sábado, 30 de novembro de 2019

Do mês: Novembro / 2019

Frase do mês
"そばにいるよ、ずっと". Estarei ao seu lado, sempre. Frase da música From Now On, do SHINee.


Música do mês
Hallelujah, do Jonghyun. Tudo que esse homem fez é perfeito, recomendo qualquer música. Mas essa aqui... nossa senhora, isso evoca uma sensualidade que é quase um crime ouvir essa música.


Série do mês
Big Mouth. É animação, tem muita putaria, tipo muita mesmo. Fala sobre crianças entrando na puberdade, então é muita putaria MESMO. É uma série da Netflix.


























Canal do mês
Gaby Brandalise. E acho que tá bem nítido que voltei a ouvir kpop, ne? É isso mesmo! Não sei se vou falar muito disso aqui no blog, mas certamente falarei disso no canal e nas minhas redes sociais. A Gaby fala sobre kpop, mas também fala muito sobre escrita, e por causa desses vídeos, até comecei a escrever um livro!


Livro do mês
A Cor Púrpura, de Alice Walker. Uma mulher preta falando sobre uma mulher preta.



Inspiração do mês
Kim Jonghyun. Ele foi o que mais me inspirou, e agradeço à Deus por isso.


Foto do mês
A filha de Oxóssi quando tá no mato não quer guerra, ne?





quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Resenha: Helena, de Machado de Assis

























Título: Helena
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil: 1876
Número de páginas: 139
Onde encontrar: Skoob
Nota: 5 / 5


Helena é um romance de Machado de Assis. O pai de Estácio morre, e deixa um testamento dizendo que tem uma filha bastarda, Helena, e que ela deve ir morar na casa da família e receber todos os direitos que tem como filha. Dona Úrsula, tia de Estácio, não concorda com isso, recebe a menina com mau gosto e de início, faz o possível para que Helena se sinta mal e saia dali. Úrsula tem medo que a reputação da mãe da menina (que nem se sabe quem é), manche o nome da família.

Helena é uma jovem muito bondosa, trata a todos com muito amor e carinho. Dona Úrsula certo dia fica doente, e quem vai cuidar dela com afinco é Helena. Durante esse período, Helena também estreita laos com Estácio. Começa a passear com ele à cavalo, mostrando que sabe muito bem como domar o animal, e conversando sobre sua vida atual com o meio irmão.

"Não será amor como você quisera que fosse, mas é o amor que ela lhe pode dar, e é muito..." Página 63

Após o período de doença, Úrsula começa a ver Helena com outros olhos, e vai entendendo que, mesmo que a reputação da mãe da garota seja ruim, Helena não é sua mãe. Helena é uma mulher inteira, completa em si mesma. E em vários momentos ela vai fazer questão de mostrar que ela é uma mulher decidida, que não aceita injustiças, e que sempre resolve as coisas com amor, da melhor maneira que pode.

Ela vai conquistando seu espaço na família, e na vida pessoal de cada pessoa. Vai se soltando e mostrando mais de si mesmas. Mas como toda pessoa, Helena também esconde segredos.

"Alguns segundos antes era sincera a melancolia que lhe ensombrava o rosto. Agora regressara à jovialidade de costume. Dissera-se que a alma da moça era uma espécie de comediante que recebera da natureza ou da fortuna, ou talvez de ambas, um papel que a obrigava a mudar continuamente de vestuário" Página 32.

Até agora, depois de mais de um ano e meio de Projeto Machado de Assis, esse foi o livro que eu mais gostei de ter lido! Pelo menos dos que foram escritos pelo Machado de Assis. É a primeira vez que gosto tanto de algo que ele escreveu. Isso por que Helena é um livro, com uma protagonista mulher, que não coloca a mulher em posição de submissão.

Helena é obediente aos mais velhos e tenta agradar todo mundo, mas também sabe se impôr quando percebe que é necessário. Helena luta pelo bem daqueles que ela ama com muita devoção, como se ela dependesse de cada pessoa para continuar viva. Os momentos finais do livro me emocionaram de maneiras indescritíveis, e me surpreenderam muito também.

"O desespero comprimido tumultuava no coração, prestes a irromper" Página 60.

Um dos motivos que me levou a gostar muito do livro é que o final é realmente surpreendente, em momento algum da leitura eu pensei que aquilo fosse acontecer. É um livro muito bem escrito, e para os que gostam de romance de época com personagens masculinas fortes, esse livro é pra você!

"Não são idéias, são sentimentos. Não se aprendem; trazem-se no coração" Página 25.

A escrita do Machado de Assis está impecável nesse livro, mais perto do que Dom Casmurro é. Pra mim, até agora, foi a leitura em que Machado de Assis esteve mais maduro. Já li 2 décadas (20 ANOS) de escritos do Machado de Assis, e com certeza, se for pra eu te recomendar a melhor leitura até agora, vai ser essa. Você que gosta de livros com personagens femininas fortes não pode perder!







domingo, 24 de novembro de 2019

Leitura todo dia #122

Outra semana de Leitura todo dia! Está saindo bem atrasado, mas vou normalizar isso em dezembro, prometo! É que, por causa da semana de resenhas dos livros do Machado de Assis, eu não consegui postar antes. Mas aqui está, e em breve vai sair o da terceira semana de novembro! Minha meta é ler o máximo de A Cor Púrpura, da Alice Walker, e de No Seu Pescoço, da Chimamanda.

Como sempre, a meta é ler 35 páginas por dia. Como a semana começa no dia 09/11 e termina no dia 15/11, a meta semanal é ler 245 páginas. Vamos lá!













No dia nove eu li 36 páginas (quatro capítulos e meio) de O Iluminado e concluí a leitura. Que puta livro! Assim, não vou dizer que se tornou meu livro favorito, por que It segue invicto, mas com certeza é o segundo favorito. Esse livro é bom demais pra ser verdade, sabe? Muito bem escrito, o horror psicológico que deixa o leitor doido, com medo, levemente paranoico. O hotel, enquanto personagem mesmo, é uma coisa horripilante e com certeza é o mais interessante do livro. Já tem vídeo pra esse livro lá no canal, vou deixar ele aqui pra quem quiser assistir!



E li 21 páginas (um conto) de No Seu Pescoço, o conto chamado Réplica. É um conto muito forte e bem diferente do que eu esperava. Fala sobre a vida de uma mulher que é casada com um amante de arte africana. Ela mora nos Estados Unidos e ele na Nigéria, por causa do trabalho. E sempre que ele volta, trás algo da cultura nigeriana. Só que ela recebe uma ligação, de uma amiga, avisando que seu marido colocou uma amante dentro da casa deles, e o conto se desenvolve a partir daí. É muito interessante ver um pouco do dia-a-dia de um casal nigeriano, principalmente com o fato de que eles passam a maior parte do ano separados, e de que ele é infiel.




No dia dez eu não li nada. No dia onze eu li 11 páginas de A Cor Púrpura. Comecei o livro agora e é bem diferente do que eu esperava. Ele é contado através de cartas, e já nas primeiras páginas trás uma coisa bem forte. A protagonista é uma mulher negra, e é estuprada constantemente por seu pai, e até teve filhos com ele. É uma coisa muito... sei lá, forte. Principalmente pra mim, que sou uma mulher negra. Li pouco por que achei forte demais pra ler antes de dormir.


No dia doze eu li 67 páginas de A Cor Púrpura. Aproveito sempre os dias de estágio pra ler. Faço estágio de observação, e como a professora não me cobra que eu realize de fato alguma atividade, eu sempre fico só observando a aula mesmo. E aí, nos dias em que os alunos apenas estão fazendo atividades, eu aproveito pra ler. Consegui ler bastante nesse dia, e fico feliz por isso! Tudo que posso dizer sobre a história é que Celie, a protagonista, se casou com um homem tão machista quando seu pai, tem que cuidar dos filhos que esse marido teve com a ex-esposa, e passa o dia trabalhando na roça enquanto o marido fica em casa. Ela foi ensinada a sempre obedecer os homens, então ela segue fazendo isso. 


No dia treze não teve leitura. No dia quatorze eu li 14 páginas (um conto) de No Seu Pescoço. O conto se chama Uma Experiência Privada e é um diálogo entre duas mulheres que estão presas numa loja. Lá fora, as pessoas estão enlouquecidas matando umas às outras, e as duas estão tentando se proteger da multidão. É um conto interessante, mostra bastante as diferenças culturais que a religião implica na vida das pessoas. Uma das mulheres é cristã e a outra é muçulmana.



No dia quinze eu li 59 páginas de A Cor Púrpura. Não vou falar mais sobre a história em si, mas sobre meus sentimentos lendo o livro. É um constante sentimento de raiva, de vários personagens. Obviamente os personagens masculinos são odiosos, nem tanto por si próprios, mas por que foram criados numa cultura machista que ensinou que pra ser homem eles precisam bater em suas mulheres. Isso me deu raiva, e obviamente é uma raiva que a autora quis provocar no leitor. O objetivo do livro é ficar revoltada com a injustiça. E também mostra muito racismo, e até mesmo falas racistas entre os próprios negros. Uma mulher bem escura aparece na história, e por mais que todos desejem ela, ninguém assume ela por que ela é muito escura. E tipo, homens negros não quererem assumir mulheres negras é um problema antigo, o livro mostra bem isso, e continua sendo assim. Hoje acontece menos, mas ainda acontece muito.

O livro fala sobre problemas estruturais que devem ser discutidos sempre, tanto sobre machismo quanto sobre racismo. Então assim, se você é mulher, se você é uma pessoa preta, ou se você é uma mulher preta, leia. Creio que pessoas racializadas no geral vão conseguir se identificar, num geral, mas como o livro é especificamente sobre negritude, recomendo que todos os negros leiam. Além de que isso divulga o belíssimo trabalho de uma escritora negra maravilhosa, Alice Walker.




Consegui ler 208 páginas nessa semana, o que dá uma média diária de 29,7 páginas lidas. Não consegui alcançar a meta, mas consegui concluir um livro do Stephen King, maravilhoso, rei do terror e melhor escritor do gênero. E também dei andamento à duas leituras de mulheres negras! Então tá super valendo a pena.


O Iluminado - 36 páginas lidas Concluído
A Cor Púrpura - 137 páginas lidas
No Seu Pescoço - 35 páginas lidas



quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Resenha: Americanas, de Machado de Assis


























Título: Americanas
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil: 1875
Número de páginas: 57
Onde encontrar: Machado de Assis (MEC) / Skoob
Nota: 4 / 5


Americanas é um livro de poesia do Machado de Assis. O tema geral das poesias é catequização indígena. Tem algumas poesias sobre negritude também, mas a maioria é focada nos indígenas. Cito a catequização como tema principal, por que nas poesias existem pessoas rezando forçadamente, fazendo aquilo apenas pra ficar vivo. Só por saber disso, já é um livro que todos deveriam ler. Só não dei nota total por que achei um livro meio lento, mas isso é por causa da minha dificuldade mesmo em ler cantos.

Todos os poemas têm uma história pra contar, o que os torna cantos. Ou seja, poemas com histórias épicas (que são aquelas que geralmente envolvem viagem, batalhas e aventuras). E como vocês devem ter reparado, é AmericanAs, ou seja, o livro é sobre mulheres. O que o torna um livro ainda mais adequado ainda para ser lido. 

Machado de Assis é negro, o que significa que ele tem um ótimo lugar de fala para escrever sobre os efeitos da escravidão negra. E devo lembrar que Machado já nasceu livre, por ter algum dos pais branco, não sei ao certo se era o pai ou a mãe. Claro que isso não era muito um critério pra separar escravos de não-escravos, mas felizmente Machado não foi escravizado. Esse livro foi escrito antes da lei áurea, o que significa que os negros ainda eram escravizados com amparo da lei.
"O morrer cada dia uma morte sem nome"
Fragmento, Os semeadores
Provavelmente ele também tinha um contato próximo com indígenas, por que já apareceram nos livros anteriores de poesia, e não tem conteúdo ofensivo, mas preciso dizer que sim, o racismo é exposto no livro. E quero ressaltar isso, por que é totalmente diferente um negro escrever sobre negritude e um branco escrever sobre negritude, e isso é nítido nas palavras utilizadas. Assim como é muito diferente um negro escrever sobre indígenas, e um indígena escrever sobre indígenas, é claro que se fosse um indígena escrevendo as palavras escolhidas seriam outras. De qualquer forma, eu fico feliz por, finalmente, ver uma pessoa não-branca escrevendo sobre indígenas.


"E nada mais se viu flutuar nos ares; Que ele, bebendo as lágrimas que chora, Na noite entrou dos imortais pesares, E ela de todo mergulhou na aurora."
Fragmento, A última jornada

Iracema é um livro com uma personagem principal indígena, mas escrito por um político branco, então é óbvio que aquela coisa do branco que vem trazer o "mundo moderno" até Iracema é cultuada no livro como se fosse algo bom. Já em Americanas, mesmo sendo católico, Machado de Assis deixa bem claro que impedir os indígenas de cultuarem o seu sagrado, é uma forma de matá-los. E talvez ele tenha consciência disso, por que com os negros isso também aconteceu no Brasil, e inclusive continua acontecendo todos os dias. Preconceito racial existe, negros e indígenas sofrem todos os dias por adorarem o seu sagrado.

"Rico era o rosto branco; armas trazia"
Fragmento, Cantiga do rosto branco.

E o fato de as protagonistas dos poemas serem mulheres também é algo muito importante. E aqui vamos deixar claro que é um homem escrevendo sobre mulheres no século XIX, mas mesmo assim tem muita delicadeza e sutileza nas palavras. O livro trás o contraste entre mulheres que sofrem a todo momento, não apenas por serem mulher, mas por serem brancas, e mulheres que são adoradas pelo mesmo motivo.

Todos nós, que somos conscientes das questões étnico-raciais aqui no Brasil sabemos que existe uma coisa de, ou rebaixar tudo que não é branco, ou pegar alguma coisa específica daquela etnia e exaltar isso pra que todo o resto do preconceito fique escondido. Como por exemplo, falar que os indígenas possuem uma conexão com a natureza maravilhosa, que isso deve ser respeitado, que devemos aprender isso com os indígenas, mas sempre negar, a qualquer momento, que a miscigenação no Brasil surgiu do estupro de mulheres indígenas. Chamar de "foi pega no laço", o que na realidade é estupro.

"Inúmeras, no mar da eternidade, As gerações humanas vão caindo; Sobre elas vai lançando o esquecimento A pesada mortalha"
Fragmento, José Bonifácio.

No livro isso aparece bastante, mulheres sofrendo muito, sendo humilhadas, tendo que adorar um Deus que muitas vezes elas nem acreditam (ou acreditam de uma outra forma), mas sendo elogiadas por serem calmas, por serem bonitas, pela bunda grande, pelo cabelo exótico, pelos lábios grossos etc. E pra mim, mulher negra, é uma coisa muito doida ver que no século XIX (dezenove), Machado de Assis já expunha esse racismo nojento, e hoje ainda temos pessoas dizendo que racismo não existe, ou que brancos sofrem racismo.

Flor da roça nascida ao pé do rio, Otávio começou — talvez mais bela Que essas belezas cultas da cidade, Tão cobertas de jóias e de sedas, Oh! não me negues teu suave aroma!"
Fragmento, A flor do Embiruçu.

Enfim, é uma leitura necessária. É pesada, e creio que pra mulher indígenas vai ser uma leitura ainda mais pesada, por causa de tudo que envolve. Mas é um livro que realmente todos devemos ler, pra sermos mais conscientes. Principalmente conscientes de que as questões que nos afetam hoje, enquanto pessoas não-brancas, são as mesmas de 150 anos atrás. É chocante ver que, apesar de termos melhorado muito, pessoas racializadas terem começado a chegar nos lugares de destaque, a maioria dos problemas existem há séculos, e continuam aqui. Leia, principalmente se você gosta de leituras com História.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Resenha: Ancestralidades



























Título: Ancestralidades
Autor: Vários
Editora: Venas Abiertas
Ano de publicação no Brasil: 2019
Número de páginas: 198
Onde encontrar: Skoob
Nota: 5 / 5


Ancestralidades é uma coletânea de contos e poesias com participação de 22 homens negros, publicado pela Venas Abiertas, a mesma editora que publicou o Raízes, que reúne 20 mulheres negras. Como é uma coletânea de homens negros, é óbvio que racismo vai ser o tema principal, e isso vai ser abordado de várias formas. Mas vai pra além disso também: fala sobre a vida na periferia.

Não vou conseguir falar muito sobre cada autor, apenas vou destacar alguns trechos que gostei, e comentar sobre eles. Começando com Bim Oyoko, a citação estará abaixo. Começando com o tema: violência policial ligada ao racismo. Todo mundo sabe que a polícia, a instituição, em todos os lugares do mundo, é racista. E assim, é algo realmente presente. Nos livros da Chimamanda, Nigeriana, você vê violência policial com pessoas de pele retinta.
"Não é que sejam todos canalhas, maspara os guetos, sirenes e fardas são sempre ameaça"


E é um tema que outros escritores, como Bruno Cardoso Mattos também trabalha em suas poesias. Quando mais escuro você for, mais duro será o racismo com você. Eu como pessoa negra de pele clara sei que o que eu passo não é nada em comparação ao que negros retintos passam todos os dias. Mas também sei que o racismo institucional mata desde o negro claro até o retinto.
"Para o dicionário,causaé uma razão ou um motivo que explica ou justifica um ato, acontecimento ou ação.A causa daquela morte foi a cor"


Carlos Melo também fala sobre isso, mas focando não somente no ato de matar/morrer, mas na dor que há por trás disso, e principalmente no medo que isso gera. O medo de sair à noite e não voltar pra casa. O medo de simplesmente ir na padaria, no fim da tarde, e não voltar nunca mais. E por causa desse medo, tem muita gente que desenvolve síndrome do pânico. Agora pensa, em quão ruim, cruel é o racismo, pra que faça com que a gente tenha medo de existir.
"Preta é a cor da favela,Na peleNa veste,E no saco, onde mais um irmão foi levado.O vermelho sangue também faz parte,Ele tá na calçada, no campo, mas também no asfalto.Na madrugada ando nas ruas de mãos para o alto,por que tenho medo do fardado noiado me fazermais um dos executados"


Eu amei o conto de Duan Kissonde. Eu não esperava gostar tanto de um conto assim, mas o autor desenvolveu o conto de uma forma tão boa, mesmo acontecendo coisas não muito agradáveis, flui de uma maneira tão gostosa. É aquele conto bem escrito que dá vontade de recomendar pra todo mundo, e é bem coisa do cotidiano.
"Augusto atravessou correndo. Sinal vermelho. Achou que dava tempo. Não dava mais"


Evanilton Gonçalves escreveu a citação que com certeza engloba todos os escritores. E pessoas que gostam de "viajar na maionese" no geral. Quem nunca ficou olhando pra uma pessoa e inventando toda uma história complexa do motivo de ela estar ali? Ou nunca se apaixonou no ônibus e começou a inventar seu futuro com aquela pessoa, mesmo não sabendo nem o nome dela? Essa citação aqueceu meu coração, quando li. Ele também é contista.
"Gosto de observar o passar das horas e das pessoas ao meu redor e o que não consigo ver, invento"


Felipe Nikito escreveu algo que me impactou profundamente. Acho que se você é um cristão consciente, em algum momento você já pensou nisso, mas a verdade é que muitos líderes religiosos não pregam o amor, e muitos pregam a intolerância. E é importante falar isso. Até dentro do cristianismo tem muita intolerância, e às vezes dentro da mesma religião, apenas por que são congregações diferentes, também tem intolerância rolando.
"Jesus Cristo ensinou,mas tem até uns pastor que não assimilouQue pra mudar esse mundosó mesmo com amorMuito amor"


E temos então Fellipe Beluca, falando muito da periferia. Ele é de um lugar que fica perto de onde eu moro, e eu acho tão gostoso ler poesia de quem tá perto de mim, por que a identificação acaba sendo maior. Ele participa de batalha de MCs então também é algo que tá sempre nas poesias dele, e que eu acho muito legal. Amo batalha de MCs, confesso que vou em poucas por que infelizmente o ambiente (maconha, bebida etc) em si não é do meu agrado, mas sempre que é pra prestigiar gente que conheço eu tento ir.
"MCs se matando em letras, meus manosmorrendo em tretas"


Franco Vandereste fala novamente da matança de gente preta. E principalmente da matança que vem pelo ódio. Vi numa entrevista da Clarice Lispector, que você pode ver clicando aqui, que se um tiro apenas já basta para matar, todos os tiros que vêm depois são pelo ódio. Agora para pra pensar, por que as pessoas são ensinadas a odiar gente preta? É simplesmente desumano o que o racismo faz.
"Na rua eu vejo o ódio no olho de genteque mata a gente com olho antes de matar com o pente"


Igor Chico escreve de uma forma tão poética, linda, sensível. Cada frase daria uma linda tatuagem. É algo bem intimista, e não necessariamente sobre negritude, mas passa sim por esse tema. Eu não consigo nem descrever o quão gostosa é a escrita dele, mas deixo aqui um trecho simplesmente lindo pra vocês apreciarem essa obra de arte.
"aceitar que há mais buracos em mimdo que na camada de ozônio"


Jessé Cabral fala sobre a vida dele, e claro que isso envolve ser um homem negro, mas também é algo mais pessoal. Ele não está falando do coletivo, ele está falando de experiências que ele viveu estando dentro desse belíssimo coletivo que é a negritude.
"Nem em mim cabem tudo que vi existir"


E depois vem Jô Pinto, que é o mais diferente do livro, e talvez até destoe um pouco do resto. Isso por que a vivência dele é muito diferente, já que ele viveu/vive numa reserva quilombola. É muito interessante ter tantos pontos de vista dentro do livro, e ele trás um viés bem religioso sobre a negritude, pelo ponto de vista cristão católico. Eu gostei por que mostra a devoção que cada pessoa tem o direito de ter sobre qualquer santo, seja ele o santo da igreja católica ou o santo do candomblé, ou até mesmo os dois.
"Rainha dos homens pretos!Mãe, mãezinha, "Senhora do RosárioSua casa cheira, cheira cravoe flor de laranjeira"


José Falero fala do submundo que é a periferia. Geralmente os lugares chamados de submundo são lugares onde as pessoas marginalizadas estão, e tentam sobreviver de alguma forma. O que é a descrição do que acontece na favela. E claro, playboy nenhum sobreviveria uma semana na favela. Pressão demais pra quem não é criado nela.
"As nossas grandes cidades também possuem profundezas onde nem todos conseguem ir, porque não aguentariam a pressão. Essas profundezas são conhecidas como 'periferias'"


Kadosh Miranda falou de coisas que me emocionaram. Falou de natureza. Para quem não sabe, religiões afro-brasileiras prestam culto à natureza, orientados por espíritos, então ler sobre a natureza dessa forma, e enfatizando que isso sim está matando muito mais do que nós humanos, que tá matando os animais e as plantas, e que esses elementos são coisas sagradas, pra mim não tem preço. Quero deixar linkado aqui o vídeo que Pérola D'Iemanjá fez sobre a poluição do mar, e sobre como nós também somos responsáveis por isso. Claro que grandes empresas poluem muito mais, e por motivos diferentes, mas temos que nos sentir responsáveis também.
"Cadê saci? Caboclo D'água?Minério de ferro na nossa água!Eles matam rios e jorram a praga,Cadê o canto de Iara?"


Agora vamos para um assunto muito importante. Kuma França fala sobre como a polícia e os "cidadãos de bem" agem para matar a negritude. Na mão de um homem negro, até copo vira arma, vira fuzil, vira bazuca. Uma mulher preta e pobre nunca pode ter direito ao aborto seguro, mas uma mulher rica e branca, pode abortar confortavelmente em grandes hospitais e nunca vai ser condenada por isso. A injustiça tá em todos os lugares, a gente só precisa abrir os olhos pra isso.
"Natural confundir um caderno com um fuzilOh, Pátria armada BrasilQue se preocupa tanto com as crianças "abortadas"esquecendo das nascidas, abandonadas"


Leandro Zerê é o grande amor da minha vida. Eu já vi ele recitando a poesia OGUM várias vezes e me emocionei lendo ela. E quero falar aqui sobre a experiência linda que é você ler uma poesia com a voz da pessoa recitando na sua cabeça, é totalmente diferente de apenas ler. Favela é resistência, muita coisa incrível sai daqui, e a gente, enquanto pessoas pretas, temos que estudar e trabalhar mesmo, buscar novos horizontes, dar o troco de tudo que a gente passou e continua passando.
"Fogo na Casa Grande! Traz o Sinhô pro tronco!Pois só assim vão entender que Favela não é Senzala!FAVELA É QUILOMBO!"


Ojû trás novamente a revolta por ver preto morrendo todos os dias. E sempre importante lembrar que a cada 23 minutos morre um jovem negro. Não importa o que esteja acontecendo politicamente no Brasil, e não importa muito a sua situação econômica, se você for preto, seu sofrimento sempre vai ser o triplo. A culpa de tudo vai cair em você. E se você for de religião afro-brasileira, ainda vão ter a cara de pau de dizer que são seus demônios que estão fazendo mal ao Brasil, e que é por causa disso que negros morrem mais. E sim, já ouvi isso. Tem gente que é doente.
"Nem sempre o corretivo é justo...Nem sempre a borracha apaga...Isso não acaba.Acho que você já sabe quem paga"


Rafael Moyses trás a discussão sobre loucura e sanidade. Muita gente acha loucura preto, pobre e favelado achar que vai mudar a estrutura do país, mas essas mesmas pessoas tão sendo caladas todos os dias, vendo pretos vencerem e passarem por cima de muito racismo. E claro, a gente ainda tem que melhorar muito, alguns pretos vencerem não significa que todos venceram, pra um subir, 100 morrem. Mas fico feliz em saber que a nossa loucura em resistir têm dado frutos, mesmo que ainda sejam poucos.
"A sanidade decapita o homemSofrida letra em negra tintaFlorida voz em boca desnutrida"


Rômulo Marcolino fala sobre o medo de não voltar pra casa, que falei anteriormente. O medo não vem somente da pessoa preta que tá na rua, mas também das mães que ficam em casa esperando seus filhos chegarem. Dos companheiros que ficam em casa, dos filhos. Infelizmente ser racializado no Brasil, causa medo. A nossa existência incomoda, e por isso, a cada 23 minutos morre um jovem negro.
"...quase todas as mães dormem, aguardando ouvir sinais dos filhos chegarem bem em casa. Por isso faço um barulho com as chaves e nas panelas, mamãe responde com um tossido"


Tarciso Manfreatti trás referências literárias! Claro, todos trazem muitas referências e em muitos poemas e contos isso fica claro, mas quero citar aqui por que é sobre Macunaíma, um livro que eu quero muito ler, e devo dizer que depois de ler isso em Ancestralidades, isso aumentou minha vontade. E aproveitando o assunto, o livro é ótimo pra pegar referências, e então se você gosta da cultura hip-hop, Ancestralidades é um ótimo livro pra ler.
"É como se eu fosse Macunaíma entrando no rio, aquelas roupas lavavam meu 'pretume'"


Thiago Amepreta fala sobre como tudo que vem de preto não é bem aceito socialmente. Poesia de branco, que escreveu sentado em sua varanda, em sua belíssima cobertura que fica no centro da cidade é algo belo, arte contemporânea. Então por que a poesia de preto, escrita no barro, num canto da favela, não é vista da mesma forma? Por isso a gente que é preto tem que consumir muita coisa preta MESMO! É nós por nós, e a gente só vai pra frente se rolar apoio.
"eu (negra) poesiatu (negra) poesiaele (negra) poesianós (negras) poesiasvós (negras) poesiaseles (negam) poesia"


Tônio Caetano escreve de forma tão doce e violenta ao mesmo tempo. O tema do conto em si é violento, é aquela coisa que rasga coração mesmo, mas ao mesmo tempo, a doçura e a leveza que as palavras trazem é surreal. O trecho abaixo fala de violência, mas olhem como é bonito de ler, aquele tipo de frase que a gente leva pra vida toda.
"Pegou meu menino pelos encaracolados como se eu não estivesse ali, como se eu não tivesse pés de cruzar mundo, braços de manter casa em pé"


Ygor Peniche fecha falando sobre uma coisa que já vem sendo estudada há décadas, mas que muitas pessoas ainda negam: capitalismo não está se importando com pessoas, se importa com o dinheiro dessas pessoas. Então se a forma de ganhar dinheiro for te divertindo, te fazendo ter mais acesso à cultura, ou te entupindo de remédios que funcionam menos que placebo, tanto faz. Capitalismo não se importa com sua vida, se importa com a quantidade de dinheiro que você gasta ou investe nela. Apenas isso.
"No capitalismo, a escola não forma pessoas - apenas profissionais"

Fica aqui a recomendação. Leiam Ancestralidades. Leiam gente preta.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Leitura todo dia #121



Mais um belíssimo post de Leitura todo dia, projeto criado pela Nine Stecanella, com o objetivo de incentivar o hábito da leitura. Minha meta pessoal para esse projeto é ler 35 páginas diárias, como essa semana começa no dia 01/11 (sexta-feira) e vai até o dia 08/11 (sexta-feira), a minha meta é ler 280 páginas. Pretendo ler O Iluminado, do Stephen King, e No Seu Pescoço, da Chimamanda.












No dia primeiro de novembro eu li 20 páginas (um capítulo) de O Iluminado. Pra quem ainda não sabe, estou gravando um diário de leitura e resenha pra esse livro, então não vou falar muito dele aqui no blog. Quem quiser ver, é só clicar nesse link aqui, e vai ser redirecionado pro meu canal!



No dia dois não teve leitura. No dia três eu li 45 páginas (nove capítulos) de O Iluminado. Eu percebi que quando eu fico um dia sem ler, no dia seguinte eu consigo ler um pouco mais. Mas mesmo assim, não chegou na meta, ne? Eu faço o possível pra isso não me abater. Em alguns dias alcançar a meta é algo muito importante, em outros, o importante é ler até onde eu quero.



No dia quatro eu li 30 páginas (quatro capítulos e meio) de O Iluminado. Estou gostando muito do livro. O terror do Stephen King é o melhor que já li até hoje. Sei que eu não tenho muitos livros de terror, mas assim, na minha vida eu devo ter lido uns 25, então acho que tá bom pra comparação. Inclusive preciso ler mais livros de terror e horror, né? Mesmo assim, não achei até hoje um escritor que passasse tanto o terror real pro leitor. Ele mexe no psicológico de uma forma...



No dia cinco eu li 27 páginas (quatro capítulos e meio) de O Iluminado. Li durante o estágio. Gente, estágio de observação é ótimo pra colocar leituras em dia, toda vez que vou, eu faço isso. Por que assim, dificilmente as pessoas me pedem ajuda pra algo, a professora também me deixa bem livre pra fazer o que quiser, então eu fico lendo mesmo.



No dia seis eu li 20 páginas (dois capítulos) de O Iluminado. E algo que preciso dizer é: se você tem medo de espíritos, não leia esse livro! É espírito pra todos os lados, gente falando com espírito, espírito querendo matar, gente lutando contra espírito, espírito respondendo mensagens, todo mundo achando que tá ficando doido. E o terror do livro é inteiro construído em cima disso, é bem pesado e não recomendo pra pessoas sensíveis.



No dia sete eu li 65 páginas de O Iluminado. No dia oito eu li 12 páginas (três capítulos e meio) de O Iluminado. E li 28 páginas (um conto) de No Seu Pescoço, da Chimamanda Ngozi Adiche. Foi uma leitura incrível, um conto sobre violência, no geral. Do meio pro final, o conto se foca em violência policial. E é um livro muito interessante pra ler, por que a violência policial no Brasil, e a violência policial na Nigéria acontecem de formas diferentes, apesar de ainda sim terem o racismo como base. Já sou apaixonada pelas palestras da Chimamanda, e espero me apaixonar pela escrita também, por que já amei esse conto.




Na primeira semana de novembro eu li 247 páginas no total, 30,8 páginas por dia. Isso significa que não alcancei minha meta, mas consegui dar prosseguimento no livro que está no desafio de 12 livros para 2019 de outubro, que é O Iluminado. Eu acabei me enrolando nas leituras "obrigatórias" dos últimos 3 meses, mas tudo vai seguir como planejado. Já estou quase concluindo essa leitura, e creio que não vou demorar pra começar a ler Quincas Borba, que é o livro de novembro. Enfim, não vou dizer que estou super contente, mas como li livros incríveis, não posso dizer que estou triste. Estou levemente feliz e satisfeita com minhas leituras!


O Iluminado - 154 páginas lidas
No Seu Pescoço - 28 páginas lidas










sábado, 16 de novembro de 2019

Resenha: A Mão e a Luva, de Machado de Assis


























Título: A Mão e a Luva
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil: 1874
Número de páginas: 68
Onde encontrar: Machado de Assis (MEC)
Nota: 4 / 5


A Mão e a Luva é o segundo romance de Machado de Assis. A protagonista é Guiomar, que no início da história tem 17 anos, e é disputada por três homens: Luís Alves, Jorge e Estevão. Cada um vai lutar por Guiomar de uma forma, seja exibindo seus dotes, tentando agradar a família dela, se provando um cavalheiro, ou apenas tentando intimidar os outros concorrentes. 

Estevão é um jovem que foi embora da cidade para estudar, e pensou que o tempo longe o faria esquecer sua paixão por Guiomar, mas quando voltou, viu que ainda era apaixonado pela moça. Acontece que a madrinha de Guiomar quer que ela se case com Jorge, um primo, pra manter tudo dentro da família (coisa super comum em cidades pequenas). E aí, Luís Alves aparece por que é amigo de Estevão, e numa visita, se apaixona por Guiomar.

O nome do livro é muito importante, e trás a reflexão se Guiomar deve encaixar a luva (escolher o pretendente) que mais ama, ou aquele que se encaixa melhor socialmente. 

Como o livro é hiper curto, não direi nada além disso sobre o enredo. Mas só com isso já dá pra perceber que é um livro divertido e com muita intriga. Acho que quem gosta de livros com muitas tretas amorosas, principalmente que envolvem status sociais, vai amar esse livro. Eu particularmente achei o livro muito divertido, principalmente por que há interesse social tanto dos pretendentes, quanto de Guiomar.

O maior divertimento do livro é ver os homens disputando por Guiomar, principalmente Estevão e Luís, que tentam fazer isso sem perder a amizade. Eu achei que era meio óbvio quem é o preferido da moça, não pelo modo como ela os tratava, mas o modo como ela falava com cada um, as palavras usadas, passam a mensagem de quem será o grande escolhido ao final.

Parece filme de comédia romântica adolescente (e por isso gostei tanto), mas ao contrário da maioria dos filmes (onde as mocinhas correm atrás do mocinho), aqui são os homens que correm atrás da mocinha e tentam conquistá-la. É ótimo pra passar uma tarde lendo algo leve. Super recomendo pra todos que gostam de romance, principalmente esses romances com intrigas amorosas.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Resenha: Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo



Título: Os Trabalhadores do Mar
Autor: Victor Hugo
Editora: Editora Ediouro
Ano de publicação desta edição no Brasil: 1994
Número de páginas: 300
Onde encontrar: Skoob
Nota: 3 / 5


Os Trabalhadores do Mar é um romance, que tem como personagem principal Gilliatt. No início, ele vive com sua mãe em uma casa bem perto do mar, e afastada de todas as outras casas. Todos que moram por perto pensam que sua mãe é uma bruxa. Gilliatt cresce cercado por esse preconceito, e por isso tem pouquíssimos amigos, mas é um homem digno, e é isso que importa.

Outros personagens vão sendo apresentados ao longo da leitura, e vão se conectando com Gilliat em algum momento da vida. Uma delas é Déruchette, filha de um importante marinheiro. Gilliatt é apaixonado por Déruchette, mas faz o possível para manter essa paixão às escondidas, pois tem medo de não ser correspondido, e medo de que o pai da moça possa fazer algo contra sua vida.

Só que num belo dia, o tão importante navio do pai da moça se perde em alto mar. Chegam notícias de que os passageiros estão bem, apenas uma pessoa não voltou, e que o motor do navio ainda está inteiro. Então, é feita uma oferta: ele dará a filha em casamento ao homem que for buscar o motor do navio. Isso por que esse motor foi o primeiro, e o melhor, em termos de combustível. Era um motor moderno, muito valioso comercialmente e muito valioso para o dono, em questões de sentimentos.

Gilliatt então vai em buscar do motor. Não faz grandes alardes sobre sua partida, apenas vai. Pensa em conseguir levar o motor de volta à costa em alguns poucos dias, mas logo começam as tempestades. Gilliatt vai num pequeno barco, e em pouco tempo esse barco fica completamente inutilizável. Ele se vê então no meio do mar, e precisando se esforçar ao máximo para sobreviver.


"Os pássarios e Gilliatt eram agora bons amigos. Todos aqueles pobres ajudavam-se uns aos outros. Enquanto Gilliatt teve centeio, deu-lhes algumas migalhas dos bolos que fazia; agora os pássaros indicavam-lhe em que lugar havia água",


Gostei bastante do livro. "Mas, Isabella, você só deu 3 estrelas". Sim, mas vamos levar em conta que eu tenho talassofobia (fobia de mar), e eu ODEIO livros que se passam no mar desde que li um livro de contos (horríveis, ruins) de Edgar Allan Poe que se passam no mar. Mas não confundam as coisas, eu adoro o Poe, mas esses contos de mar dele, pra mim, são intragáveis.

Quem acompanha o blog sabe que comecei a ler Moby Dick no início do ano passado, e ainda não terminei por dois motivos: é em inglês, e ele tem mais de 600 páginas. Com Os Trabalhadores do Mar aconteceram coisas parecidas. Eu li bem devagar, mesmo fazendo leitura dinâmica.

O enredo do livro é ótimo, acho que tudo que aconteceu na história foi essencial, mas também achei que foi muita enrolação. As descrições do mar, que foram muitas e todas longas, me desanimaram um pouco da leitura. Porém tenho plena consciência de que isso acontece por eu não gosto de histórias que se passam no mar, por que não gosto de mar.

Porém, pessoas que gostam de histórias com essa ambientação, e que gostam de aventura e romance vão amar esse livro! É um livro ótimo, apenas não é um tipo de livro que eu goste de ler. Mesmo assim, valeu a pena a experiência, já que foi meu primeiro contato com Victor Hugo. Pretendo ler mais coisas dele algum dia, e espero reler Os Trabalhadores do Mar em algum outro momento da vida e conseguir aproveitar mais a leitura.


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Resenha: Ressurreição, de Machado de Assis

























Título: Ressurreição
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil: 1872
Número de páginas: 80
Onde encontrar: Machado de Assis (MEC)
Nota: 3 / 5


Ressurreição é o primeiro romance de Machado de Assis. O protagonista se chama Félix, que se apaixona por Lívia, após o irmão de Lívia, Viana, os apresentarem. Lívia é viúva e tem um filho de 5 anos chamado Luís, porém isso não foi empecilho nenhum para que Lívia e Félix começassem o cortejo.

"Viana era um parasita consumado, cujo estômago tinha mais capacidade que preconceitos, menos sensibilidade que disposições"

Porém, Félix é extremamente ciumento e birrento, e isso vai causar várias coisas ao casal, e até mesmo Luís, uma criança, vai ser afetada pelo ciúme doentio de Félix. Além disso, Félix é conhecido por ter amores passageiros, que duram no máximo seis meses, e Lívia começa a se perguntar se não está acontecendo isso novamente.

"Duas faces tinha o seu espírito,e conquanto formassem um só rosto, eram todavia diversas entre si, uma natural e espontânea, outra calculada e sistemática"

A sinopse parece pequena, mas é realmente só isso. O livro é bem curto, qualquer informação a mais pode ser spoiler. É um bom livro, porém não foi uma leitura muito agradável. Tenho sérios problemas em gostar de livros com personagens machistas, pra mim simplesmente não dá pra descer certas coisas. Lembrando que ciume é a sensação de estar perdendo algo que é seu, e eu acredito muito que pessoas não são propriedades para terem donos. Acho ciume tosco, vindo de homem ou de mulher.

Sei que o personagem foi construído para passar desconforto no leitor, mas pelo menos comigo, não foi um desconforto bom. Acho que desconforto bom é aquele que te faz descobrir algo (algum medo, algum dado científico etc), mas nesse livro, é simplesmente machismo, e não é nenhuma descoberta que existem homens ridículos no mundo. Talvez na época em que foi escrito, escancarar o machismo fosse uma coisa revolucionária, e reconheço isso, mas hoje não faz mais tanto efeito.

"- Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos"

Gostei de Lívia, e gostei dos personagens secundários também, mas Félix, pra mim, foi intragável. Recomendo a leitura para quem quer uma leitura rápida, um livro pequeno pra ler. Não recomendo se você, assim como eu, passa raiva com machismo, mas se você tiver curiosidade em saber como era o machismo do século XIX, acho uma leitura válida.



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Resenha: Badaladas, de Machado de Assis


























Título: Badaladas
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio Público 
Ano de publicação no Brasil: 1973
Número de páginas: 26 (na versão em ebook do MEC)
Onde encontrar: Machado de Assis (MEC)
Nota: 3 / 5


Badaladas é uma coletânea de crônicas de Machado de Assis, publicadas semanalmente em jornal, entre 1871 e 1873. Quem acompanha o blog, e principalmente as resenhas do Projeto Machado de Assis, sabe que eu não sou fã do Machado enquanto cronista.

Badaladas tem o objetivo de reunir crônicas bem humoradas, e no original, são ilustradas. O livro com ilustrações pode ser facilmente encontrado atualmente, porém como estou fazendo o projeto inteiramente com o material disponibilizado pelo MEC, não cheguei a ver as ilustrações.

Essa possivelmente é a menor resenha já feita por mim, mas a única coisa que tenho a dizer é: se você é jornalista, escreve em blog (seja qual for o conteúdo), ou é escritor, recomendo que leia. Se você é jornalista é quase uma leitura obrigatória. Ele comenta as notícias que os outros jornais estão soltando, mas de uma forma mais engraçada e mais leve.

É basicamente como ler um jornal, não tem nada muito além disso. Ah, historiadores vão gostar também, por que jornais são retratos históricos. Então se você tem curiosidade de saber o que estava nos jornais da segunda metade do século XIX, recomendo muitíssimo que leia Badaladas, é curtinho, e você não vai demorar muito pra concluir a leitura! 

Porém, se você realmente tem interesse, ou se precisa/quer estudar esse período histórico, recomendo que invista na edição física ilustrada, por que com certeza é bem mais rica em detalhes do que a edição em ebook disponibilizada pelo MEC.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Resenha: Oliver Twist de Charles Dickens




Título: Oliver Twist
Autor: Charles Dickens
Editora: Domínio Público
Ano de publicação no Brasil: 1870
Número de páginas: 376
Onde encontrar: Skoob
Nota: 4 / 5


Primeiramente quero dizer que li esse livro para o Projeto Machado de Assis, já que aqui no Brasil, a tradução oficial do livro, foi feita por ele. O livro conta a história de Oliver Twist desde o nascimento. A mãe de Oliver morreu no parto, e por causa disso, ele foi levado à um orfanato. Comia pouco, e trabalhava muito no orfanato, desde muito pequeno, e por isso, queria muito sair de lá, mas também sabia que existia lugares piores para viver.

Um certo dia, um sacerdote que era responsável pelo orfanato, vai visitar o lugar, e escolhe levar Oliver para o convento, para que ele possa ser educado junto com outros órfãos. Oliver sente esperança ao ver que vai ir para um lugar melhor. Lá ele recebe roupas melhores, um lugar melhor para dormir e viver. Num momento ele come, e pede mais comida, então é castigado. Todos os meninos são ensinados a serem eternamento gratos pelo que têm, e não pedir mais do que eles já possuem.

Então ele é vendido para um homem que fabrica caixões, e ficará sendo seu aprendiz. Passa a ser tratado um pouco melhor, e aos poucos vai aprendendo o ofício. É encarregado de ir aos velórios de crianças e ficar ali observando tudo que acontece. Mas como nem o início de sua vida foi fácil, o restante também não será.



Gostei muito dessa leitura, mostra algo que infelizmente faz parte da realidade tanto de órfãos quanto de crianças de rua, que vão passando de mão em mão e sendo maltratados em todos esses espaços. E por causa disso, já digo que não é um livro pra qualquer pessoa. Pessoas sensíveis podem ter problemas lendo o livro, por que pode ser forte demais. Mas eu, mesmo sendo super sensível, adorei o livro. Oliver tem uma história de muita luta, mas principalmente de muita ingenuidade.

Sempre que Oliver vai para um novo lugar, ele pensa que ali tudo será diferente, que ele terá novas oportunidades, que a vida dele vai mudar para melhor, e mesmo que melhore em alguns aspectos, toda mudança trás inúmeras responsabilidades que uma criança não está pronta para saber lidar.

Confesso que em certos momentos eu achei o livro chato. Não que o enredo em si seja chato, num resumão, o livro é incrível! Só que em alguns momentos, principalmente do meio pro final, as coisas demoram pra acontecer, e aí do nada acontece tudo de uma vez. O final então... E por causa disso eu não achei o livro sensacional, e confesso que pulei algumas páginas, fiz leitura dinâmica em alguns momentos, por que pra mim, era impossível ficar lendo palavra por palavra de situações repetidas, ou coisas que estavam caminhando pra algum lugar, mas demoraaaaava pra chegar no ponto.

Porém o livro trás vários ensinamentos, mesmo que fique nas entrelinhas. Aprendizagem principalmente social, sobre a vida de crianças órfãos e como é horrível pra criança ficar passando de casa em casa e não se sentir pertencente à lugar nenhum. Também fala sobre ingenuidade, e como a ingenuidade pode nos atrapalhar. Basicamente o recado aqui é: seja mais esperto, nem todas as pessoas querem o seu bem, e você precisa estar atento à isso.

Então recomendo muito esse livro se você leu essa resenha, principalmente a primeira parte, com a sinopse, e acha que vai aguentar ler sem chorar muito ou passar mal com a leitura. Também recomendo se você gosta do tema de crianças órfãos e o que elas passam na vida, se lembrando de que é uma ficção, mas que tem muito reflexo da realidade.

Porém, se você tem necessidade de leituras mais rápidas, mais agradáveis e mais felizes, não recomendo. Li dois livros do Dickens até hoje, Oliver Twist e A Pequena Dorrit. Os dois tem como personagens principais crianças, e duas crianças com vidas difíceis, que passam por vários momentos de risco de vida. Creio que se você gostar da temática de Oliver Twist, vai amar A Pequena Dorrit, pois eu particularmente preferi o último livro aqui citado. Leiam Charles Dickens, e se gostam da temática, leiam os livros em que os protagonistas são crianças, os ensinamentos que o livro passa são ótimos pra levar pra vida!


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Resenha: Contos Fluminenses de Machado de Assis


























Título: Contos Fluminenses
Autor: Machado de Assis
Editora: Domínio  Público
Ano de publicação no Brasil: 1870
Número de páginas: 107
Onde encontrar: Machado de Assis (MEC) / Domínio Público
Nota: 4 / 5

Em Contos Fluminenses temos sete contos escritos por Machado de Assis. São sete contos reunidos aqui, e como o próprio nome sugere, todos se passam no estado do Rio de Janeiro. Falarei brevemente sobre o enredo de cada um dos contos. O livro começa com Miss Dolar, que é uma cachorrinha que foge. Um homem a encontra, e quando vai devolvê-la, se apaixonada pela dona da cadelinha.

Logo após vem Luís Soares, que é um homem que gasta seu dinheiro como se não houvesse um amanhã, e depois descobre que está ficando pobre. O conto vai mostrar o que ele é capaz de fazer para conseguir ser rico novamente. Depois temos A Mulher de Preto, um dos meus contos preferidos. É sobre um homem que se apaixona por uma mulher que ele pensa ser viúva, visto que ela só usa roupas pretas, mas se surpreende muito no final.

O Segredo de Augusta também foi um dos meus preferidos. Augusta tem trinta anos, e é mãe de Adelaide, de quinze. O pai da menina crê que está na hora de ela se casar, e que o noivo deve ser um homem rico, porém Augusta é totalmente contra o casamento de sua filha com qualquer homem, visto que sua filha ainda é muito nova. Porém esse não é o real motivo de Augusta ser contra o casamento.

Confissões de Uma Viúva Moça é muito interessante, pois é contado por meio de cartas. Uma viúva se muda para Petrópolis repentinamente, pouco tempo após perder seu marido, e então, por cartas, vai contando à uma amiga os motivos que a levaram a mudar de cidade. Logo após temos Linha Reta e Linha Curva, que também se passa em Petrópolis. Um casal se casa, e recebe a visita de outro casal. A partir dessa visita várias coisas acontecem. E o último conto é Frei Simão, que conta a história deste homem que dedica sua vida à Deus, e que tem um final meio trágico.



Gostei de todos os contos que li, e já falei quais são meus preferidos. Gostei muito desse livro por que os contos têm assuntos diversos, mesmo que todos de certa forma falem de amor romântico. Eles são muito diferentes um do outro, e passam a ideia de que são histórias verídicas, pela forma que foram escritos.

Eu amo Machado de Assis como contista, e agora estou ainda mais apaixonada por esse lado dele. Gosto muito dos contos por que são histórias rápidas, mas de muita qualidade, e com enredos complexos, e muito possivelmente inspirados em histórias reais. E como são contos escritos há séculos, também são ótimos contos de romance histórico ou romance de época.

Recomendo muitíssimo a leitura de todos os contos, lembrando que todos eles podem ser encontrados online, e inclusive disponíveis para download, pois já fazem parte do domínio público, ou seja, não existe ninguém que detém os direitos sobre os livros, portanto, é 100% liberado que esteja disponível gratuitamente na internet.

Os contos são realmente bons, separados e em conjunto. São escritos de formas bem diferentes, e creio que pessoas que escrevem vão amar esse livro, pois mostra que um mesmo autor pode contar histórias de amor de várias formas totalmente diferentes uma da outra. Quem gosta de romance romântico não pode deixar de ler Contos Fluminenses!



domingo, 10 de novembro de 2019

Resenha: Diário de Uma Paixão de Nicholas Sparks





























Título: Diário de Uma Paixão
Autor: Nicholas Sparks
Editora: Editora Arqueiro
Ano de publicação no Brasil: 2004
Número de páginas: 176
Onde encontrar: Skoob
Nota: 5 / 5


Duke é um idoso que mora em uma casa de repouso. Todos os dias ele acorda bem cedo e vai lendo poemas para os outros pacientes. Ele lê um diário para uma senhora que sofre de Alzheimer, na esperança de as palavras ditas a façam lembrar de quem ela é. Muitas vezes ela nem sequer o reconhece, o trata como um completo estranho, mas Duke sabe que é assim, e apenas continua lendo para ela, esperando pelo melhor.

"Não há momentos dedicados a mim e meu nome em breve será esquecido, mas amei alguém de todo coração e, pra mim isso sempre foi suficiente". Página 8.

Então começa a história do diário. Allie Nelson é uma jovem, está noiva, sua vida não poderia estar melhor, porém uma notícia no jornal a abala, e imagens do passado voltam à sua cabeça. Aos 14 anos, Allie conheceu Noah, que foi seu primeiro amor. Durante seus encontros escondidos - a mãe de Allie não aprovava que ela namorasse garotos pobres -, eles ficavam em uma cabana. A notícia do jornal anuncia que a cabana velha foi comprada e está sendo reformada, por Noah Calhoun.

Aliie então parte para a cabana, não sabe bem o motivo, afinal está a poucos dias de seu casamento e deveria estar ajeitando tudo para que fosse perfeito. Porém ela vai mesmo assim, e encontra Noah. O encontro dos dois trazem uma enxurrada de lembranças, doces e amargas, para ambos, e os fazem reviver em suas memórias aquele amor de verão, que foi tão marcante.

"Vamos nos encontrar de novo e, talvez as estrelas tenham mudado, e não só nos amaremos dessa vez, mas por todas as vezes que passaram antes". Pagina 102.

Eles conversam, colocam o papo em dia e se conhecem novamente, afinal, ficaram 15 anos sem se ver. Noah fica triste e decepcionado quando descobre que Allie irá se casar com outro, mas a respeita. Ficar 15 anos sem se verem claramente pode ter apagado a paixão que sentiam. Noah mostra de início que ainda sente algo por Allie, mas será que o sentimento é recíproco?



























Amei esse livro, e acho que não poderia ser diferente. Nicholas Sparks é meu autor favorito de Romance. Nunca li um livro dele que eu não tenha gostado, apesar de já ter lido livros que achei apenas regulares. Mesmo esse livro tendo uma história (e um filme) famosa, eu não sabia nada sobre ele, e o que eu deduzi pelo título foi bem diferente do que encontrei. Pensei que o livro se passaria inteiramente no tempo presente, e não que voltaria para o passado, ou que o passado seria o ponto principal da história.

"Você é a resposta para cada oração que fiz. Você é uma canção, um sonho, um sussurro, e não seu como pude viver sem você esse tempo todo". Página 106.

Fazia um certo tempo que eu não me apaixonada por uma história, que não suspirava de amores e pensava "quero que o meu romance da vida real seja assim". O amor que os personagens idosos sentem um pelo outro, a forma como o homem cuida da mulher é tão doce, que fez eu me sentir ainda mais apaixonada pela vida, e querer de verdade envelhecer ao lado da pessoa que eu amo. 

Creio que eu estar namorando e ser muito apaixonada pelo meu namorado influenciou muito na minha percepção do livro, por que não é apenas algo que eu suspirei e quis ter num futuro distante. É algo que eu posso começar a construir agora. Mas tenho certeza que em qualquer fase da vida a leitura seria apaixonante.

"Nenhum homem que se afoga é capaz de saber qual gota de água levou embora seu último suspiro". Página 137.

Também fazia muito tempo que eu não chorava lendo um livro, e mais tempo ainda que eu não chorava de felicidade. Sabe quando uma coisa é tão linda, que te comove e você chora? Foi isso que aconteceu. O livro é simplesmente incrível. E é uma leitura rápida também, por ser pequeno. Fica aqui a super recomendação de leitura, se você gosta de romance, não viva mais nenhum dia sem ler essa história. Mesmo que romance não seja seu gênero favorito, dê um chance à este livro, tenho certeza de que você não vai se arrepender.