Título: Mãe
Autor: José de Alencar
Ano de publicação: 1860
Número de páginas: 111
Disponível em: Domínio Público
Nota: 5/5
Mãe é uma peça de teatro em quatro atos. Jorge é um jovem estudioso que gosta de ensinar. Ele dá aulas de piano à sua vizinha Elisa, uma moça que parece gostar dele. Jorge vive com Joana, uma escrava negra, mas nunca a tratou como escrava, e sim como uma segunda mãe, já que ele nunca conheceu sua mãe biológica. Joana adora Elisa, e sempre que pode vai à casa dela ajudar Elisa e o pai, senhor Gomes, a arrumar a casa e deixar tudo limpo. Joana sempre diz que não é incômodo, que não gosta de ficar parada e quando não tem nada para fazer, vai até a casa de Elisa para ajudá-la.
Joana sabe que seu senhor, Jorge, é um jovem bom, mas prefere que ele não saiba que ela ajuda Elisa, pois pensa que ele pode se irritar e colocá-la para fora de casa, ou seja, vendê-la. Esse é o núcleo principal, a ao longo do teatro vão aparecendo mais alguns poucos personagens. Inclusive um doutor, o Dr. Lima, que conhece Jorge desde que nasceu. Dr. Lima era amigo do já falecido pai de Jorge, e por isso Jorge pensa que o doutor sabe quem é sua mãe, e o pergunta, mas tudo que Lima responde é que na hora certa Jorge descobrirá.
A peça tem vários temas sendo abordados, todos relacionados à época em que foi escrito, e ao local em que retrata: Rio de Janeiro. A escravidão ainda não havia sido abolida, devemos nos lembrar disso, e mesmo assim, em Mãe, a escrava é tratada como parte da família, como amiga, o que ela considera uma benção de Deus. Joana sabe que, como escrava, não deveria ter direito à várias das coisas que Jorge lhe permite fazer. Podemos dizer que o tema central da peça é a família, não somente a do Jorge. Aqui vemos um jovem que quer muito saber quem foi a pessoa que lhe deu à luz, e quer poder recuperar o tempo perdido, mas ninguém parece saber quem foi essa mulher, e os que sabem, não o querem contar.
"Mãe" me emocionou bastante. Assim que a figura da mãe aparece na história eu já sabia que seria uma leitura incrível. Foi muito diferente do que eu esperava. Por ser uma peça bem antiga, eu esperava um tema mais "banal". Claro que isso não é regra, mas muitos dos livros escritos no Brasil dos séculos XII ao XIX eram sobre a alta sociedade, sobre os mais ricos, e ver um livro de um autor clássico tratar de um um local onde todos os moradores são pobres, me fez ficar muito feliz.
Uma super felicidade, para mim, foi ver a escreva sendo tratada como parte da família, algo que eu também não esperava, principalmente por que o livro foi escrito em uma época em que ter escravos, vendê-los e maltratá-los era algo comum e permitido por lei. Por causa disso, Jorge, depois da Joana, é meu personagem preferido. A forma como ele se coloca no lugar das pessoas com quem ele convive é bonita de ler, provavelmente ver a peça no teatro deve fazer com que isso fique ainda mais lindo.
É uma peça que eu li somente por que faz parte do projeto de leitura das obras do Machado de Assis (já que o Machado fez uma crítica sobre a peça), e fico muito feliz por ela estar nesse projeto, por que eu provavelmente não a leria se não fosse por isso, e acabei amando.
Agora falando sobre a crítica do Machado, já que ela foi o motivo de eu ter lido a peça, também foi legal. Ele basicamente elogia a obra e o autor, dizendo que é uma história importante, e como ele realmente viu a apresentação no teatro, fala sobre a escolha dos atores e de suas atuações. Ele também fala sobre o fato de que, até o momento em que ele escreve a crítica, ninguém sabe quem é o autor da peça, então José de Alencar recebe vários elogios e só depois se revela. Ele faz a crítica no início até o fim da peça, dando vários spoilers, então só leia a crítica depois de já ter lido a peça, ok?
Recomendo à todos que gostam de peças curtas, aos que gostam de drama familiar e aos que se interessam pelo período em que a peça foi escrita. Com toda certeza, se você se encaixa em algum desses grupos de pessoa, você vai gostar da peça. É forte, emocionante e nos apresenta uma realidade diferente da nossa, de um tempo diferente. Conhecer nosso passado é tão importante quanto entender nosso presente, e "Mãe" é um ótimo retrato de sua época. Simplesmente incrível.
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