quinta-feira, 25 de junho de 2020

Resenha: Riacho do Jerimum de Jadna Alana

Créditos da imagem à Amazon


Título: Riacho do Jerimum
Autor: Jadna Alana
Editora: Editora Coerência
Ano de publicação desta edição: 2019
Número de páginas: 400
Onde encontrar: Skoob
Nota: 4,5 / 5


Caíque é um jovem negro, que mesmo vivendo com sua mãe e sua irmã mais nova, se sente muito solitário. Caíque sabe que seu pai desapareceu quando ele nasceu, e se culpa muito por isso, a ponto de não se permitir ser feliz, sempre remoendo esse sentimento de que ele ter nascido foi uma desgraça para sua mãe. E sua mãe parece pensar o mesmo, pois mesmo que não diga isso verbalmente, ela trata Caíque de uma forma muito rude, e raramente demonstra carinho. 

Riacho do Jerimum é um povoado que fica na Paraíba, portanto, é recheado de cultura nordestina, principalmente da cultura nordestina dos interiores. Algumas coisas, principalmente as festividades, são encontradas aqui em Minas Gerais também, principalmente nas cidades rurais. 

O único amigo que Caíque tem é Vicente, um senhor bem idoso, que é muito sábio e sempre tem os conselhos certos. Desde quando Caíque era criança, os dois se veem sempre, e a diversão acontece quando Seu Vicente conta histórias, sejam elas histórias de sua juventude, histórias do Riacho do Jerimum, ou histórias mágicas.

"O tom de sua voz era sepulcral, como se aquela pergunta fosse o gatilho para sua morte."

Uma dessas histórias deixa Caíque bem intrigado, e por vários dias ele fica pensando em tudo que Vicente falou. Há muito tempo, no Riacho do Jerimum, houve uma grande guerra mística. Duas Deusas, Amanaci, Deusa da chuva, e Tifana, Deusa da seca, entraram em conflito. Uma grande seca tomou conta de grande parte da Paraíba, até que um acordo foi feito. Cada uma reinaria por 6 meses do ano. 

Porém as coisas parecem estar mudando. A chuva já deveria ter chegado, e as plantações estão começando a morrer. O maior medo da população é que os animais comecem a morrer também. Caíque não sabe muito bem como, mas sabe que de alguma forma ele está envolvido nessa guerra de Deuses.


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Gostei muito desse livro, de um jeito único! É um livro único, e não tem como negar isso. Ele mistura vários elementos, como a história e cultura paraibana, fadas, elfos, saci e caipora. Algumas pessoas aqui sabem que eu já fui parte de um laboratório chamado Kaipora, justamente por que tem essa visão de proteger a natureza, então eu amei a participação dessa personagem.

"Não se podia confiar plenamente naquelas criaturas, seus rostos belos escondiam a perversidade que havia em sua alma"

A fada protagonista, a que vai guiar Caíque nesse novo mundo, é Aurora, uma Calahyna. Todos os grupos de raças não-humanas correspondem ao que já conhecemos. As fadas são pequenas, delicadas, voam, e trabalham com energias da natureza. Os elfos são bons guerreiros, Caipora é uma guerreira bem nervosa, Saci tem apenas uma perna e ama aprontar com as pessoas. Então nenhum grupo é realmente uma novidade, mas creio que o fato de eles estarem inseridos num cenário paraibano, com Festas de São João acontecendo, torna tudo bem original.

"Os calahynos cultuavam a natureza e naquele momento celebravam por terem a terra para cuidar, as plantas para regar, o ar para respirar, o céu para contemplar"

Eu vou ser sincera com vocês: não me apaixonei pelos protagonistas. Caíque é sempre muito pessimista, sempre se culpa por tudo que acontece, e Aurora é muito orgulhosa, odeia perder e não pede desculpas. Sei que essa é uma fórmula muito usada em fantasias num geral, mas dentro dessa fantasia me incomodou um pouco. Principalmente por que existem personagens, como Vicente, que mesmo em meio ao caos, conseguem ser positivos e animar a história. A melhor amiga de Aurora se chama Diana, e é sem dúvidas a minha personagem preferida do livro. É alegre, sempre vê as coisas pelo lado positivo, mas não ignora a realidade que está em sua frente.

"Às vezes, sentia como se estivesse em uma dança infinita ao mesmo tempo em que sua alma se conecta com a energia da natureza"

Seu Vicente também é um personagem que amei. A sabedoria ancestral colocada em prática é incrível, os ensinamentos dele, os conselhos. É um senhor com quem eu amaria conversar. Todo o enredo da guerra eu achei incrível, amei as reviravoltas, o papel de cada personagem, como cada personagem foi importante de certa forma durante toda a história. A única ressalva na enredo que tenho, é na verdade uma fala, dizendo algo do tipo "os estrangeiros finalmente foram aceitos pelos nativos", e eu realmente não gostei. Estamos no Brasil, um país onde os estrangeiros mataram e continuam matando os nativos, é a pior frase pra se dizer à um indígena. Não sou indígena, mas sou descendente e honro muito o que corre nas minhas veias. Sei da luta, apesar de não fazer parte dela. mas eu não preciso ser indígena pra buscar por coisas melhores para os indígenas, não é mesmo?

"Como os humanos têm coragem de violar algo tão sagrado como a natureza?"

Recomendo muito a leitura de Riacho do Jerimum. É um livro com muita fantasia, muita magia de uma forma natural, muito amor à natureza, muitos conselhos, muita luta, um pouco de drama romântico, e principalmente muita ação. Se você gostou dessa resenha, com certeza vai gostar do livro. Recomendo muitíssimo que leiam, que valorizem mais nossas fantasias nacionais com cenário brasileiro. E claro, que leiam mais mulheres

Um comentário:

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