domingo, 10 de fevereiro de 2019

Resenha: Divã de Martha Medeiros






























Título: Divã
Autor: Martha Medeiros
Editora: Editora Objetiva
Ano de publicação no Brasil:
Número de páginas: 154 páginas
Onde encontrar: Submarino / Americanas / Amazon / Saraiva
Nota: 5 / 5


Divã é um livro com uma narrativa bem diferente e interessante. No livro acompanhamos as sessões de terapia da personagem principal, Mercedes, que é uma mulher comum. Tem quarenta e poucos anos, é professora de matemática, pinta como hobby, é casada e tem filho. Vista de fora, a vida dela é muito boa, não passa por necessidades financeiras e tem uma família bem estruturada. Mas ao longo das sessões nós vamos descobrindo que não é bem assim

Mercedes não é muito aberta no início, algo normal, já que é seu primeiro contato com um terapeuta, mas vai se abrindo aos poucos. Para nós, leitores, é tudo muito rápido, mas devemos nos lembrar que cada capítulo, que tem cerca de 4 páginas cada, é o que acontece em uma semana, já que ela vai ao terapeuta semanalmente, então percebemos que é uma evolução lenta, gradual, mas constante.

Mercedes não se sente mais realizada com sua profissão há algum tempo, parou de lecionar em escolas e agora se concentra em dar aulas particulares, o que é relativamente mais fácil, menos cansativo, mas ainda não é o que ela quer. Seu casamento, apesar de ser lindo aos olhos de todos, não é mais a mesma coisa. Não existem brigas, mas também não há momentos românticos, após décadas de casamento com Gustavo, Mercedes sente que eles se amam tanto que não são mais um casal, e sim irmãos. Não é mais um amor romântico, e sim um amor fraternal.

"É um amor tão certo, verdadeiro e inatacável que, pombas, nem parece amor, parece parentesco" _ Página 72





























E um dos principais fatos da vida da personagem é que ela perdeu a mão ainda bem nova, com oito anos, e apesar de ela dizer logo no início que isso não a afetou tanto quanto poderia, não é bem assim.

"Acho que tenho mais saudade de ter uma mãe do que saudade dela propriamente" _ Página 23

Essas questões vão sendo trabalhadas ao longo do livro de uma forma muito natural. É simplesmente nós, leitores, tendo acesso à terapia de uma mulher branca comum de classe média, sem muitos problemas externos, e mesmo que ela negue ter problemas internos inicialmente, as coisas vão aparecendo depois.

Como podem ver, o enredo do livro é bem simples, mas a forma como é contada é algo que faz tudo ser muito único, e faz a gente ir sofrendo junto com a personagem. Nós só temos acesso ao que ela diz ao terapeuta, nem o que ele diz para ela nós ficamos sabendo, mas como sabemos de como ela responde, conseguimos fazer a ligação com a resposta dela e o que ele provavelmente disse. E isso também é algo que me fez gostar muito do livro, é como se construíssemos a história junto com a escritora.

"Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se" _ Página 11

E esse formato também me fez sentir que eu era a terapeuta, e enquanto lia eu fui pensando em tudo aquilo e em quais respostas eu daria à Mercedes, e como eu iria resolvendo os problemas que vão aparecendo. Não concordo com tudo que ela fez no livro, e isso não me fez gostar menos, nem ficar irritada, por que eu senti de verdade que Mercedes era uma pessoa real, então era como se eu estivesse lendo uma não-ficção, e não me senti no direito de julgá-la, mas sim de repensar tudo que ela fez e ver o que eu acho legal ou não.



























Me envolvi muito com a história justamente por ela parecer tão real, e de eu saber que existem milhares de pessoas que passam pelo mesmo, e mesmo que façam escolhas diferentes, passam por sufocos parecidos. A humanização da personagem, uma mulher inteligente e dona de si, mas que também erra e até acaba reconhecendo bem tarde que errou, é algo que me encantou, por que isso é a vida real. Nós somos assim, nós somos incríveis, mas não perfeitos, então erramos.

O que fez eu me apaixonar perdidamente pelo livro, além de todas as coisas já citadas, foi a escrita da autora, que é extremamente poética. Eu me emocionei em vários momentos. Li coisas que me fizeram abraçar o livro e ficar pensando em quão lindo era aquilo que eu havia acabado de ler, como a citação abaixo.

"Minha alma também é invisível, mas ela foi desenhada numa folha de papel carbono, não deixo que ninguém a toque porque solta tinta" _ Página 81

Eu realmente espero que essa resenha faça você sentir uma vontade de ler, nem que seja apenas pelas citações, por que o livro inteiro é tão lindo quanto os trechos que separei. Eu fiz várias marcações lindas assim, me emocionei muito, achei o livro inteiro muito humano, muito real, e isso me causou uma identificação enorme, principalmente em questões feministas trabalhadas no livro. Mercedes é o tipo de feminista que prefere fazer, e não ficar falando, então o feminismo está nos atos dela, e não tanto nas palavras. Recomendo esse livro para todas as mulheres, sem exceção, por que é um livro que conversa muito com todas nós, até mesmo as que não são contempladas pelo "padrão" em que a personagem está inserida, pois, sendo mulheres, a identificação com algumas coisas é certa.








Nenhum comentário:

Postar um comentário