segunda-feira, 5 de março de 2018

Resenha: O Reino de Hatley de Amanda Castejon

































Título: O Reino de Hatley
Autor: Amanda Castejon
Editora: Independente
Ano de publicação: 2016
Número de páginas: 266 versão física / 331 ebook
Preço: R$ ?
Nota: 4/5


Rebecca é uma adolescente de 17 anos, está terminando o ensino médio e ainda não sabe qual carreira vai seguir. Ela vive uma vida relativamente normal. O pai abandonou a família, e por isso, ela, sua mãe e seu irmão se mudaram para Hatley, uma cidade menor, perto de grandes florestas, para recomeçar a vida onde o pai não pudesse atrapalhá-los.

Ela tem uma rotina comum para quem é novo em algum lugar: quer descobrir mais, e por isso, passeia bastante, faz pesquisas e perguntas. Um dia ela percebe que um aluno a está encarando durante o recreio, e então seu objetivo passa a ser saber quem ele é, além de claro, pesquisar sobre a história de Hatley.

Rebecca vai à biblioteca da cidade e tenta encontrar livros que falem sobre isso, mas nenhum deles parece ser o livro certo, então ela acaba saindo de mãos vazias. No dia seguinte ela acaba voltando e escolhe um dos livros que inicialmente não chamou a atenção dela. Ela se senta em um banco na praça para ler o livro, que conta a história de uma maldição.

Hatley era uma cidade em que uma tribo contava a presença de vários seres mágicos, como fadas e faunos e todos viviam em paz com os humanos. Todos da tribo estavam acostumados aos seres e todos tinham muito respeito. Um dia, um ser feito de areia apareceu e tentou matar todos os habitantes da tribo, humanos e seres mágicos, e quando não conseguiu o que queria, jogou uma maldição sobre todos.

O chefe da tribo então dedicou parte de sua a achar algo que quebrasse essa maldição, e em certo momento descobriu que poderia guardar os seres mágicos em algo parecido com a Caixa de Pandora. Ele precisava proteger seu povo, e sabia que infelizmente, depois de muitos seres mágicos terem morrido na luta, o melhor a se fazer era mantê-los longe do nosso mundo. Pesquisando mais, ele decretou que os seres não ficariam presos para sempre, pois em algum momento viria alguém para libertá-los. Alguém iria achar a caixa, e depois de libertar todos os seres, iria liderar o exército da tribo contra o exército negro, composto por vários demônios, que tinha como chefe o ser de areia.

Rebecca ficou um bom tempo pensando nessa história, andando pela cidade, e acabou se perdendo. Depois de perceber que realmente não sabia ir embora, ligou para sua mãe pedindo que ela a buscasse, e então ela viu coisas que certamente a fariam acreditar que ela estava louca. Um lobo enorme saindo da floresta com a intensão de mordê-la, provavelmente matá-la. E então algo ainda mais insano acontece: um outro lobo a protege, luta com o primeiro até que consiga matá-lo, e então vai embora, como se nada tivesse acontecido.

"E apesar de todos os sons maravilhosos que a natureza tinha a nos oferecer naquela noite, o silêncio que fazíamos era diferente. Não estávamos apreciando, estávamos nos contendo para não nos falarmos. Esse era o pior tipo de silêncio."

Tudo isso acaba sendo coisa demais para ser processada, e ela resolve não contar a ninguém, pois certamente a chamariam de louca. Ela resolve então focar seus pensamentos e suas forças em descobrir quem é o menino que a estava observando durante o intervalo. E ela descobre. Felipe. Um menino que vai chegar em sua vida sem permissão, fazendo com que ela comece a crer em coisas antes inacreditáveis e viva coisas que nunca pensou em viver. E o mais importante: o menino que afirma que a história do livro é real, e ele já encontrou a pessoa destinada a salvar Hatley.




















Nesse resumo parece ter muita informação, mas não é nem um quarto do que acontece no livro. Não quero falar muito por que creio que falar demais estragaria total a experiência. Eu gostei muito de ter entrado nessa leitura sem ter conhecimento do que a história abordava. Apenas sabia que era fantasia e que havia um lobo, o resto foi surpresa total.

Eu amei o enredo do livro. Não é repetitivo, não cansa, a leitura flui e te instiga a continuar lendo. No livro há vários elementos mitológicos com os quais já estamos mais que acostumados, e podem até ser considerados clichê, mas acredite, não são. Primeiramente por que os seres mitológicos, apesar de serem a base da história, não são o foco. A história é focada nas relações pessoais dos personagens durante a corrida contra o tempo para achar a Caixa de Pandora antes que seja tarde demais. E também por que eles são tratados aqui como realmente parte do povo, então por mais que sejam diferentes, basicamente, são tratados da mesma forma que os humano.

Uma coisa que eu amei é que não rola um romance meloso em nenhum momento do livro. Os personagens principais sim sentem atração um pelo outro, mas é uma amizade tão linda, cheia de brincadeiras e tiradas muito engraçadas e creio que esse é o ponto mais forte do livro, conseguir construir um relacionamento que tem sim um interesse romântico, mas que não é meloso. É realmente uma amizade, linda, onde os dois se apoiam e brincam com tudo a todo momento, para que os momentos pesados fiquem mais leves e suportáveis de aguentar.

"— É assim que se descobre se uma pessoa tem ciúmes de você."

Agora quero falar sobre pontos do livro que não me agradaram, e que fizeram com a minha nota não fosse 5. Existem alguns erros de continuidade no início, que não posso falar aqui quais são por que seriam spoilers, mesmo sendo coisas que acontecem no início do livro. Em um momento ela é totalmente cética e nega a existência de todo esse mundo novo, e em poucas linhas, sem uma conversa de convencimento, ela simplesmente diz que aceita e acredita em tudo. Pareceu simplesmente que ela era "maria-vai-com-as-outras" e acreditava em tudo que pedissem que ela acreditasse.

Algo que achei estranho, e talvez não seja um defeito, mas definitivamente não me agradou, foi o drama todo, por parte da mãe, antes de Becca finalmente começar a ajudar o povo de Hatley. Sua mãe não sabia de nada, não poderia saber, então ela não sabia que Rebecca corria risco de vida, então por que agir como se a filha estivesse indo para a câmara da morte, quando ela achava que era um simples passeio? Simplesmente não desceu. Uma coisa que pode ser considerada boba, mas que para mim e provavelmente para os estudantes de psicologia incomoda bastante, é banalização de doenças psicológicas. No livro o termo "bipolaridade" é usado como sinônimo de pessoa que muda muito de opinião. Isso se chama "mudar de opinião", no máximo "falta de caráter", mas NUNCA significa bipolaridade.

São essas as coisas que não me agradaram e que eu posso falar. Teve sim mais algumas coisas, mas seriam spoilers, e não queremos isso aqui. Claro, vou continuar ressaltando os pontos fortes do livro. Eu sempre tenho uma facilidade maior de gostar dos personagens masculinos do livros, por que convenhamos, a maioria das mulheres são retratadas em livros de uma forma tão clichê e batida que é difícil gostar delas. Geralmente quando rola alguma situação que possa causar empatia, em que eu me veja ali, eu começo a gostar mais da personagem feminina, mas como é um livro de fantasia e as situações são bem fora da minha realidade, isso não acontece aqui. O que fez com que eu gostasse mais do Felipe.

Eu gostei muito de todos os cenários do livro, o que é um ponto a mais, pois com fantasia, criar um livro com vários cenários, e todos eles serem agradáveis, não é tão fácil. Não vou dizer onde realmente é, mas meu cenário favorito foi o mais escuro. Creio que quem leu o livro vai entender. Justamente por ser um lugar desconhecido e sem luz.

Creio que o desconhecido desperta mais a curiosidade, não tanto aquela questão de se reconhecer ali, se conseguir se colocar no lugar. O desconhecido é para ser uma aventura, e isso, em fantasia, pode ser muito bem trabalhado, e esse livro é um belo trabalho. Confesso que algumas coisas na revisão, ou na falta dela, me deixaram meio desapontada por que o enredo é muito rico, e ver os erros acabava quebrando o ritmo da leitura.

Livro super indicado. Espero que a autora consiga publicá-lo em alguma editora, pois realmente é uma história muito boa. É um daqueles livros que aquece o coração enquanto você lê. E é possível ver a evolução dos personagens ao longo da história, o que é sempre ótimo. Espero que quem ler tenha uma experiência tão boa quanto a minha. Alguns pequenos detalhes fizeram com que a nota do livro fosse menor, mas são erros que podem ser corrigidos em uma revisão mais cuidadosa, então é um livro que facilmente ganharia as pessoas.




2 comentários:

  1. Fiquei muito feliz com sua resenha! Tanto pelos pontos positivos quanto negativos. Algumas das coisas que não te agradaram no livro eu mesma não me sentiria bem escrevendo hoje, levando em conta que esse livro foi escrito em 2014 e mudei muito de lá pra cá (inclusive, estudando Psicologia hoje, me senti chocada em saber que utilizei o termo bipolaridade de forma tão senso comum, e prometo que mudarei o quanto antes). Espero profundamente que eu consiga uma nova oportunidade de publicação para consertar o que devo consertar e alcançar ainda mais leitores maravilhosos como você. Obrigada pelo feedback, e obrigada pela resenha linda ❤️

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