Título: A Metamorfose
Título original: Die Verwandlung
Autor: Franz Kafka
Editora: Rideel
Ano de publicação no Brasil: 1956
Número de páginas: 32
Onde encontrar: Amazon (ebook) / Saraiva¹ / Saraiva² / Domínio Público
Nota: 5/5
QUERO DEIXAR CLARO, que a imagem da capa usada aqui é meramente ilustrativa. Eu li a versão que está disponível no Domínio Público, que está apenas traduzida, não adaptada, e não contém ilustrações. Mas como os livros do Domínio Público normalmente não tem capa, e a paginação era quase a mesma, eu escolhi essa capa para ilustrar a resenha. Enjoy!
A Metamorfose é uma releitura para mim. Já havia lido essa novela em 2015, e me lembro de, naquela época, não ter gostado da leitura. Inclusive existe uma resenha antiga desse livro, clicando aqui você terá acesso à ela. Este post vai falar sobre as minhas opiniões e pensamentos atuais sobre esse livro e sobre como a minha visão sobre ele mudou tão drasticamente em apenas 3 anos.
Em A Metamorfose, o personagem principal, Gregor, ou Gregório Sansa, que é um caixeiro viajante, o que seria como um representante de vendas hoje em dia, se torna um inseto. Ele dorme, e quando acorda percebe que há algo diferente, que agora ele está muito mais largo e possui várias pernas que ele, num primeiro momento, não consegue controlar.
O livro é dividido em três capítulos, e podemos dizer que o primeiro é sobre como o Gregor se aceita nessa nova forma e tenta continuar agindo como se nada tivesse acontecido e ele ainda estivesse na forma humana; o segundo é sobre a reação da família dele e sobre o que eles decidem fazer num primeiro momento; e o terceiro é sobre o que de fato a família dele faz e pensa sobre a nova forma do Gregor.
Gregor faz de tudo para continuar a vida como ela sempre foi. A primeira coisa que pensa é que está atrasado para o serviço, tenta se levantar e ir trabalhar. Uma das pessoas do escritório vai até a casa da família de Gregor para saber o que houve, e assim que vê o que aconteceu, sai correndo como se tivesse visto o demônio. A partir daí começamos a acompanhar as reações de cada uma das pessoas da família de Gregor, bem como suas empregadas.
Em momento algum da narrativa Gregor diz ter se transformado em barata, porém em uma cena, um dos outros personagens o chama assim, o que faz com que todas as pessoas que leem o livro também pensem dessa forma, e até mesmo antes de conhecer a história eu já tinha a imagem da barata na mente, mas isso não aconteceu dessa vez.
Como alguns sabem, sou bióloga em formação, e isso mudou tudo. Lendo o livro eu apenas consegui imaginar o Gregor como um besouro gigante, e não como uma barata. Uma das coisas que me fez imaginá-lo assim, é o fato de ele falar que ele está bem largo, quase tampando a cama inteira (cama de casal) e não dizer que também está cumprido, o que aconteceria se fosse uma barata. E imaginar o personagem principal como besouro acabou me ajudando, já que entre besouros e baratas eu prefiro besouros. Isso fez com que eu tivesse uma empatia maior pelo personagem. Em alguns momentos Gregório fala sobre alguns líquidos meio pastosos saindo de seu corpo, o que também me faz achar que ele na verdade se tornou um besouro.
Uma boa crítica a se fazer depois da leitura desse livro é sobre como nossa forma física aproxima ou afasta as pessoas. Enquanto pessoa, todas as pessoas se aproximavam de Gregor sem medo, porém após a metamorfose, as poucas pessoas que tinham coragem de entrar em seu quarto, por exemplo, faziam isso com muito medo. A irmã sabia que era Gregor ali e sabia que ele não a faria mal, mas qualquer mínimo movimento que ele fazia, era motivo para que ela corresse.
Acompanhar a vida de Gregório enquanto inseto foi bem legal dessa vez. Achei muito interessante, mas de novo, isso provavelmente se deve ao fato de eu estar cursando biologia, então acho os comportamentos animais muito interessantes. Nesta novela é especialmente interessante por que é um ser humano, acostumado a andar e comer de formas "humanas", e que de repente passou a não conseguir mais fazer isso. Ver essa mudança e essa adaptação em tudo na vida do personagem é muito interessante.
Uma coisa que havia me incomodado bastante na primeira leitura foi o fato de em boa parte do livro os pais do Gregório simplesmente ignorarem que ele existe, o pai prefere acreditar que o filho morreu do que pensar que ele se transformou em um inseto gigante e asqueroso. Hoje eu já acho que isso é algo genial no livro. Mostrar a indiferença e a preferência da família diante da situação é o que faz o livro acabar sendo agoniante, pois vemos que Gregor quer muito o apoio da família, porém tudo que a família quer é estar longe dele.
Não apenas por medo, mas por nojo também. Podemos relacionar isso à várias outras coisas da vida. Sobre como o que nós somos faz com que a sociedade nos encare com nojo e repulsa. Esse livro pode ser, bem lá no fundo, a história de qualquer pessoa que se sentiu desencaixada, num lugar onde ninguém a quer, mesmo que seja o lugar ao qual ela sempre pertenceu.
Gregório vai aceitando tudo que acontece com ele. As feridas, internas e externas são abraçadas por ele como suas únicas amigas, e o final é realmente muito triste. Confesso que em certos momentos eu tinha raiva da passividade do Gregor, queria que ele se fizesse ser respeitado de alguma forma, que ele lutasse pelo respeito que ele merece, mas também sei que na situação em que ele estava era algo quase impossível.
A escrita do autor, por ser um livro antigo, é rebuscada, mas não é nada impossível de ler. Pessoas que não têm costume de ler muito provavelmente vão demorar um pouco para ler o livro por causa do tipo de linguagem, mas pessoas que já leem com uma certa frequência conseguem ler o livro inteiro em um dia. Lembrando que existem várias e várias versões desse livro, já que ele é um clássico mundial da literatura.
Recomendo aos que gostam de livros que causam repulsa, que de alguma forma te fazem sentir mal, não apenas pela forma do personagem principal, mas pelo modo como ele passa a ser tratado. Também recomendo aos que querem uma leitura rápida, porém com várias reflexões que podem ser feitas. E por fim, recomendo aos que gostem de histórias de fantasia e de drama, pois são os dois elementos mais fortes da narrativa.
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