quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Resenha: Quincas Borba, de Machado de Assis


























Título: Quincas Borba
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação desta edição: 1891
Número de páginas: 158
Onde encontrar: Skoob / Machado de Assis (MEC)
Nota: 3 / 5



O livro acompanha a vida de Rubião, que é amigo de Quincas Borba. Já nos primeiros capítulos o leitor fica sabendo que Quincas Borba morreu, e a partir daí, vai narrando os acontecimentos. Isso me lembrou MUITO o livro A Morte de Ivan Ilitch, do Tolstói, em que acontece algo parecido. Em Quincas Borba, o que acontece é que o próprio Quincas Borba não tem família, e tem apenas Rubião pra cuidar dele no momento da doença. E claro, também tem um cachorro, que também se chama Quincas Borba, e durante todo o livro fica meio confuso de qual Quincas Borba estão falando, e por vezes, até mesmo Rubião acredita que o cachorro tem algo do dono, e por isso têm o mesmo nome.

"Há óperas remissas na cabeça de um maestro, que só esperam os primeiros compassos da inspiração."

Quincas Borba é um filósofo, fica o dia inteiro, inclusive nas piores fases da doença, filosofando sobre inúmeras situações da vida. E num dado momento, mesmo doente, ele resolve fazer uma viagem. Fica muito tempo fora, e infelizmente não volta vivo. Porém deixa toda a sua herança para Rubião. 

Rubião não sabia quanto era a herança, nem sequer sabia que Quincas Borba tinha algo para deixar para alguém. Mas se surpreende quando recebe a notícia de que recebeu uma herança enorme, com a qual ele pode confortavelmente viver o resto da sua vida, sem preocupações. A partir daí, o livro narra as viagens e relações que Rubião estabelece por causa da herança que recebeu.



Minha relação com o livro começou a melhor forma possível: me lembrando um outro livro que eu li e amei. Eu gostei muito das filosofias trazidas por Quincas Borba, e também gostei muito dessa coisa de o homem se confundir com o cachorro, não apenas no nome, mas em personalidade também. Eu achei isso genial, é meio que perguntar quanto de como o nosso cachorro é, é responsabilidade nossa? E principalmente perguntar: como os cachorros influenciam nossas vidas?

Eu fiquei encantada com essa primeira parte do livro, que pra mim se encerra quando Rubião começa a viajar. A partir daí ele conhece algumas pessoas, que serão personagens fortes no livro, em especial um casal. O que acontece é que Rubião se apaixonada pela mulher que forma esse casal de amigos, e mesmo não falando nada, ele vai nutrindo esse sentimento, que ele sabe que não vai ser bom. E na verdade ele vai nutrindo por que ele se ilude. Ao menor gesto de gentiliza por parte dela, ele já pensa "é claro que ela me ama", quando na verdade ela só está sendo educada.

Essa insistência dele me encheu bastante o saco, devo dizer. Até certo ponto era uma coisa legal, uma ilusão da cabeça dele, só que foi tomando proporções enormes, saindo do controle, ele sabia que ia dar ruim e mesmo assim fazia as coisas, e foi aí que começou a me irritar muito. Além disso, mais pro final do livro, vão acontecendo coisas, por causa dessa ilusão, que eu fiquei com muita vontade de bater no personagem.

"É tão bonita! e parece querer-me tanto! Se aquilo não é gostar, não sei o que seja gostar. Aperta-me a mão com tanto agrado, com tanto calor..."

E aqui fica uma reflexão e uma explicação minha. Tem uma enorme diferença entre construir um personagem chato pra que ele crie situações e faça a história andar, e construir um personagem tão chato que cansa o leitor. Rubião era um homem muito legal no início do livro, só que as ilusões e alucinações dele sobre essa mulher simplesmente acabaram com a vida dele, por que ele vivia em função disso. Mas não foi um processo legal de acompanhar, foi um processo repetitivo, cansativo, que eu só queria que acabasse logo.

"Nisto, a chuva cessou um pouco, e um raio de sol logrou romper o nevoeiro, — um desses raios úmidos que parecem vir de olhos que choraram."

Por esse motivo eu não consegui gostar de fato do livro. O enredo até onde eu contei lá em cima é ótimo, e poderia ter sido ótimo até o fim, se Machado de Assis tivesse escolhido um caminho diferente. Nem é sobre ele não ter alucinado, ou sobre isso não ter atrapalhado a vida do Rubião, mas a forma como foi narrado. Foi cansativo, eu só queria terminar o livro, e mesmo assim lia pouco por dia, por que estava sendo uma leitura chata.

Recomendo a leitura do livro para pessoas que querem ler sobre a decadência de um homem em função de ilusões e alucinações na vida amorosa, que na verdade é algo não recíproco e está tudo na cabeça dele por boa parte do livro. É um livro "ok", muitas pessoas vão gostar justamente por mostrar esse declínio, eu apenas não gostei tanto por que achei cansativo, mas o enredo em si, é bom.


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