma boa descrição do monstro.

"Se, porém, não é essa a vossa intenção, ide, ide e deixai-me na escuridão" _ Página 159

Reconheço o brilho e a importância da obra, tanto por ser um livro com um suspense que está no livro inteiro, - e aqui preciso dizer que a autora foi incrível, pois conseguiu segurar o suspense durante todo o livro - quanto por ser escrito por uma mulher numa época em que mulheres que escreviam eram muito descriminadas e até mesmo não conseguiam publicar seus livros apenas por serem mulheres. Claro que o fato de ela ser uma pessoa influente, e ter se casado com um homem ainda mais influente muito provavelmente a ajudou, mas quem escreveu o livro foi ela, portanto o mérito é dela.

Na edição que eu li há um texto, bem no início, onde a autora fala sobre como surgiu a ideia do livro e como ela de fato começou a escrever, e não é nada como dizem por aí, principalmente na internet. Dizem que ela escreveu esse livro numa noite, após um desafio, e que outros autores também estavam com ela e escreveram seus livros, mas que o mais famoso foi o Frankenstein. Na realidade, houve uma noite em que estavam conversando sobre isso, e num sonho ela sonhou com a história, começou a escrever, mas parou pouco tempo depois. E alguns dias depois, incentivada pelo marido, ela voltou a escrever, ou seja, Frankenstein não foi escrito em uma noite.

Eu gostei do fato de não ser o próprio Victor Frankenstein contando a história, e sim um capitão de um navio, pois não temos a certeza de que tudo aquilo de fato aconteceu. Primeiramente por que não sabemos se, após o evento traumático de quase ter se afogado e estar num frio congelante, o que Victor Frankenstein diz é realmente verdade. Segundo por que não sabemos se o que o Walton transcreve são pura e simplesmente as palavras de Victor, ou seja, podem ter tido alterações na história, criadas por Walton, para fazer com que a carta e o diário que ele iria mandar para a família sejam mais interessantes, e poderia ser uma distração diante do fracasso que estava sendo sua viagem. 

"Nada é tão doloroso à mente humana quanto uma súbita e grande mudança" _ Página 212

Uma outra coisa que infelizmente aconteceu comigo durante a leitura, ou melhor, não aconteceu, foi a identificação com os personagens, não apenas no sentido de que não havia ninguém que me representasse ali, mas eu não torci por ninguém. As pessoas foram morrendo e eu lia como se fosse algo como alguém dizer que pisou num verme ontem à tarde.

Apesar das minhas críticas feitas, eu gostei bastante do livro, foi uma leitura incrível e, por a descrição de cenários ser muito boa, eu consegui me ver nos lugares em que os personagens estavam, apesar de não conseguir sentir o que eles sentiam, por que a descrição de sentimentos não é tão boa quanto a descrição de cenários. O que me fez dar essa nota alta ao livro, depois de todas essas críticas, foi com certeza a parte em que a história, pelos olhos do monstro (e claro, contadas por Victor e transcritas por Walton) é narrada, pois ver tudo como o monstro via é algo muito diferente e incrível!

Recomendo muito a leitura do livro, principalmente pela parte em que vemos a história pelos olhos do monstro, por que é maravilhosa! Claro que além disso, é um livro escrito por uma mulher, é um livro clássico, e apesar de eu não achar que é um livro de terror, por ser algo bem leve, pelo menos para mim, é um livro de terror que você pode ler agora em outubro e aproveitar a vibe sombria que este mês tem.



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