sábado, 18 de novembro de 2017
Resenha: Guerra e Paz (Tomo 4) de Tolstói
Título:Guerra e Paz
Título original:Война и миръ
Autor:Liev Tolstói
Editora:Cosac Naify
Ano de publicação no Brasil:2014 (a edição mais famosa)
Número de páginas:2536 (A edição com os 4 tomos,se dividirmos,cada tomo teria cerca de 634 páginas)
Preço:R$ 95,20
Paguei:R$ 00,00 (Baixei o pdf,vocês podem baixar o terceiro e quarto tomo aqui)
Nota:5/5
Essa resenha é sobre o último tomo de Guerra e Paz, portanto conterá spoilers sobre os volumes anteriores. Caso esteja procurando as outras resenhas, clique nos nomes. Primeiro tomo / Segundo tomo / Terceiro tomo.
O livro começa com uma festa na casa de Helena, conhecida por dar grandes festas. Ela faz algo quase inédito na Rússia, anula o casamento com Pedro, ou Pierre, e recebe dois pedidos de casamento. Como ela não sabe qual homem escolher, ela escolhe os dois, e apesar dos olhares e das fofocas, ela não parece se importar muito. Mas ela fica doente, e as pessoas começam a dizer que a doença é um castigo por ela ter se casado com dois homens.
"... como se em verdade pudesse haver regras para matar criaturas humanas."
Moscovo, ou Moscou, foi abandonada pelos russos. Alexandre, o soberano, não gostou disso e sua raiva chegou a ponto de pensar em fazer coisas horríveis, mas ele sabe que primeiro precisa ver o que vai acontecer, precisa fazer com que as outras cidades não sejam abandonadas, e precisa, principalmente, fazer com que a Rússia ganhe a guerra. A guerra está estourada, os soldados morrem aos montes, e vários russos começam a ser feitos prisioneiros, porém não fazem prisioneiros. O exército russo se comprometeu a matar todos os franceses inimigos, e não fazer nenhum prisioneiro.
"Napoleão, que nos é apresentado como o dirigente de todo este movimento, na realidade, durante todo este período da sua vida, foi apenas a criança que, agarrada às correias do interior de um carro, julga estar a dirigido"
A Rússia não tem nenhuma intenção de se render. Alexandre diz que prefere perder todos os soldados russos à assinar a derrota, pois é bem mais do que algo pessoal, é sobre o orgulho russo, sobre o que todos os cidadãos estão sentindo, e vemos ao longo de livro que realmente ninguém tem a intenção de desistir. Mesmo nos momentos mais difíceis os soldados continuam lutando pela pátria, para que a Rússia não tenha seu nome manchado.
"Pretender-se que a vida dos homens seja sempre dirigida pela razão é destruir toda a possibilidade de vida."
Agora passando para a paz... Nikolai ou Nicolau Rostov vai até uma festa onde a princesa Maria também está presente, e ali os dois conversam bastante, e Rostov percebe que realmente gosta de Maria, mas tem medo de um possível casamento, principalmente por que a condição financeira de sua família não está boa, e ele tem medo que Maria pense que ele quer o casamento apenas por dinheiro. Por outro lado, Maria sabe que gosta dele, mas não tem certeza se seria bom se casar com o irmão de Natacha, que desonrou seu irmão André há pouco tempo.
Como a paz no livro não dura muitas páginas, também acompanhamos a jornada de Andrei, ou André, que está na casa dos Rostov. Ele foi seriamente ferido na guerra, nenhum médico acredita que ele consiga viver mais do que algumas semanas, e mesmo ele estando dentro de casa, sendo tratado e alimentado, todos conseguem ver que ele não aguentará muito tempo. Durante todo o tempo Natacha fica ao lado do amado. Natacha perde perdão à ele, com gestos e olhares, e ele a perdoa da mesma forma. Os dois entender que cada momento juntos pode ser o último, e fazem o possível para que tudo seja agradável, então Natacha costuma ficar ao lado dele enquanto ele dorme, e também lhe dá de comer.
"Está nu e assim mesmo dá-me as sobras."
A princesa Maria fica sabendo, por meio de uma carta que Sonia enviou para Rostov, que André está na casa dos Rostov e vai imediatamente para lá, levando Nikolutcha, o filho de André, consigo. O reencontro de Maria e Natacha é pura tristeza. Maria se preocupa com qual será sua reação ao ver uma mulher que ela considera uma traidora, mas quando vê a tristeza no rosto de Natacha, ela percebe que as duas estão sofrendo, e que criar inimizades naquele cenário seria loucura. As duas passam a se falar mais e a acompanhar André em todos os momentos.
Como os moscovitas incendiaram a cidade, as tropas francesas, ao entrarem na cidade, não puderam saquear tanto quanto pretendiam. Eles conseguiram sim saquear várias casas e levar coisas preciosas, mas foram poucas, basicamente as casas dos nobres que não queriam ter suas casas queimadas. Lembrando de que os moscovitas incendiaram as próprias casas para que os franceses não tivessem mantimentos e morressem de fome e frio durante a guerra.
"As batalhas, seja a de Tarutino, a de Borodino ou de Austerlitz, nunca decorrem segundo as previsões daqueles que as dirigem. Eis um facto essencial."
Apesar de os franceses não sentirem o impacto assim que chegam, aos poucos eles percebem que a comida está acabando, que não há lugar para todos dormirem, e que alguns vão ter que dormir lá fora, no inverno russo, e passar fome, provavelmente até morrer. Em meio à todos esses conflitos é que o quarto e último tomo de Guerra e Paz se inicia.
Esse tomo foi de tirar o fôlego! Quase não houve tempo para respirar, assim que algo acabava, alguma outra coisa já começava a acontecer, isso quando não aconteciam várias coisas ao mesmo tempo.Eu tenho uma certa dificuldade de gostar das partes que narram a guerra, por que sempre têm detalhes técnicos demais sobre coisas do exército e eu acabo ficando meio perdida, e sempre tenho que ficar fazendo pesquisas no meio da leitura, mas nesse tomo isso não me incomodou tanto, provavelmente por que eu já estou acostumada com a linguagem do autor, e por que já se passaram muitas batalhas até chegar no quarto tomo. No início do tomo, na preparação da guerra, quando as coisas ainda não estavam realmente quentes, quando ainda não estavam narrando as batalhas, mas narrando os preparativos, eu achei chato, mas assim que a guerra começou de fato, eu comecei a gostar mais.
Esse foi o tomo que a descrição das batalhas mais me agradou, por ter sido bem mais brutal e cru do que foi anteriormente. Numa guerra é comum ver corpos mutilados espalhados pelo chão, é normal várias pessoas morrerem, e algumas ficarem gravemente feridas, e claro, é comum haver prisioneiros de guerra, e aqui nós conseguimos ver tudo isso. Isso já vinha acontecendo nos outros, mas nesse tomo a brutalidade foi algo que me agradou bastante. É brutal, mas não ao ponto de incomodar os leitores mais sensíveis, então mesmo que você não goste tanto assim de cenas com sangue e feridas, você vai gostar do livro. Mas já fica o aviso de que existem cenas bem fortes no livro, apesar de não aparecerem a todo momento, elas podem causas um certo incômodo enquanto você as lê.
"Um grande terror se apoderou dele, mas ao mesmo tempo sentia que, enquanto esta força procurava esmagá-lo, outra, poderosa e independente dela, espécie de energia vital, crescia e lhe fortalecia a alma."
Esse tomo foi inteiro tomado por fortes emoções. Nos tomos anteriores era comum ver as pessoas fazerem festas enquanto seus maridos, pais e filhos estavam na guerra, mas dessa vez, como a guerra alcançou a capital, várias pessoas tiveram que se mudar para São Petersburgo e para as cidades vizinhas, não por opção, mas por desejo de sobreviver. Aqui não houveram muitas festas, dá para contar nos dedos, e mesmo assim não eram tão animadas quanto antes, já que aqui a maioria dos personagens principais estão diretamente envolvidos com a guerra.
Também foi o tomo que mais me fez sofrer, de verdade, com o sofrimento dos personagens. Eu cheguei a chorar em alguns momentos, não de as lágrimas rolarem, mas de o olho ficar lacrimejado. Os personagens sofrem a todo momento, principalmente os núcleos principais: Bezukov, Rostov e Bolkonski. Todos eles sofrem coisas horríveis, alguns passam por doenças, outros por torturas, todos passam pela guerra e todos passam por muitas aflições por causa da guerra, um sofrimento realmente sofrido, sabe? Não é mais aquele sofrimento causado por perder dinheiro, ou perder terras, ou ter que vender terras por causa de dívidas, mas um sofrimento real, que muitas famílias sentem durante períodos de guerra.
"O silêncio à volta deste homem é a mais evidente prova dos seus méritos."
A última parte do livro, o finalzinho, é dedicada a explicar algumas coisas, e se preparem, por que essa parte é meio teórica, e ao meu ver, foi chato. Ali é explicado o que é poder e a relação de poder que as pessoas têm sobre as outras, claro, sempre levando para o lado da guerra. Apesar de ser um texto que achei chato por parecer didático, uma coisa interessante dita ali é que quanto mais poder você tem, menos você luta. Por exemplo, o soberano Alexandre não teve que passar pelo perigo real da guerra, pois ele tinha poder para mandar outras pessoas irem em seu lugar.
"A grandeza parece excluir a possibilidade de apreciar o bem e o mal. O mal não existe para o que é grande. Quem é grande nunca poderá ser acusado de uma maldade."
Uma coisa super legal é que no final há um texto com cerca de 10 páginas, escrito pelo Tolstói, que fala sobre a construção do livro, sobre as pesquisas que foram feitas, sobre alguns erros que ele deixou passar, sobre a guerra e sobre vários dos personagens, pois muitos personagens foram inspirados em pessoas reais. É um texto ótimo, principalmente para quem gostou do livro.
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