Título: Quando os Adams Saíram de Férias
Autor: Mendal W. Johnson
Editora: Editora Círculo do Livro
Ano de publicação no Brasil: 1984
Número de páginas: 277 páginas
Onde encontrar: Amazon / Americanas / Submarino / Skoob
Nota: 5 / 5
Quando os Adams Saíram de Férias é um livro que pode ser catalogado como suspense, drama, sequestro, cárcere privado e horror, tudo isso junto. Tenha isso em mente antes de começar a leitura deste livro, e esteja preparado para ver cenas que misturem isso tudo.
Barbara é uma jovem adulta, está de férias da faculdade e precisa de um emprego durante o verão, para conseguir um dinheirinho. Ela acaba sendo contratada como babá da família Adams (que não, não tem nada a ver com aquela clássica família Adams), que tem um casal de filhos, por apenas uma semana. No primeiro dia tudo vai bem. Eles vão à igreja no domingo, todos se divertem bastante na piscina depois, e inclusive outros três amigos, já adolescentes, aparecem também.
O que acontece é que na segunda-feira as crianças simplesmente querem ter a liberdade de fazer tudo o que quiserem, e obviamente, como uma adulta responsável, Barbara não permite. As cinco "crianças" já haviam planejado o que fazer com Barbara, não apenas por querer liberdade, mas por querer ter poder sobre os adultos, afinal, os adultos sempre tiveram poder sobre eles.
Eles amarram Barbara à cama de seu quarto, de como que tudo no corpo dela dói, e ela não consegue se mexer nem um centímetro. E então as crianças, com a maior naturalidade do mundo, vão brincar, fingem que não fizeram nada.
Agora eles têm a casa inteira só para eles, e vão fazer tudo que querem. Ao longo dos dias eles vão montando estratégias para dar comida à Bárbara, levá-la ao banheiro, deixarem que ela respire direito e fale um pouco sem que ninguém veja ou perceba algo de estranho.
A responsabilidade e a solidão eram insuportáveis. Ela levantou a cabeça e encostou as palmas das mãos sobre os degraus, inquieta. Como escapar da liberdade?
O nível de tortura que eles praticam com Barbara é algo inumano, e pensar que são crianças de 8 à 17 anos fazendo isso torna tudo ainda mais macabro. Aviso desde já que pessoas sensíveis devem passar longe desse livro. Eu sou acostumada a ver vídeos, séries e ler livros sobre pessoas sendo torturadas e/ou mortas, e mesmo assim eu realmente passei mal lendo este livro. Então só o leia se você tiver muito preparo mental para lidar com torturas.
A primeira coisa que pensei quando terminei de ler esse livro foi "que livro horrível", e não no sentido de ser um livro ruim, mas de tudo que está escrito ali conter horror. Ler este livro é como estar preso num pesadelo onde você consegue ver tudo, mas não consegue se mexer e nem falar nada, apenas assiste tudo, sabendo que não vai poder mudar nada.
"O corpo é uma máquina muito estranha, haviam-lhe dito seus treinadores; e era verdade. Nos treinos e na natação ela sentira dores por espaços de tempo, dez segundos, trinta segundos, possivelmente um minuto, e depois fora capaz de se recuperar e voltar a se esforçar. Só que agora não havia nenhum repouso, e o período de tempo ultrapassava a sua imaginação, que somente chegava além do próximo milionésimo de segundo"
Esse livro me provocou várias reações. Em alguns dias eu não consegui dormir direito, no final do livro meu estômago ficou meio ruim por causa do nível da tortura descrita ali, em vários momentos eu fiquei com dor de cabeça, fiquei muito angustiada em vários momentos e com muito medo. Aos que têm fobia de alguma coisa, sabe aquela sensação da fobia? De quando você algo que não pode mudar e se sente horrível de uma forma inexplicável? Senti isso em alguns momentos da leitura.
E justamente por eu ter sentido várias coisas é que deu nota total ao livro. Imagine o quão bem escrito o livro precisa ser para fazer alguém sentir tudo isso? E vendo comentários e resenhas sobre o livro no skoob é possível provar que muitas pessoas sentiram o mesmo.
Algo que me chocou muito foi a realidade de toda a história. As crianças mais novas em certos momentos querem parar o que eles chamam de "brincadeira", mas os mais velhos os impedem de parar. O que só reforça a ideia de que quanto mais velho você for, mais poder terá, algo que eles queriam derrubar no início, é aquela famosa história de o poder subir à cabeça. As crianças continuam com desejos de crianças normais. Tirando a parte incrivelmente doente da tortura, todos eles se comportam e pensam como pessoas comuns.
Fora que apesar de ser algo difícil de acontecer assim tudo de uma vez, várias coisas que acontecem com Barbara são coisas que acontecem todos os dias por aí. Claro que a maioria delas não é feita por crianças, várias torturas sofridas por Barbara acontecem todos os dias com mulheres em todo o mundo. E o fato de ter acontecido tudo meio que ao mesmo tempo torna a leitura pesada como se você uma amiga contando pra você o que ela passou.
Outra coisa que torna a leitura mais pesada a cada página lida, é que Barbara é uma pessoa facilmente amável, ou seja, em poucos capítulos estamos gostando dela. E ler tudo aquilo acontecendo com ela é horrível. Uma coisa é ler sobre uma pessoa sendo torturada se essa pessoa não é a personagem principal do livro, e apenas apareceu ali para que houvesse um crime pelo qual alguém pudesse ser culpado. Mas ler sobre uma personagem adorável e boa sendo torturada, por crianças, sem nenhum motivo justificável, é doloroso.
Assim que terminei a leitura, e fui escrever os comentários no skoob, eu disse que
não o leria de novo na vida, ou que só o leria quando a história fosse apagada da minha mente pelo Tempo. Sigo pensando isso. É um livro que ler apenas uma vez é mais do que o suficiente,
marca a gente de uma forma que mesmo que você esqueça alguns pontos da história, vai lembrar de algumas coisas mais marcantes. Some a isso tudo o fato de ter sido inspirado na história real de
Sylvia Likens. Recomendo assistir o
vídeo que deixei linkado sobre a Sylvia, porém apenas se você não se incomoda com spoilers.
"Será que era tudo que uma pessoa necessitava para se tornar um torturador, um carrasco, um violador, um assassino, apenas a possibilidade e depois o poder e depois a maneira de escapar impune?"
Falando de outro ponto interessante, que algumas pessoas não gostam, mas que eu gostei por que eram pontos de alívio, foram os momentos em que Barbara imaginava sua amiga por perto, lhe dando conselhos sobre como sair daquela situação, ou quando se imaginava livre. Pois o fato de ela ter essa imaginação fértil acabou diminuindo alguns sofrimentos.
Recomendo muitíssimo à todos que amam livros perturbadores, que tiram o sono, que fazem você ter nojo e te provocam sensações físicas. Recomendo à todos que querem ler uma boa história extremamente pesada. E claro, se você é mulher, com certeza vai se sentir muito mais angustiada com tudo o que acontece, o que não significa que homens não conseguirão sentir uma angustia parecida. Recomendo aos que se acham fortes o suficiente para conseguir levar a leitura até o final. Ela pode parecer um pouco arrastada em alguns momentos, mas vale muito a pena.