Vi dois vídeos (
Sobre corpo &
Pequenas aceitações diárias) da Nátaly Neri e fiquei refletindo sobre eles por alguns dias, e cá estou eu, fazendo esse texto.
Primeiramente vou falar um pouco sobre o primeiro vídeo. Corpo é o que nos faz existir como pessoas. Sabe quando as pessoas falam "eu tenho alma de leão" ou de qualquer outro animal? Talvez possa até ser verdade, mas você tem o corpo de um ser humano. O seu corpo serve apenas como uma casca, uma proteção para a sua alma, para o seu espírito.
Já reparou que quando alguém morre, é comum dizer "é, não somos nada, depois a terra leva tudo"? Pois é realmente isso. Nosso corpo é finito, ele morre alguma hora, mas não necessariamente nossa alma morre junto com ele. Então por que não cuidar da alma, para que o cuidado da alma transpareça no corpo?
Sim, cuidar do corpo é importante. Ninguém quer perder algum membro por um pequeno descuido, ou por algo que poderia ser evitado. Ninguém quer ter queimaduras, seja de fogo ou de sol. Ninguém quer ter alguma doença que mata. Todos queremos viver o máximo possível com saúde. Mas saúde é algo que vai além do que vemos por fora. Primeiramente, de nada adianta querer cuidar do corpo e não cuidar do psicológico, não dá certo. Quando tentamos fazer isso, alguma hora nosso psicológico quebra, não aguenta e acabamos deixando o cuidado com o corpo de lado para tentar colar o psicológico com cola barata.
Corpo é o que permite que você toque outras pessoas, é o que permite que você seja tocado. É o que permite abraços, beijos, sexo. É o que permite gritar e ser ouvido, é o que permite olhar e ser olhado. Precisamos de um corpo. Precisamos de um corpo saudável. E o que é um corpo saudável? Simples, um corpo sem doenças, e principalmente, um corpo no qual você aprenda a se sentir bem.
Boa parte das mulheres não gostam dos seus corpos, boa parte delas tentar se moldar para ficar mais parecidas com alguma das outras mulheres que elas acham ser perfeitas. Ninguém é perfeito. Essa pessoa que serve de modelo para você hoje tem problemas, todos temos. Essa pessoa pode ser incrivelmente linda e saudável por fora, e ter a alma quebrada.
Não estou dizendo que cuidar do corpo não é importante, como eu disse, é o corpo que nos faz viver, então precisamos cuidar para que ele continue funcionando. Mas temos que mantê-lo saudável. Não adianta querer emagrecer e ficar anêmica, assim como não adianta querer coxas mais grossas e acabar rompendo algum ligamento por excesso de treinamento físico. Faça tudo dentro do limite, do seu limite. Não tenha o limite dos outros como exemplo, conheça o seu corpo e o limite dele, e não passe daí, você não precisa passar, acredite.
Corpo é algo que deve fazer você sentir prazer, ele foi feito para isso, portanto, não se preocupe demais com alguns quilos a mais, ou com suas pernas finas. Com seus olhos muito grandes, com sua boca pequena ou com sua boca carnuda. Não se preocupe com suas pernas tornas, seus joelhos estranhos, seu nariz gordinho, seu nariz empinado, sua testa grande, suas orelhas de abano. Não se preocupe com seus dedos estranhos, com seu pé grande, com seus seios pequenos, e nunca, nunca mesmo, se preocupe com a cor da sua pele.
A cor da sua pele não deve fazer você se sentir inferior à ninguém, seja por ser branco demais, ou preto demais, não se preocupe com isso. Apenas se abrace, abrace a sua causa, abrace o mundo, mesmo que ele não te devolva esse abraço. Faça o mundo ver que você ama o seu corpo, que é feliz com ele, e que ele te representa, que ele representa a sua alma. Seu corpo é uma tela, você pode enfeitá-lo, pintá-lo da forma que achar melhor.
Se o que te faz sentir bem é ter o corpo cheio de tatuagens, tatue. Se o que faz você se sentir bem é um cabelo colorido, colora. Se você se sente bem com o cabelo volumoso, dê volume. Quer colocar lentes de contato coloridas? Coloque! Seja feliz, seja você mesmo! Ame o seu corpo, pois é ele que te faz sentir tudo à sua volta, é ele que permite que você existe, é ele que permite que você seja você e que seja única.
Agora falando sobre o segundo vídeo. Por muito tempo, eu, Isabella, não usei certos tipos de roupa por que eu queria esconder algo no meu corpo. Eu não vejo nada de mau em você, por exemplo, não gostar do seu quadril e usar roupas que fazem com que ele parecia mais o que você gostaria que ele fosse, mas passa a ser doentio a partir do momento em que você ama uma peça de roupa, mas só compraria se você tivesse pernas mais grossas, ou mais fina, ou se tivesse mais ou menos peito.
Por muitos anos, eu apenas usei roupas que escondiam meu corpo o máximo que eu conseguia, e devo dizer que nem sempre tinham o efeito esperado. Até meus 12 anos eu tinha um corpo legal, mas depois aconteceu um episódio traumático na minha vida e eu comecei a engordar horrores. Ainda não estou no meu peso ideal, bem longe disso inclusive, mas me acho linda como sou.
Não vou mentir, tem dias em que eu me olho no espelho e só consigo pensar "gorda", mas na maioria dos dias eu me acho a pessoa mais gostosa do mundo, e amo me achar linda, por que se eu não me sentir linda, as pessoas não vão ver beleza em mim. Então, o primeiro passo é se achar linda, mesmo que não seja todos os dias, mas se ache linda. Repita como um mantra "sou linda(o)" todas as vezes em que você for sair de casa, ou tirar fotos, enfim, se ache linda a todo momento.
Eu me achava muito gorda, e hoje, mesmo estando apenas cerca de 3kg mais magra, ou menos gorda, do que no ano passado, me acho belíssima, por que agora eu sei me amar de verdade. Eu não usava nada que mostrasse demais as minhas pernas, por que eu acha elas grossas demais, então short, saia e vestido eram peças que nem existiam no meu guarda-roupas. Não gostava dos meus braços gordinhos, então não usava peças sem manga. Não gostava dos meus seios, então não usava decotes.
Hoje eu tenho alguns shorts e não tenho vergonha de sair com eles, tenho várias saias e vários vestidos e amo usá-los em qualquer ocasião, por que sinto que minhas pernas são lindas. Continuo preferindo pernas mais finas, mas eu sou bem o padrão brasileiro: pernas grossas, peito grande e bunda grande. Então enquanto eu não emagreço, vou valorizar o corpo que eu tenho.
Eu continuo não tendo muitas blusas sem manga, mas uso as que eu tenho, e não ligo tanto quanto ligava antes. Claro que ainda têm dias que bate aquela neura e eu só saio com manga longa, mas esses dias estão sendo cada vez mais raros. Ah, antes eu também usava moletom pra esconder as gordurinhas. Hoje em dia eu sinceramente nem ligo mais pra isso. Não vou ficar escondendo meu corpo. Não saio por aí pelada, ou com roupas muito curtas (e nada contra quem sai assim), mas não vou deixar de usar um vestido só por que "marcou a gordurinha".
Não vou mentir, não mudei meu estilo nem nada do tipo, só abri mais espaço para peças de roupas diferentes. Continuo amando usar legging e blusas enormes e largas, me sinto mais livre nelas. Não preciso ficar me preocupando em sentar com as pernas fechadas ou se o vestido/saia está subindo. Amo legging, primeiramente por que me dá liberdade para me movimentar, por que é confortável, e legging era a única peça de roupa na qual eu sempre me senti sexy, ou pelo menos bonita. O que é estranho, já que eu não gostava das minhas coxas grossas. Vai entender...
Eu só usava roupas pretas ou bem escuras, por que sempre me falaram que "preto emagrece". Hoje em dia, confesso que continuo usando bastante preto, mas agora uso mais roupas azuis, que é a minha cor favorita da vida, roupas em tons de vermelho, marrom, e às vezes rola até roupas lilás e rosa. Claro, roupas mais acesas continuam não sendo coisas que fazem eu me sentir confortável, mas pelo menos agora eu sei que é questão de estilo mesmo, não questão de usar uma cor só, por que é a cor que te "emagrece".
Eu continuo não usando decote, acho chamativo demais, provavelmente pelo fato de eu ser cristã, mas não fico mais naquela neura de tentar esconder os peitos. De colocar roupas largas pra não marcar, de usar blusas pretas, muitas vezes, mais pra esconder os peitos do que para "emagrecer". Não sou fã de usar roupa muito colada, me sinto sufocada, mas quando gosto dela, uso sem medo.
Hoje meu corpo é meu amigo. Brigamos às vezes, não vou negar isso, seria mentir, mas eu me sinto bem com ele, sinto orgulho do que ele é, mesmo que ele ainda não seja meu corpo ideal. Eu sempre tive sorte pelo fato de eu quase sempre engordar nas pernas e na bunda,e engordar pouco na barriga, então agora eu tenho valorizar meu corpo. Não é sempre, tem dias que eu gosto mesmo de usar roupa largona, roupas de vó, aquelas blusas que parecem vestidos e uma legging por baixo.
Às vezes eu saio de casa com umas roupas que, pai amado, como me deixaram sair com aquilo? Mas eu saio de casa feliz com meu corpo, feliz comigo, feliz pelo que eu sou. Sim, ainda tenho inseguranças e sei que vou tê-las por mais um bom tempo, mas estamos trabalhando nisso todos os dias. Eu me acho linda e tento levar esse mantra comigo sempre. Eu sou linda. Mesmo que as pessoas não achem, mesmo que meu corpo não seja padrão de passarela, mesmo que eu não esteja nas capas de revista.
Meu corpo é o que me faz sentir, e eu quero sentir apenas coisas boas, ou pelo menos reter apenas as coisas boas. Quero que as coisas boas tomem lugar e que sejam maioria. Quero poder tirar a blusa de frio quando sentir calor, sem medo do que as pessoas vão achar das minhas gordurinhas ou do meu braço gordinho. Quero poder não morrer de frio por que tal moletom me deixa mais gorda. Quero poder sentir as coisas como elas devem ser sentidas, sem complicações, sem neuras. Afinal, um corpo é um corpo.