quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Resenha: O Poder do Agora de Eckhart Tolle



Título: O Poder do Agora
Autor: Eckhart Tolle
Editora: Editora Sextante
Ano de publicação no Brasil: 2002
Número de páginas: 224 páginas
Onde encontrar: Submarino / Americanas / Amazon / Saraiva
Nota: 3,5 / 5



O Poder do Agora é um livro de auto-ajuda com o objetivo de fazer com que o leitor alcance a iluminação espiritual. Para o autor, essa iluminação seria simplesmente não se importar mais com o que passou, e nem se estressar com o que virá, afinal, só temos o "agora". Não temos como garantia nem mesmo o "hoje", pois podemos morrer daqui a cinco minutos. Então devemos nos concentrar no agora. Seja lá o que estivermos fazendo, devemos estar focados nisso, inteiramente. Seja escrevendo algo, lendo, vendo um filme, observando as flores, nadando, conversando ou simplesmente andando, devemos estar sempre focados, por que isso nos impede de ficar pensando em qualquer coisa que não esteja acontecendo "agora".

"... somente agora você é verdadeiramente você

Como é um livro de auto-ajuda, e não tem um "enredo" complexo, vou ir logo comentando o que gostei e o que não gostei do livro. Inicialmente eu já não gostei tanto, por que o autor diz que precisamos parar de pensar, algo que poderia facilmente ser trocado por "esteja focado". "Parar de pensar" não é um conceito que nosso cérebro entende, quando é dito dessa forma. Isso por que quando queremos parar de pensar, já estamos pensando! Então o certo seria "esteja focado", o que nos leva a não pensar no passado e nem no futuro, se estamos concentrados 100% em algo.

"Perceba a sua respiração. Sinta o ar entrando e saindo do seu corpo. Sinta o seu campo interno de energia. Tudo com o que você sempre teve que lidar, tudo que teve de enfrentar na vida real, em oposição às projeções imaginárias da mente, é o momento presente. Pergunte-se qual é o seu problema neste exato momento, não no ano que vem, ou amanhã, ou daqui a cinco minutos. O que está errado neste exato momento

O passado pode nos levar à depressão, isso por que temos a "mania" de nos apegarmos aos momentos tristes, e fazer deles algo que é parte da nossa identidade. Por exemplo, se você perde alguém, você talvez passe a se identificar não como Amanda, por exemplo, mas como "a menina que perdeu o pai". Essa identificação com as coisas tristes do nosso passado podem nos levar à depressão, pois toda a nossa mente fica preenchida de pensamentos e lembranças negativas. Isso é verdade, e concordo com o autor quando ele diz isso, e ter esse pensamento pode ajudar muito a evitar a depressão, mas não é a mesma coisa para quem já tem depressão. Depressão é um transtorno hormonal, e sim, você querer, ficar focado em coisas boas e continuar vivendo sua vida da melhor forma possível vai sim te ajudar, mas não podemos negar que haverão momentos ruins simplesmente por causa dos hormônios.

Já o futuro pode nos levar à ansiedade, pois ficamos projetando sempre um futuro, geralmente ruim ou com algum problema, e ficamos tão fixados em resolver um problema que nem sequer existe, que deixamos de viver o momento presente. Temos a "mania" de sempre nos imaginarmos em situações ruins no futuro, mesmo que o contexto seja bom. Por exemplo, você finalmente foi chamado para uma entrevista no seu emprego dos sonhos, e você fica o caminho inteiro imaginando como você responderá às perguntas (que você não sabe se serão feitas ou não) e como as respostas erradas vão fazer você perder o emprego. Isso faz com que, quando chegar na hora, você esteja tão mal com tudo que imaginou, que não consiga dar o melhor de si, e isso, a falta de ânimo, é que pode fazer você perder a vaga. E creio que ler sobre isso pode nos ajudar, digo isso por que tenho depressão e ansiedade, e realmente ler esse livro e me concentrar mais no agora tem me ajudado muito.

Algo que me incomodou bastante no livro é o fato de o autor falar sobre, por exemplo, "presença", durante o livro inteiro, e só no meio do livro explicar o que é essa "presença" de quem ele tanto fala. É um livro de auto-ajuda, ele não tem que criar um mistério que será resolvido apenas depois, principalmente levando em conta que a maioria das pessoas que consomem auto-ajuda não os leem de uma vez só, vão lendo aos pouquinhos. Até a pessoa descobrir o que é "presença", ela já leu várias coisas que falam sobre isso e fica totalmente perdida e confusa, por que não sabe realmente qual conceito de "presença" o autor está utilizando ali.



Uma coisa que me fez cogitar abandonar a leitura quando foi acontecendo e acontecendo de novo, são os erros bíblicos. O livro pretende ser um misto de conceitos de várias religiões, e creio que ele até funciona nesse aspecto, mas existem muitos versos e conceitos bíblicos que o autor utiliza fora de contexto, fazendo com que ele não cumpra o objetivo de englobar todos, já que utiliza a Bíblia dos cristãos de forma errada, algo que inclusive é pecado. Podem ver abaixo o trecho específico que me irritou profundamente, bem como alguns outros, e a explicação do motivo de eles serem errados.

"Em outra parábola, Jesus fala das cinco mulheres descuidadas (inconscientes) que não tinham levado azeite suficiente (consciência) para manter as lâmpadas acesas (ficar presente). Essas parábolas não são sobre o fim do mundo, mas sobre o fim do tempo psicológico"

Mas veja o o que a Bíblia diz:

"Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucasMateus 25:1,2

Ou seja, essa parábola é sobre o Reino dos Céus, e apenas sobre isso. É loucura fantasiar uma parábola que a própria Bíblia explica sobre o que é.

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"Nunca personalize Cristo. Não dê uma forma de identidade a Cristo"

Mas a Bíblia diz:

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai." _ João 1:14

Essa passagem é errada pela simples forma de Cristo É uma pessoa. Jesus é Deus, mas também é uma pessoa, e negar isso é negar o próprio Cristo.

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"... ou mitos, tal como a crença de que Jesus jamais abandonou seu corpo, mantendo-se unido a ele e com ele tendo subido ao 'paraíso'"

Mas a Bíblia diz:

"Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhosAtos 1:8,9

Jesus subiu em carne. Sabemos disso por que a Bíblia diz que ele estava falando e então subiu. Se Jesus tivesse subido aos céus em espírito, com toda certeza em algum momento a Bíblia narraria isso, já que é uma parte importantíssima da história de Jesus.

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O livro funciona sim, mas ele tem muitos defeitos, que devem ser levados em conta. Ele é um livro que foi escrito com o objetivo de ajudar as pessoas, e acaba não conseguindo cumprir com isso sempre, por que ou trás conceitos de forma errada, ou os apresenta tarde demais.  Ele é construído em perguntas. O autor introduz o capítulo, e o tema do capítulo, e então começa a responder perguntas que, segundo ele diz na introdução, foram feitas por pessoas que assistiram às suas palestras e até por ele mesmo. Gostei muito disso por que podemos saber o que será trabalhado à seguir apenas lendo as perguntas, mas o que acontece é que ele só apresenta os conceitos à medida que as perguntas vão aparecendo, o que levou ao fato de ele apresentar alguns conceitos tarde demais, depois de já ter falado muito sobre o assunto, mas sem explicar o que é a palavra-chave.

Como é um livro de auto-ajuda, e em tese ele deve mudar algo em nossa vida, quero colocar aqui também minha experiência colocando em prática o que o livro sugere (pelo menos as coisas que eu acho possíveis para mim no momento). Perdi uma pessoa importante em janeiro, e estava lendo esse livro no momento, e com certeza isso mudou tudo. É comum quando perdemos alguém nos desesperarmos, e até mesmo ficamos paralisados pelo medo de ter que viver sem essa pessoa, e pelo medo de perder mais alguém. O medo toma conta de nós e nos faz temer o futuro de forma que vivemos o resto de nossas vidas temendo o amanhã. 

Como eu já estava concentrada em aproveitar melhor o tempo presente, e não pensar mais no passado e no futuro, tudo foi mais tranquilo. Foi uma perda difícil e marcante para mim. Foi a primeira vez que fiquei no hospital com alguém até a pessoa morrer, também foi a primeira vez que eu tive que ir (junto com outras pessoas, obviamente) resolver as questões do funeral. Enquanto eu estava escolhendo o caixão eu vivi realmente apenas o presente. "Eu estou apenas escolhendo um tipo de madeira, não tem ninguém ali dentro agora, ele (o caixão) está dentro de uma loja agora". Por que mentalizar o futuro, em que a pessoa especial para mim estaria ali dentro, em uma sala de velório, me faria sofrer imensamente, e foi o que aconteceu com as outras duas pessoas que estavam comigo.

Eu não fiquei pensando em como seria no velório, em como seria no enterro, em como seria quando voltássemos para casa, como as pessoas reagiriam à tudo isso depois. Eu sequer fiquei pensando em como seria o momento de falar para as outras pessoas que aquela pessoa havia falecido e isso me salvou. No livro há uma parte dedicada para a morte física de alguém. O autor reconhece que pode ser desesperador, angustiante, e que pode tirar nosso foco do momento presente, mas que continuar focados, e pensarmos na morte de uma maneira diferente pode fazer tudo ser mais suave, menos doloroso.

O livro trata alguns momentos da vida, e algumas situações como portais para a iluminação. Momentos difíceis podem nos fazer querer mudar algo, ou até mesmo tudo em nossas vidas, e assim, com esforço e foco, alcançaremos a iluminação, de pouco a pouco. E claro, ficarmos desesperados por que em uma semana, ou em um mês ainda não alcançamos a iluminação não ajuda em nada. Cada pessoa tem seu ritmo e vai alcançar a iluminação com um tempo diferente.

Bom, gostaria de dizer que sim, o livro funcionou muito para mim. Recomendo muito por que creio que ele pode mudar muito a vida das pessoas, principalmente se lermos ele com a mente aberta. Pessoas religiosas demais podem não gostar, já que é um mix de várias crenças, e principalmente pessoas cristãs que são muito religiosas, por que, como eu disse, ele utiliza várias passagens da Bíblia de forma errada e fora de contexto, o que sim, diminui a qualidade do que está escrito. Mas creio que no geral, o livro fará um bem muito grande para as pessoas que o lerem, por que uma coisinha ou outra a gente consegue ver que podemos melhorar e começar a aplicar as dicas que o livro traz.

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