quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Resenha: Guerra e Paz (Tomo 3) de Tolstói




Título:Guerra e Paz
Título original:Война и миръ
Autor:Liev Tolstói
Editora:Cosac Naify
Ano de publicação no Brasil:2014 (a edição mais famosa)
Número de páginas:2536 (A edição com os 4 tomos,se dividirmos,cada tomo teria cerca de 634 páginas)
Preço:R$ 95,20
Paguei:R$ 00,00 (Baixei o pdf,vocês podem baixar o terceiro e quarto tomo aqui)
Nota:5/5




Essa resenha é sobre o TERCEIRO TOMO de Guerra e Paz e conterá spoilers sobre os dois tomos anteriores, portanto só leia se já os tiver lido. Caso queira a resenha do primeiro tomo, clique aqui. Caso queira a resenha do segundo tomo, clique aqui.


Aparentemente a amizade entre Alexandre e Napoleão não durou muito tempo. Já no início do terceiro tomo os personagens estão em clima de guerra por causa de um mal entendido e muitos dos soldados recrutados nem mesmo sabem o motivo real de estarem iniciando uma nova guerra.

"Os homens do Ocidente puseram-se a caminho do Oriente para se chacinarem uns aos outros."

Vamos falar primeiro de coisas mais pessoais dos personagens e depois entrar na parte da guerra. Pedro, ou Pierre dependendo da sua edição, está apaixonado por Natacha. Natacha está livre por causa daquele escândalo todo que aconteceu entre ela, André ou Andrei dependendo da sua edição, e Anatole.E Pedro acaba se interessando bastante por ela, mas logo percebe que aquele relacionamento não seria possível. Natacha era noiva de André, e André é amigo de Pedro, seria uma traição, não seria?


Depois vamos para as intrigas de André. Ele descobre onde Anatole está, e pede para ser mandado para aquele lugar. Os dois fazem parte do exército há alguns anos,e por André ser de uma posição elevada, ele consegue ir para onde quer, pelo menos naquele momento. Mas chegando lá ele fica sabendo que Anatole foi transferido e que infelizmente seus planos de ir tirar satisfações com ele e desafiá-lo para um duelo terão que ser adiados. Isso claro, se eles sobreviverem à guerra.

"Estava nesse estado de irritação em que as pessoas têm necessidade de falar, de falar, de falar sempre, apenas para provarem a si próprias terem razão."

Antes de irem para a guerra propriamente dita, os príncipes e condes fazem uma reunião onde eles podem opinar e onde ficarão sabendo das decisões do soberano para a guerra. Como é comum quando isso acontece, as pessoas querem ajudar de qualquer forma, umas querem doar dinheiro, outras querem mandar seus camponeses e criados para servirem ao exército e outras querem doar suas próprias vidas à fim de servir a pátria, mas sabemos que nem sempre tudo é como queremos que seja, e por mais que todas aquelas pessoas tivessem boas intenções, nem tudo vai sair como planejado.

"... a simplicidade, a força daquela espécie de pessoas no seu espírito catalogadas sob o nome genérico de <eles>."

Então entramos nos preparativos da guerra. Começamos vendo como as tropas francesas estão se preparando, sobre as táticas e sobre os soldados. E claro, sob o que Napoleão pensava sobre aquilo tudo, e tenho que dizer que aqui, Tolstói fez um napoleão bem diferente do que a maioria dos livros costuma falar sobre. Aqui Napoleão é frio, ele apenas quer vencer a guerra e não se importa muito pra quem vai morrer, e inclusive, em Guerra e Paz, Napoleão não parece saber muito bem como comandar um exército, pois em vários momentos a situação vai sair totalmente fora do controle dele.

"Nos factos históricos, esses a quem se dá o nome de grandes homens não passam, no fundo, de etiquetas para designar o acontecimento. Aqueles têm tão pouca relação com tais factos como as próprias etiquetas que lhes pões."

Depois temos a preparação da tropa russa. Como Tolstói é russo, obviamente ele conta a preparação das tropas de modo que faz parecer que as tropas russas são mais organizadas e que perderam as batalhas que perderam por causa de decisões precipitadas enquanto a guerra já estava acontecendo. Uma coisa interessante que é falada, é que enquanto a guerra está acontecendo, ninguém sabe muito bem o que fazer, ninguém sabe,com certeza,onde e quem errou, ou o que poderia ter sido feito de uma maneira diferente. Ou seja, o que aconteceu nas tropas francesa, era culpa e burrice dos franceses, mas o que aconteceu nas tropas russas, eram pequenos descuidos ou situações inevitáveis.

"É muito possível que para que o acontecimento se produzisse tivesse sido preciso o encontro de todas estas causas, de milhares de causas, o que só quer dizer não haver causas exclusivas e que as coisas acontecem porque têm de acontecer."

Todos os personagens estão relacionados à guerra de alguma forma. Ou foram mandados para o combate, ou são comandantes, ou têm algum parente na guerra. Os Rostov são uma família que estou bem envolvidos na guerra, Nicolau, vai para a guerra e Natacha fica em casa doente, seus pais super preocupados por que ela não melhora nunca.

"Esta será, porém, a nossa última separação, podes crer: assim que a guerra acabar e se eu for vivo e tu ainda me quiseres, deixarei tudo e correrei a apertar-te para sempre contra o meu coração fervoroso e apaixonado."

E em meio à esse caos, o conde Bolkonski, pai de André, acaba ficando mais adoentado também. As preocupações da guerra, o fato de André ter desmanchado um noivado a pouco e tempo e já ter ido para a guerra, mesmo que como comandante do seu regimento, é algo assustador, e o conde, por já ter participado de guerras, acaba não lidando com isso muito bem. A princesa Maria fica mal com tudo isso. Ela ficou, não feliz, mas aliviada quando André terminou com Natacha, simplesmente por ser egoísta. Já que ela não tinha conseguido um namorado, André também não deveria conseguir, e deveria cuidar do filho sozinho.

"Qui s'excuse s'accuse."

A partir daí começamos a acompanhar os personagens na guerra e a acompanhar o que os que ficaram em casa estão recebendo como notícia. Nem sempre o que chega até os ouvidos da aristocracia é o que realmente está acontecendo, e muitas vezes aumentam a situação para algo quase irreal. Todos sempre têm esperança de que a Rússia sairá como vencedora mesmo em meio à grandes ataques e ao caos, e mesmo perdendo boa parte do exército para a morte e para feridas que podem ou não ser mortais.


"Mas não esse amor que se sente por alguma coisa e por alguém, mas o amor como eu o senti pela primeira vez quando, no limiar da morta, se me deparou o meu inimigo e o amei."


Confesso que por esse tomo quase inteiro se passar ou se focar bastante na guerra, eu fiquei meio desanimada nas primeiras páginas. Até o momento em que começaram a focar mais nas histórias individuais, eu estava achando meio desinteressante. Não estava sendo uma leitura chata, mas não estava me prendendo. A primeira parte do livro toda foi assim, e foi sem dúvida as páginas mais difíceis de serem lidas.

"Outrora, Rostov, antes de um combate, tinha medo; agora não sentia o mais pequeno receio. Não porque se tivesse acostumado à metralha (ninguém pode habituar-se ao perigo), mas aprendera a dominar a alma."

Mas assim que essa parte mais explicativa sobre as táticas de guerra foram dando lugar às histórias mais pessoais dos personagens, eu comecei a achar maravilhoso. Guerra e Paz é um livro que não tem como acha ruim. Até mesmo nas partes mais chatinhas do livro tinha algo interessante, algo proveitoso, nem que fosse proveitoso para as pessoas que gostam do exército ou de guerras.


Essa guerra foi bem violenta. Não me lembro de tanta descrição e de tantos detalhes nos outros dois tomos. Os detalhes sempre deixam qualquer batalha, de qualquer livro, mais brutais e mais triste também, principalmente quando acontece alguma coisa com algum personagem que gostamos, ou que conhecemos. E ver a frieza com que o generais tratavam o número de mortos e/ou feridos foi uma coisa triste de se ver.

"Já que temos de morrer, bom, então que me matem... amanhã... que eu desapareça... Que tudo isto continue a existir, mas para mim tudo acabe."

Não posso falar muito sobre emoções por que muita coisa do que eu senti foi relacionado à coisas que seriam spoilers, e como essa resenha é sem spoilers sobre o terceiro tomo, eu prefiro não falar. Mas saibam que tristeza e apreensão foram sentimentos bem presentes em boa parte da leitura.


Posso apenas falar que nesse tomo, a história que mais me interessou foi a de Natacha. Achei muito emocionante e triste ao mesmo tempo. Ela estava super confusa, mas sempre mantinha a esperança de que tudo ficaria bem, assim como a maioria das mulheres que tinham parentes combatendo. Inclusive Tolstói diz que a maioria das mulheres tinham pensamentos iguais e mais ligados à emoções, e que os homens tentavam ser racionais. Tentavam.

"Não sou homem para ser ingrata."

A versão que eu li, como eu disse no início da resenha, é em PDF, e já deixo aqui bem avisado de que há vários erros de digitação no livro. O livro é em português de Portugal, então se encontrarem palavras como "factos" e coisas assim, não se assustem, está correto, é só que a gente não usa essa palavra com essa grafia aqui no Brasil. Fora que eles não falam Moscou, falam Moscovo, já que, pelo menos na época em que o livro foi escrito, era mais comum falar Moscovo em Portugal.

"A intervenção do fatalismo na história é inevitável para explicar estas manifestações desprovidas de sentido, ou, antes, cujo sentido nos não é dado compreender."

Caso você não seja familiarizado com o português de Portugal, em alguns momentos você vai precisar consultar o dicionário para saber o que aquilo significa. Há algumas partes do livro que estão em russo ou em francês, mas logo após a frase há a tradução. No livro físico há várias partes em francês e algumas em russo e as traduções estão no rodapé da página, então não há problemas quanto à isso.


Recomendo que, se você puder comprar uma edição física do livro, compre. A letra do PDF é bem pequena, e pra quem não está acostumado com E-readers pode ser bem ruim. Como a folha do pdf é bem branca e as letras são pequenas, é fácil ficar com dor de cabeça, por isso não recomendo essa edição caso você tenha que ler vários capítulos de uma vez. Sei que Guerra e Paz é um livro caro, não importa em qual edição tu compre, mas é preferível que você leia a versão física, já que provavelmente as páginas vão ser amareladas e as letras maiores, fazendo com que a leitura seja mais fácil no sentido de não fazer mal aos seus olhos.

"Quando nos cortam a cabeça, não vale a pena chorar a perda dos cabelos."

Como sempre, Tolstói não decepciona! Eu estou adorando ler Guerra e Paz e estou muito feliz por que agora estou na reta final da leitura e creio que até o final de setembro já vou terminar de ler o quarto e último tomo do livro! Leitura mais que recomendada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário