quinta-feira, 18 de junho de 2020

Resenha: A Princesa Salva a si Mesma Neste Livro, de Amanda Lovelace



Créditos de imagem à Amazon.


Título: A Princesa Salva a si Mesma Neste Livro
Autor: Amanda Lovelace
Editora: Editora Leya Brasil
Ano de publicação desta edição: 2017
Número de páginas: 208
Onde encontrarSkoob
Nota: 4,5 / 5



A Princesa Salva a si Mesma Neste Livro é um livro de poesias feministas bem focada na experiência da autora como mulher. Então mesmo se tratando de uma causa social, o livro não é sobre o feminismo, é sobre o papel do feminismo na vida da autora. Também é um livro de desabafo sobre o relacionamento dela com as mulheres da vida dela. Sobre o quanto ela odiou algumas mulheres e precisou passar por situações ruins para finalmente se curar sobre a mulher que ela é.

"ele prometeu me consertar&me deixou mais destroçadado que eu era antes- mas agora tenho ouro nas rachaduras"

Primeiramente ela fala sobre ela mesma. A relação que ela foi criando com quem ela é. E depois ela passa para as mulheres da vida dela, dando destaque à irmã e à mãe. O que acontece é que a irmã de Amanda se suicidou, e um mês depois sua mãe morreu de câncer. É algo pesadíssimo para carregar, para curar, para conseguir conviver. São duas tragédias que aconteceram uma atrás da outra, sem tempo de recuperação, e ela encontrou na escrita uma forma de aliviar a dor.

"filhos não devem morrer antes dos pais.eu não devia ficar mais velha do que minha irmã mais velha.era para sermos quatro irmãs, não três.você não devia ser uma das cinzas na mesinha de cabeceira da sua mãe.afinal de contas você era aquela que sempre brilhava.- destino é a porra de uma mentira"

Claro que em meio à tudo isso existem poesias mais sociais, mas o foco do livro não é esse. Tenho algumas ressalvas sim, como uma poesia em que ela diz "foda-se a cultura do estupro". Sabemos que as palavras têm muito poder de mudar as coisas, mas eu não creio que uma poesia com essa frase vai ser a nossa salvação. No máximo vai nos levar a discutir a cultura do estupro.

Uma coisa que quero ressaltar: a autora afirma que mulher é quem se identifica como mulher. Qual a importância dessa frase? É importante por que inclui as mulheres trans no debate do feminismo. Mulher trans não é menos mulher do que uma mulher cis. Mesmo se a transição de fato ocorrer aos 70 anos, ela não é menos mulher por isso. Vai sofrer opressão e machismo de uma forma totalmente diferente, mas não é menos mulher.

"se uma casa não é automaticamente um lar,então um corpo também não éautomaticamente um lar.- sempre me senti uma estranha na minha própria pele."

É um livro principalmente das dores que a autora passou por ser mulher: o ódio à outras mulheres no início, o incentivo a falar mal das outras, relacionamentos tóxicos, a perda das principais mulheres de sua vida e como ela se encaixa nisso tudo. É um livro de fácil identificação, mesmo se tratando de temas pesados. Talvez você não tenha perdido sua irmã, ou sua mãe, mas já perdeu uma amiga, uma avó, uma tia querida, e de certa forma você vai conseguir se relacionar mesmo sem isso tudo. A dor da perda não escolhe gênero, nós é que deixamos isso transparecer menos ou mais.



Uma coisa que eu quero destacar é a importância de ela dizer que, basicamente, depois que a pessoa menstrua, todos acham que têm direito sobre o corpo daquela pessoa. Você, que menstrua, já reparou nisso? Seu corpo pode continuar sendo o de uma criança, e não importa qual a sua idade, depois que você menstrua, as pessoas acham que podem te dizer o que fazer com seu próprio corpo.

"paus & pedras nunca quebraram meus ossos,mas palavras fizeram eu me deixar morrer de fomeaté você poder ver todos eles.- pele & osso."

Falando sobre algo pessoal, depois da primeira menstruação, aos 9 anos, as pessoas começaram a falar principalmente que eu já podia engravidar. Não no sentido de querer me forçar a desejar uma gravidez, mas que biologicamente era possível. É uma informação preciosa, mas sempre chegou até mim num tom bem errado. As pessoas me diziam isso como se eu, aos 9 anos, já tivesse que tomar um super cuidado com a minha vida sexual, por que agora eu poderia ficar grávida. Bom, aos 9 anos, isso só aconteceria se fosse forçado, e se fosse forçado, eu dificilmente teria poder o suficiente para parar o cara e pedir pra colocar camisinha.

É uma leitura importante e incrível! Creio que adolescentes, de 13-18 anos vão amar ainda mais ler esse livro, principalmente aquelas que estão conhecendo os movimentos sociais liderados por mulheres. É muito importante que a gente leia esse tipo de livro, que fale de um movimento de maneira pessoal, pois assim conseguimos ver melhor o efeito desse movimento social na vida individual de cada pessoa. Recomendo muito a leitura!

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