quinta-feira, 3 de maio de 2018

Resenha: Além da Perfeição de Leonardo J. Mateus






























Título: Além da Perfeição
Autor: Leonardo J. Mateus
Editora: Editora Viseu
Ano de publicação: 2018
Onde encontrar: Site da Viseu
Número de páginas:
Preço: R$ ??
Nota: 4/5


Além da Perfeição é uma distopia, ou seja, uma "utopia negativa", um universo onde tudo parece ser perfeito, mas se formos analisar a vida dos habitantes desse país ou cidade, veremos que é um verdadeiro inferno. Aqui temos um governo que faz com que todos os adolescentes aos 16 anos decida seu futuro. Eles precisam sair de casa e ir para uma espécie de faculdade. É o sonho de todo adolescente finalmente começar sua vida de independência, eles precisam viajar sozinhos e fazer tudo sozinhos, com a orientação dos superiores, o que lhes dão a sensação de independência, mas estão sempre seguindo ordens.

É preciso dizer que aqui a tecnologia é alta, muitas das funções são desempenhadas por robôs. Os carros não são mais máquinas dirigíveis, você apenas diz onde quer chegar, e o carro te leva. Não existem mais telefones celulares, quando você quer fazer uma ligação, faz por meio de holograma. Tudo na casa consegue ser feito por programação. Os vigias são robôs, afinal, pouco importa se eles "morrerem" em serviço.

Em meio à toda essa tecnologia, os sentimentos e, principalmente, a liberdade, não são coisas com as quais o governo se preocupa. Desde que a tecnologia não pare de evoluir, está tudo certo. O objetivo maior do governo, e de todos que para ele trabalham, é alcançar a imortalidade. Apenas uma pequena parcela da população adoece, e pouquíssimos morrem por causa de doenças, mas quando adoecem, são vistos como impuros e não podem fazer várias das coisas que as pessoas saudáveis fazem, como por exemplo, ter o ensino superior. Eles são simplesmente barrados quando chegam ao aeroporto.

Um grupo que não é barrado, mas é visto como diferente e impuro, é o grupo de pessoas que não concordam com as ideias do governo. Apenas uma parcela mínima de pessoas fica doente ou vive na miséria, mas essa parcela precisa ser tratada de forma humana, tem as mesmas necessidades que todos os outros têm, e o governo apenas ignora a existência dessas pessoas, como se aquela porcentagem baixa não existisse e o mundo fosse perfeito. Por causa disso, algumas pessoas repudiam qualquer coisa que o governo aprove ou faça, eles querem o direito de viver como as outras pessoas, e isso irrita, profundamente, os governantes, que os tratam cada vez mais como lixo, para que a pressão os impeça de ter algum avanço.

"O teto escuro que permanece sobre nós durante uma noite é o melhor amigo contraditório da saudade. Nos dá a percepção de que estamos sozinhos em meio à escuridão, porém nos faz perceber que a pessoa a qual sentimos falta é vigiada pelo mesmo céu. Talvez estejamos sozinhos e esta pessoa, em algum lugar, esteja acompanhada. Um esteja sorrindo, enquanto o outro chorando. Um sinta falta no momento em que o outro não se lembre mais do primeiro. Mas se olharmos para aquele mesmo céu, para cada uma das estrelas, nos damos conta que estamos mais perto do que imaginamos. Debaixo do mesmo teto ou, talvez, de um mesmo cômodo chamado universo. Basta sentirmos. Basta compreendermos o sentido de haver um único céu acima de nós." _ Página 153

É nesse contexto que vive o protagonista, que completou 16 anos e agora vai para o ensino superior. O sonho dele é ser um renomado cientista, assim como o pai foi, e conseguir finalmente achar um meio de ser imortal, ou seja, de nunca ficar doente, e dizimar todas as doenças. Quando entram nessa espécie de faculdade, os jovens passam por testes e suas notas definem quais cursos farão. Eles podem ser médicos, cientistas pesquisadores, trabalhar com a projeção de novas tecnologias, construir essas novas tecnologias e por aí vai. Apenas cursos nas áreas de ciências biológicas e exatas, nada de humanas. Qualquer curso de humanas, como o jornalismo, por exemplo, poderia colocar abaixo o governo atual, e ninguém quer isso, não é mesmo?

Falando do governo, é preciso saber que o modo de governar é o mesmo em todo o planeta. Os "presidentes" não são eleitos pelos seus países, e sim por seus continentes, e têm poder sobre tudo. Também é preciso ressignificar a palavra "eleito", os governantes atuais são quem vão escolher os próximos, ou seja, não existe eleição de fato, o cargo passa para quem for mais influente e tiver a amizade do governo atual.

O protagonista vai ir percebendo, de uma forma bem lenta e gradual, que o mundo que ele pensava ser perfeito é podre, que as pessoas que ele tanto admirava são ainda mais podres, e que os que ele julgava têm vários motivos para fazerem o que fazem.

Em meio à todo esse caos e todas as dúvidas que surgem ao longo do enredo, o protagonista precisa lidar com a pressão de ser um cientista tão bom quanto o pai, e para isso precisa passar bastante tempo estudando, coisa que não o impede de se apaixonar por uma menina e muito menos de conversar todos os dias com seus melhores amigos. Inclusive seu melhor amigo de infância, que mora em um apartamento bem pertinho do dedo, tem vários segredos de família a serem descobertos. É uma história bem complexa e completa.




























Quero começar a segunda parte da resenha dizendo que adorei ter lido esse livro. É uma experiência única, e creio que toda pessoa que tem entre 13 e 20 anos deve lê-lo. Nem sempre os julgamentos e opiniões que temos enquanto jovens, sem muita experiência do mundo, é correta. Muitas vezes apenas reproduzimos aquilo que nossos pais ou mestres ensinaram, sem um motivo real para estarmos falando ou fazendo tais coisas. O livro fala sobre algo que é realidade para muitos jovens: o desejo de ser tão bom quanto os pais. Desejo que muitas vezes vem com uma pressão enorme. Sim, é natural queremos ser bons como nossos pais são, mas não devemos pensar que somos pessoas menos inteligentes ou menos guerreiras por não termos uma casa própria aos 25 anos, por exemplo. Temos que pensar que nossos pais viveram em uma época em que a expectativa de vida era algo perto dos 60 anos, ou seja, eles tinham 15 anos de expectativa a menos do que nós, o que fazia com que eles sentissem que precisavam resolver tudo bem cedo para que a velhice deles fosse bem vivida. Viva o hoje pensando no hoje. Devemos sim pensar no nosso futuro, mas lembre-se de que se você não cuidar de si e não viver sua vida intensamente da maneira que você achar correta, você vai passar a vida toda vivendo uma vida que não é sua. Sendo médico ou um vendedor de verduras, seus pais vão te amar.

Além da pressão de ser quem os pais esperam que ele seja, o protagonista também sofre a pressão de os governantes esperarem que ele seja tão bom quanto o pai, o que é uma carga pesada demais para um adolescente carregar. Além disso temos aqui a questão do primeiro grande amor da vida dele e de tudo que esse amor pode tirar dele caso ele se entregue ao sentimento. Nem sempre nos apaixonamos por uma pessoa possível, por uma pessoa que, socialmente falando, poderá ficar ao nosso lado. Além disso temos aqui novas amizades e muitas descobertas por causa dessas amizades. Ou seja, é um adolescente comum, que está lidando com muitas novidades ao mesmo tempo e que vai ter que aprender a lidar corretamente com tudo isso, mas que, por não ter muita ajuda externa, vai ter que trilhar um longo caminho até encontrar seu lugar no mundo.

"- Eu te amo.
Dizer que esta é uma das expressões mais faladas em toda a história pode ser um grande engano. Tudo depende de como a enxergamos. Quando dita da alma, ela se torna uma das pouquíssimas palavras faladas pela humanidade em toda história. Uma palavra que jamais vem acompanhada por um ponto final. Mas por uma reticência que não é sucedida por uma palavra sequer." _ Página 183

O livro tem bastante ação, além de ter ficção científica, e tudo isso com o super combo dos conflitos pessoais descritos no parágrafo anterior, com certeza é algo que faz o livro ser perfeito para adolescentes e jovens-adultos. Sim, o enredo é ótimo e super cativante, prende a atenção do leitor na maior parte do tempo, mas creio que algo que faz com que um livro se torne mais interessante para o leitor é a identificação, seja com o contexto ou com algum dos personagens. Comigo a identificação aconteceu quando o personagem revelou querer ser cientista, e isso foi algo que me deixou um pouco decepcionada depois. Apesar de falar o que sobre as pesquisas, é algo bem por cima, sabe? Não sabemos os processos, apenas que estão trabalhando em tal coisa e que de repente ficou pronta, e isso é uma das coisas que não me deixou dar nota total para o livro.

Uma coisa que adorei, e que vocês já puderam ver nas citações, é que a escrita do livro, às vezes, é bem poética, o que também abre espaço para uma pequena decepção, já que a escrita oscila muito. Normalmente isso não me incomoda, afinal, gosto do que o Bukowski escreve e sabemos que a escrita dele oscila entre o poético e o podre, mas aqui, a parte não-poética do livro pareceu infantil demais. Não os acontecimentos, mas a escrita. Parecia que o autor escrevia uma parte do livro para os adultos e depois resolvia escrever para as crianças, tudo isso na mesma página. De qualquer forma, as parte poéticas me ganharam e eu amei muitas delas.

O livro é bom, o enredo é ótimo, e apenas essas coisas me incomodaram, mas não foi um incômodo que me deixou nervosa, apenas desconfortável. A diagramação está boa e creio que a revisão também esteja. Como eu li o livro antes de passar pela revisão, infelizmente não poderei falar sobre esse aspecto. Como podem ver, a capa do livro está incrível, e a diagramação das orelhas e da contra-capa também está maravilhosa. É uma ótima opção para os que procuram um livro YA de ficção-científica, e claro, uma boa distopia. Essa mistura de gêneros deu super certo, e espero que o livro seja um sucesso!


3 comentários:

  1. fico feliz que tenha gostado deste livro meu amigo teve muito trabalho para escrever. comete sobre ele no skoob também :
    https://www.skoob.com.br/alem-da-perfeicao-790552ed793714.html

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  2. Não me pareceu uma dystopia, pelo contrário, parece uma utopia com poucos defeitos, pouco importa que a humanidade seja governada por robôs, aliens, ou mesmo ditadores, sendo que a maioria do sofrimento e da desgraça humanas está resolvida. A sociedade descrita no livro é muito, mas muito superior a sociedade atual. E fica até estranho e absurdo que mediante tanta tecnologia existam pessoas que sofram preconceitos. Se fosse realista, tais pessoas seriam cuidadas pelo governo.

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    1. Você está enganado. Distopia é caracterizada por algum sistema de opressão e privação, duas coisas que estão presentes em todo o livro.

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