segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Resenha: Salmos (Bíblia)

 



Título: Salmos

Autores: Davi, Asafe, Moisés, Salomão, Etã, Hemã e os filhos de Corá
Editora: Luz e Vida
Ano de publicação desta edição: 2006
Número de páginas: 66
Onde encontrar: Skoob
Nota: 4 / 5 


AVISO: Este post é uma resenha literária, e não um devocional ou post de ponto de vista religioso! Eu possuo um blog no qual estou falando (quase) semanalmente sobre os ensinamentos dos Salmos, e te convido a clicar aqui e conhecer o blog, caso queira um conteúdo espiritualmente edificante. Esta resenha é uma análise literária como outra qualquer, partindo dos meus gostos e experiências de vida. 

"A vida inteira eu louvarei o meu Deus
cantarei louvores a Ele enquanto eu vive
r" - Salmo 146:2.

Salmos é um livro bíblico escrito por diversos escritores, entre eles, Davi, Moisés e Salomão. É importante dizer que os salmos, os poemas e cantos completos, não estão disponíveis na Bíblia. No sentido de que existem muitos outros salmos que por algum motivo não entraram na Bíblia. 

Sabemos que a escolha dos livros e capítulos da Bíblia se deu muito por questões políticas. Que vários livros, também inspirados por Deus, não foram colocados por que de algum forma "atrapalhavam" o que a igreja católica da época. A parte do Antigo Testamento já estava bem consolidada pelos Judeus, e eles utilizaram critérios próprios para decidir quais livros e capítulos entrariam ou não, mas é importante dizer que, por exemplo, mesmo depois de anos de o Antigo Testamento estar "pronto", e inclusive depois de a Bíblia inteira estar "pronta", a igreja católica decidiu adicionar à ele alguns livros, que são Tobias, Judite, Macabeus, entre outros. E ainda existem capítulos adicionais em alguns livros, como no livro de Ester e Daniel.

"Tu és Deus eternamento, no passado,
no presente e no futuro
" _ Salmo 90: 2b.

Com isso tudo, quero apenas dizer que os Salmos que temos acesso não expressam totalmente o que os poetas tinham para dizer sobre Deus. 

"Ó Deus, tudo que o fazes é santo.
Não há Deus que seja tão grande coo o nosso Deus
" _ Salmo 77:13. 

Li os Salmos na ordem, do 1 ao 150 e foi uma ótima experiência. Existem diversos Salmos que falam sobre guerras, e confesso que foram os que eu menos gostei, pelo simples fato de que eu não sou a pessoa que gosta de histórias que tem muita ação. Para mim, se vai ter muita ação, precisa compensar com algum outro item que eu realmente goste. Por exemplo, em Apocalipse, quando fala sobre o Armagedon, existem diversos seres mitológicos, que são seres que, pessoalmente, me encantam.

A fuga pelo Mar Vermelho me encanta por que também tem essa coisa super sobrenatural, que sou apaixonadíssima. Livros que falam sobre guerras puramente "humanas", não me encantam. Gosto do fato de que o livro sagrado não esconde que os maiores profetas também mataram, também sofreram machucados na guerra, também ficaram doentes, também sentiam raiva e alegria. Claro que, exceto a parte de matar, todos nós passamos por coisas parecidas durante a vida, e é legal ver como os profetas reagiram à essas coisas.

"Já não temos os milagres que esperávamos,
não há mais profetas,
e ninguém sabe quanto tempo isso vai durar
" _ Salmo 74:9.

Obviamente não concordo 100% com as reações. Davi, principalmente, parecia uma pessoa muito raivosa, e principalmente parecia que a adoração dele à Deus dependia de coisas boas. Todas as vezes em que ele estava doente, ou que perdia algo, o Salmo, além de ser lamurioso, é com acusações do tipo "Deus se esqueceu de mim". 

Gostei muito de alguns Salmos que dão esperança, que falam do amor de Deus. Creio que falar do amor de Deus é algo mais poderoso do que falar sobre os milagres. Por que, na minha visão, os milagres partem do amor que Deus sente por nós. Milagres não são algo de merecimento, é dado pela graça! 

"Diante de ti, a duração da minha vida não é nada.
De fato, o ser humano é apenas um sopro
" _ Salmo 39:5b.

Recomendo muito que leiam. Acho super válida a experiência de ler os Salmos assim como eu fiz, seguindo a ordem em que está escrito e fazendo anotações. Mas também valorizo muito quem lê fora de ordem. Algo que talvez seja legal é anotar os capítulos que já leu, para não ler coisas repetidas. Que tal? Salmos são cantos, poemas, então podem ser apreciados por qualquer pessoa, em qualquer religião. É arte que parte da vivência com Deus.



domingo, 30 de agosto de 2020

Resenha: Vagina, de Naomi Wolf























Título: Vagina
Autor: Naomi Wolf
Editora: Editora Geração
Ano de publicação desta edição: 2013
Número de páginas: 368
Onde encontrar: Amazon
Nota: 5 / 5 

Vagina é um livro bem abrangente que conta a história da vagina, entre outras coisas. Aborda os aspectos biológicos da vagina (portanto fala especificamente de vaginas de mulheres cis, e especialmente sobre mulheres cis que se relacionam com homens), e da parte da História humana que engloba a vagina (como era vista desde a antiguidade até os dias atuais).

"A forma como qualquer cultura trata a vagina — quer com respeito ou desrespeito, quer com cuidado ou agressividade — é uma metáfora para como as mulheres em geral são tratadas naquele local e naquele momento."

É importante deixar claro desde agora que o livro fala especialmente sobre vivências de mulheres cisgênero hétero, e a autora deixa bem claro que não irá falar sobre outras realidades, por que a única realidade que ela conhece, é a que está no livro. Seria injusto uma mulher cis falar de vivências trans, e também seria injusto uma mulher hétero falar de vivências lésbicas ou bi. Todas as pessoas que têm vagina, com toda certeza vão gostar bastante da parte biológica, por que explica a função de alguns nervos e de como os hormônios atuam no nosso corpo à partir da vagina.

É um sistema muito complexo, em que você se sentar de maneira errada pode barrar um nervo e fazer com que você não sinta mais tanto prazer. A própria Naomi teve que passar por uma cirurgia, pois, por causa de um desvio nos ossos das costas, um nervo bem importante estava travado, e ela sentia menos tesão e os orgasmos eram menos intensos. Então, você, pessoa que tem vagina, fique ligado nesse livro! É um conhecimento muito interessante de ter.

"Quando o sistema dopaminérgico da mulher é ativado — como acontece quando há a expectativa de ótimo sexo, um efeito que é aguçado quando a mulher sabe o que a excita e pensa sobre o assunto, fazendo-a ir atrás disso —, ele fortalece seu senso de foco e nível de motivação, e isso a incentiva a estabelecer metas."


E todas as mulheres irão amar a parte mais histórica do livro. Sim, sei que existem mulheres trans que não tem vagina, mas creio que essa parte histórica, sobre a vagina, também fala muito sobre como o mundo via a mulher em si. Ver como a vagina foi tendo seu significado modificado é fascinante. Entender como o cristianismo fez com que a vagina fosse de algo sagrado à algo sujo e imoral, e como o cristianismo também tem, em suas primeiras obras de arte, a vagina retratada, de forma mais "limpa" e menos óbvia.

O livro também conta com vários capítulos sobre Tantra, que é uma filosofia matriarcal. No livro fala somente sobre como o sexo e a vagina são vistos no Tantra, mas existe mais do que isso. Naomi entrevista pessoas que fazem Tantra, para saber como essa prática influenciou suas vidas. Ela chama a sabedoria do Tantra de "Dança da Deusa", em que o homem precisa praticar várias pequenas atitudes ao longo do dia, se quiser que a mulher tenha um sexo realmente satisfatório.

Algo muito interessante sobre sexo é que a autora sempre diz que sexo vai muito além de gozar. No Tantra, por exemplo, o parceiro ouvir a mulher, dar beijinhos ao longo do dia, dar abraços e demonstrar amor, torna a mulher mais "receptiva" ao sexo. E que o homem só deve penetrar a vagina quando a vagina o "engole". É um conceito que pode parecer estranho, mas o livro explica melhor. Basicamente, o sexo é focado na mulher e no que ela sente.

"O estudo de ressonância magnética do dr. Komisaruk mostrou que a estimulação genital (clitoridiana, vaginal e cervical) em mulheres acionava partes diferentes, porém adjacentes, do córtex e que essas áreas também estavam relacionadas a diferentes centros funcionais e emocionais."

E um parte muito importante do livro fala sobre estupro e agressão física, que partem principalmente de homens. Por isso, se você tem gatilho com esse assunto, não recomendo que leiam. Pode parecer algo óbvio para algumas mulher, principalmente para as que já tem algum estudo no feminismo e em leis de proteção à mulher, mas estupro NUNCA é sobre sexo, e sempre sobre destruição. Um homem não estupra por querer sexo e forcá-lo, e sim pela vontade de destruir.

"... a cada ano, 1,3 milhão de americanas podem ser vítimas de estupro ou tentativa de estupro”. (Um a cada 71 homens já foi estuprado, segundo o mesmo estudo)."























O livro fala sobre alguns dados científicos, principalmente focando na anatomia e na endocrinologia, e mostra que um estupro, além de machucar fisicamente a vagina, causa alterações hormonais gigantescas. Isso por que existem nervos na vagina que são responsáveis por enviar alguns sinais específicos ao cérebro, e esses nervos podem ser danificados no estupro, e literalmente fazer com que a pessoa tenha depressão ou síndrome do pânico por causas anatômicas e endócrinas.

"A vagina reage à sensação de segurança feminina no sentido que a circulação aumenta quando a mulher se sente segura; mas os vasos sanguíneos da vagina sofrem uma constrição quando ela se sente ameaçada. Isso pode acontecer antes que a mulher conscientemente interprete seu ambiente como ameaçador. Portanto, se você ameaça ou diminui continuamente a vagina em um ambiente universitário ou profissional, envia um sinal contínuo ao cérebro e corpo femininos de que ela não está segura. O estresse negativo aumenta."

Eu devo dizer que amei o livro. Como sou bióloga em formação, e já estudei anatomia na faculdade, algumas coisas foram mais fáceis para entender, e sinceramente, ler esse livro me acrescentou MUITO, e com certeza minhas aulas sobre sistema reprodutor "feminino" (não gosto da nomenclatura, não acho que seja válida para os dias de hoje, mas é a única que conheço) serão melhores e mais completas. É preciso dar às pessoas a informação correta e mais completa possível sobre seus corpos.

Fica aqui minha super recomendação de leitura. É um livro que considero sim essencial para mulheres cis hétero, e um livro que mulheres no geral irão gostar muito, assim como homens trans também irão gostar, principalmente pela parte mais científica, de saber o que pode ou não atrapalhar o prazer de forma biológica. Um aviso que devo fazer é que a Naomi é feminista liberal, que é a vertente do feminismo mais forte tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. Então em alguns momentos vai ter sim essa pegada de "mulheres podem e devem mostrar seus corpos da forma como quiserem", apesar de a autora ter um capítulo inteiro falando sobre malefícios da pornografia. É uma escolha sua ler, mas espero que leia, pois é uma leitura incrível!


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Resenha: Her Big Stuffing


Créditos de imagem à Amazon


Título: Her Big Stugging: Taboo Sex and Romance
Autor: Mis Begaving
Editora: Publicação independente
Ano de publicação desta edição: 2018
Número de páginas: 773
Onde encontrar: Skoob / Amazon
Nota: 2,5 / 5


Esta resenha é de um livro em inglês, portanto, as citações estarão em inglês!

Her Big Stufing é uma coletânea de contos eróticos. Vou ficar devendo a quantidade exata de contos, mas tem cerca de 50 contos. Os contos possuem assuntos diversos, desde que envolvimento com vizinhos, passando por sexo no exército e sexo com alienígenas. Devo dizer desde já que é uma coletânea de contos hétero.

Devo dizer que  é um livro que não sei se recomendo. Ele tem uns 15 contos que são muito bons, que tem um enredo realmente trabalhado. Uns outros 10 contos que tem o enredo clichê, mas ainda é bom, e o restante é pura repetição. Mocinha de 19 anos quer transar com o vizinho e cria um pretexto bem de filme pornô (que a gente sabe que não é real) para conseguir o que quer.

"A man with a healthy load is a man who is going places. It's mt job to get them there".

E claro que esse tipo de história pode funcionar para você, se você gosta, porém acaba se tornando cansativo ler 3 contos seguidos que tem a mesma história, só com personagens de nomes diferentes.

Então, se você vai ler, por exemplo, um conto por semana (e aí pode fazer um projeto de ler o livro durante o ano inteiro), eu acho que é um livro que vai te agradar muito. Eu li mais ou menos nesse ritmo, mas algumas vezes eu lia 3 contos em uma semana, e depois ficava algumas semanas sem ler. 

"My wet lips vibrate and tickle him and, at last, a real smile spreads across his face"

Não é um livro romântico, e nem poético. É sexo puro e cru, então só recomendo que leia se você realmente gostar desse tipo de escrita, sem floreios e bem direta. E também só recomendo se você tem um nível bom de inglês. Se por algum motivo você se interessa em saber palavras picantes em inglês, é uma ótima leitura de treino.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Como amanhecer bem



Este post tem algumas dicas do ebook Manhãs Floridas da Rubia Barbosa e também na minha experiência. Até o final do ano virei com um post complementar, mas utilizando como base o livro O milagre da manhã. Todo esse "roteiro" é algo que eu já faço, e que leva menos de 30 minutos. 


Minha primeira dica é: acorde cedo. Ou seja, até as 8 horas. Mesmo se você é uma pessoa noturna, eu recomendo isso. A verdade é que no nosso cérebro existe uma glândula chamada Pineal, e essa glândula é a que controla o nosso relógio biológico. Para estimular a glândula a ficar com o relógio biológico certinho (o ideal para os seres humanos, e pra maioria dos animais, é acordar quando Sol nasce e dormir quando Sol se põe) acorde cedo e abra as janelas. Deixe a luz entrar, pois o que regula a glândula Pineal é a luz. E já fica a dica extra: de noite, fique em lugares com pouca luz e deixe o celular no modo noturno, para que seu cérebro entenda que está na hora de dormir.


A segunda dica é: faça alongamentos quando acordar. Assim você já prepara o seu corpo para os movimentos que fará durante o dia. É importante que você NÃO FIQUE NA CAMA quando acordar (a menos que esteja passando mal ou não consiga fisicamente sair dela). Seu cérebro sabe que a cama é lugar de descansar  e dormir. Se você fica nela, vai ficar com sono. 3 minutinhos de alongamento já são suficientes. 


A terceira dica é: faça uma meditação de silêncio curtinha. Separe 3 minutos do seu dia, foque na sua respiração, e fique com os olhos fechados. Atenção! Faça isso sentado, se fizer deitado, a chance de dormir é grande! Essa meditação ajuda a sua mente a se manter calma para o dia que está começando. Fazer a meditação depois do alongamento é legal pra conseguir "treinar" a questão de acalmar o corpo. Para que tem ansiedade, é legal por que te ajuda a saber como fazer pra acalmar a ansiedade, já que diariamente você já tem que acalmar seu corpo depois do alongamento. 


A quarta dica é: beba água gelada. Isso acorda o seu corpo e a cada copo (200ml) de água gelada que você bebe, você consome cerca de 5-7 calorias. É pouco? Sim. E não vai salvar seu emagrecimento ou sua dieta, mas é algo legal de saber. A água gelada tem calorias negativas, por que o corpo precisa aquecê-la, quando ela entra, e aí gasta calorias. Para ler mais detalhadamente sobre isso, clique aqui. E uma dica extra, é colocar gengibre na água gelada, e deixar na geladeira por 10 minutinhos pro gengibre fazer efeito a água. Ele é termogênico, o que significa que te dá mais energia para fazer as coisas. 


A quinta dica é: faça uma lista de 5 tarefas para o seu dia. Assim você não fica perdido no que precisa fazer. Você sempre pode colocar mais que 5 tarefas, caso queira e tenha tempo, mas aconselho começar assim. Coloque no topo da lista a tarefa que é prioridade. Arrumar o quarto, varrer a casa, fazer comida, dançar, fazer yoga, hidratar o cabelo, fazer a barba, fazer as unhas, passear com o cachorro, ler um  livro, ver um filme e qualquer outra coisa que você precise e queira fazer naquele dia. É interessante fazer a lista, pra que você não se esqueça de fazer coisas realmente importantes. 


A sexta e última dica é: faça afirmações positivas. Eu geralmente faço uma única, que é "Hoje, meu dia vai ser incrível". Mas no ebook da Rubia, que você pode baixar clicando aqui, tem outras afirmações que também são ótimas! E não, as afirmações positivas não vão salvar a sua vida ou o seu dia, mas a positividade é algo necessário se você quer ter um bom dia. Se você já levanta dizendo que seu dia vai ser ruim (talvez por que tem uma consulta marcada ou um trabalho da faculdade), as chances de você ficar ansioso para que a coisa ruim aconteça logo, ou de ficar triste por que o dia está fadado ao fracasso são maiores. Então, mesmo quando acordar de mau humor, quando souber que algo que você não gosta vai acontecer, diga que vai ser um dia bom. Isso pode mudar sim a forma como você vê a vida. Eu apenas digo que afirmações positivas não salvam a vida de ninguém, por que se você afirma, mas não vai atrás do que afirmou, não adianta muito, né? 


Faça a sua parte e será recompensado! 


Tenho certeza que essas dicas vão te ajudar muito! São coisas que estão inseridas na minha rotina e que me ajudam muito não somente a começar o dia com mais energia, mas também à ter um norte do que preciso fazer durante o dia. Isso é ótimo, por que aí você não precisa gastar tempo durante o dia decidindo o que vai fazer: você tem sua lista de tarefas e já sabe o que precisa fazer. Se a lista de 5 tarefas ficar pequena, aumente para 7. Vá aumentando gradativamente, e apenas se você quiser. Fazer 5 tarefas por dia já é algo ótimo! Comenta aqui se gostou das dicas e se já pratica alguma!

domingo, 23 de agosto de 2020

Resenha: O Jardim Secreto, de Francis Burnett



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Título: O Jardim Secreto
Autora: Francis Hodgson Burnnet
Editora: Editora Dracaena
Ano de publicação desta edição: 2012
Número de páginas: 312
Onde encontrar: Skoob 
Nota: 5 / 5


Mary é uma criança que foi criada sem amor. Sua mãe sempre se importou somente em mantê-la viva, e como é uma mulher rica, sempre contrata as melhores pessoas para tomarem conta de sua filha. Mary vê sua mãe raramente, até que uma doença chega até a Índia, onde a menina mora, e mata sua família.

"Foi daquela estranha e repentina maneira que Mary descobriu que não lhe restava pai nem mãe, que morreram e foram levados durante a noite."

Mary, então, é mandada mara morar com seu tio na Inglaterra. Também é um adulto que parece não se importar muito com ela. Craven, o tio, perdeu sua esposa há uma década, e desde então é um homem extremamente amargurado e triste. E como sinal de sua profunda tristeza, ordena que o jardim que sua esposa mais gostava, seja fechado. Ao longo dos anos, os funcionários da imensa casa esquecem que aquele jardim existe.

Assim que Mary descobre sobre o jardim, se interessa muito por ele, e então, encontrar o jardim se torna uma missão. A menina chega na casa do tio com 10 anos, sem saber nem vestir a própria roupa. Só comia coisas refinadas e conversava com pessoas de classe. Ali, num casarão que fica próximo à um vilarejo, tudo que Mary tem são os camponeses e funcionários. A menina vai fazendo amizade com eles, com algumas outras crianças, e saem em busca do tão falado jardim secreto.

"E o jardim secreto florescia e florescia, e a cada manhã revelava novos milagres."

Que leitura incrível! Confesso que no início, com Mary sendo bem chata e mimada, eu pensei que não suportaria a leitura. Porém eu já vi esse livro com uma capa que tem mais crianças na capa, e por saber disso, decidi esperar até que os outros aparecessem. E como foi bom esperar! Li esse livro em três dias, o que para mim é algo bem rápido, e era difícil parar em alguns momentos.

Já deixo aqui a minha recomendação de leitura, para crianças que tem mais de 10 anos e para todos os adultos. É um livro que ensina muito sobre partilha, sobre cura interior, sobre dar mais valor ao que temos e principalmente de dar mais valor às nossas amizades e pessoas que amamos. Muitas vezes a gente briga com as pessoas que amamos, e pode ser que em algum momento não tenhamos a chance de pedir desculpas.

"Não acho que haja nenhuma necessidade de alguém sê rabugento, quando há flores e coisas desse tipo, além de outras tais como seres selvagens se espalhando por toda parte, fazendo abrigos para si mesmos ou construindo ninhos, cantando e soltando um gorjeio. Você acha que há?"

Algo que quero muito comentar é que a Mary perder os pais logo no início foi bem chocante. Quando ela vai para a casa do tio, ela nem sequer sente falta dos pais, por que nunca teve contato real com eles, quase nem os via. Ela sentiu mais falta da casa e de ser mimada pelas amas, do que da família. E em poucos momentos ela sente saudade realmente. É interessante ver isso,pois mostra que a criação que a criança tem, pode moldar sua vida inteira. Se isso não tivesse acontecido, Mary provavelmente seria mais uma mulher rica que desdenha dos pobres e acha que todos estão ali para lhe servir.



No livro tem algumas falas que podem ser interpretadas como racistas, já devo deixar avisado. Uma das amas que Mary "ganha" na casa do tio, diz que estava curiosa para ver Mary, porque achava que a menina era negra, e nunca tinha visto negros na vida. Apesar de ter me sentido incomodada com falas do tipo, eu tentei compreender que 1. essa mulher viveu a vida dela inteira dentro de um vilarejo e o mais longe que foi é a casa onde trabalha e 2. certamente negros não tinha muito acesso aos locais mais ricos da Inglaterra. Então tentei relevar, mas já deixo avisado.

É um livro com o qual eu me identifiquei muito em certos aspectos, como o amor pelas plantas. Não sou jardineira, mas as plantas sempre estiveram presentes na minha vida, sei mexer com plantas desde bem criança, porque sempre brinquei com terra e tudo mais. Ver um livro em que um jardim é o principal, o grande mistério e a grande beleza, foi uma coisa que aqueceu muito o meu coração.

"Quando eu era pequena, eu tinha uma mania muito peculiar de assistir o mesmo filme diversas vezes, tantas que chegava até mesmo a decorar as falas, cada detalhe de cada cena e todas as músicas, quando elas existiam." Palavras da autora, prefácio.

Também me ensinou e me relembrou de alguns valores, que a gente meio que vai perdendo enquanto cresce. De cuidar do que a gente ama mesmo quando ninguém vê, de se amar e se animar sozinho (afinal, em muitos momentos não vai ter ninguém para nos levantar) e de sempre colocar os laços, as amizades, em primeiro lugar.

É um livro que tem muitos ensinamentos, muitos valores, e que nos mostra alguns retratos de uma Inglaterra não tão glamorosa. Recomendo muito que todos leiam, com certeza é um livro que vai aquecer seu coração, te lembrar do que realmente importa, te levar à uma viagem pela sua infância e te fazer feliz por algumas horas.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Resenha: O Livro dos Ressignificados, de João Doederlein

Créditos de imagem à Amazon



Título: O Livro dos Ressignificados
Autor: João Doederlein
Editora: Editora Paralela
Ano de publicação desta edição: 2017
Número de páginas: 216 páginas
Onde encontrar: Skoob
Nota: 5 / 5 


O Livro dos Ressignificados é um livro de poesias, escrito pelo João, mais conhecido como @akapoeta no instagram. O João ficou super famoso com as poesias que postava, e elas resultaram nesse livro. 

"o coração
trens que saem do trilho são livres para irem aonde quiserem"

O livro reúne várias palavras ressignificadas de acordo com as experiências do autor. E como são experiências, num geral, que todos passamos em algum momento da vida, ou iremos passar, é muito fácil se identificar com o conteúdo do livro. E isso torna a leitura uma coisa muito gostosinha.

"rosa (s.f.)
rosas e amores, se não cuidados, murcham"


Nesta resenha irei colocar os fragmentos que mais gostei, ou seja, não são a poesia inteira. No livro encontramos poesias curtas, que são os ressignificados, que ocupam meia página, e algumas poesias grandes, que ocupam umas 2 páginas. As citações dos ressignificados vai parecer um dicionário, com s.f, s.m e v. Que são substantivo feminino, substantivo masculino e verbo, respectivamente.

"trevas (s.f)
é a irmã mais velha da luz.
é aquela que existe quando mais nada existe.
é a ausência do próprio nada"

Li este livro num momento em que estava triste. Não com algo específico, mas apenas triste. E foi ótimo. Foi como lavar a alma. Algumas poesias são sim tristes, mas sempre tem um fundo de esperança nelas e isso me fez muito bem. Então se você está num dia não muito legal e quer ler poesias gostosinhas, recomendo muito que leia O Livro dos Ressignificados.

"prioridade (s.f)
é o primeiro lugar da nossa agenda
(superlotada de coisas vazias)"

As palavras escolhidas para este livro são palavras bem chave, que todos conseguem se relacionar de alguma forma. E ao longo do livro também é legal perceber que, para a gente, tem sempre uma palavra que tem um significado tão especial e único, que nenhuma das definições do livro dão conta de tudo que aquela palavra significa pra gente. 

"riso (s.m)
esperto é o Falamansa, que aprendeu a rir à toa"

Esse foi um dos livros que mais me trouxe uma sensação gostosa, de gratidão e de felicidade por ter lido coisas tão lindas. A ponto de que quando eu terminei de lê-lo (li pelo app do kindle no celular), eu fiquei alguns minutinhos abraçada com o celular, agradecendo ao universo por um livro tão lindo. Sei que com certeza literatura não é unanimidade e vai ter gente que não vai gostar, mas eu super recomendo. 

"migalha (s.f.)
pequenos pedaços de algo que um dia foi inteiro. 
é o que não satisfaz, mas engana bem"

É um livro curto, a maioria das poesias não ocupam nem metade de uma página e com certeza da para ler rapidinho. Sei que tem algumas pessoas que não gostam de ler poesia uma atrás da outra, e para essas pessoas eu recomendo que leia umas 10 ou 15 páginas por dia, para ir digerindo as palavras.

"sardas (s.f)
são suas estrelas particulares,
 que fazem do seu rosto um universo"

Sabe quando você é adolescente emotivo, e vê uma coisa do tipo "meus pais não me entendem", e fica emocionado falando "é isso mesmo"? Eu senti essa emoção lendo esse livro. Vários resssignificados ressoaram no meu peito, conversaram muito comigo, e isso foi incrível. Recomendo que todo mundo leia. É um livro curto, com uma capa linda e um conteúdo precioso.











domingo, 2 de agosto de 2020

Resenha: As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta
































Título: As Alegrias da Maternidade
Autor: Buchi Emecheta
Editora: Editora Dublinense
Ano de publicação desta edição: 2018
Número de páginas: 320 páginas
Onde encontrar: Skoob 
Nota: 5 / 5



Algo importante para saber desde o início: o livro se passa majoritariamente num contexto igbo.

O livro começa com Nnu Ego correndo de algo. Não se sabe exatamente o motivo, e nem do que está está correndo, mas é perceptível que é urgente. Então o livro salta para o passado, e vamos conhecer a história de vida da mãe de Nnu Ego, Ona.

Ona era uma mulher livre e que sabia o quanto a liberdade é valiosa. Não se casou, pois prometeu ao pai que estaria sempre ao lado dele. O pai de Ona era um dos líderes daquela região, e era muito respeitado, um dos motivos que tornava Ona uma mulher tão respeitada também. Ona se aproveitou da influência de seu pai, e foi se tornado cada vez mais imponente.

"... ela era atraente a ponto de causar inveja, tinha uma aparência jovem e era confortavelmente rechonchuda, com o tipo de curvas que realmente caem bem numa mulher" _ Página 169.

Porém havia um homem, Agbadi que mexia com seu coração. Entre indas e vindas do destino, eles acabaram ficando juntos, e assim nasceu Nnu Ego. Porém, algumas coisas iriam tornar o nascimento dessa criança algo difícil. Agbadi de Nnu Ego havia sido ferido, e foi nessas condições que Nnu Ego foi "feita" (se é que me entendem). Ona não era casada, e sim uma amante. Isso não era algo visto como errado, já que era costume daquele povo que os líderes tivessem muitas esposas e muitos amantes.

Porém a esposa mais velha de Agbadi não suportou ouvir os gemidos de Ona durante o sexo, acabou ficando doente e morreu pouco depois. Pelo costume, cada esposa tinha uma empregada pessoal, e sempre que a esposa morria, a empregada devia ser enterrada junto, para continuar servindo à esposa do outro lado. Só que a empregada da esposa mais velha não queria morrer, e lançou uma maldição, dizendo que ela voltaria em pouco tempo e traria dificuldades para a família.

"Enquanto andava, a dor e a raiva competiam dentro dela; às vezes a raiva parecia ser mais forte, mas a dor emocional sempre vencia" _ Página 13.

E então, alguns meses depois, ela voltou. Nnu Ego nasceu e sua mãe, Ona faleceu. Como era filha de Ona, a amante preferida de Agbadi, Nnu Ego sempre foi mimada pelo pai, e pode decidir quando queria se casar. Como os casamentos eram em sua maioria arranjados, era raro que os noivos se casassem por amor, e na maioria das vezes se conheciam apenas dias antes do casamento.

"Cabia às filhas não causar confusão e aceitar serem usadas pelas famílias até serem transferidas para seus homens" _ Página 292.




























O comum era que em até 1 ano após o casamento, a mulher já tivesse um filho. Porém isso não aconteceu com Nnu Ego, e ela sabia que estava ligada à maldição. Nnu Ego sonhava em ter filhos, em ter uma família grande, mas não conseguia, e sua desgraça começou ali. Além do sonho frustrado, tinha que aguentar comentários horríveis vindos das pessoas e até mesmo da própria família.

"Não tenho tempo para desperdiçar minha preciosa semente masculina com uma mulher estéril" _ Página 47.

A maior parte do livro se passa durante o segundo casamento de Nnu Ego. Após o sonho de ter uma grande família não ter dado certo, ela resolveu se casar com outro homem, Nnaife. Saiu de sua aldeia e foi morar na cidade com um homem que trabalhava lavando roupas para um casal de brancos ricos. Era um homem que não exigia muito, pois ele próprio não tinha muito a oferecer.

"Os homens daqui estão muito ocupados em ser empregados dos brancos para poder ser homens" _ Página 73.

O livro é incrível. Além de mostrar um panorama mais histórico dos igbos na Nigéria durante os anos 1920 até meados de 1970. A vida de Nnu Ego foi sim difícil desde o ventre da mãe dela, por causa de todas as coisas cósmicas envolvidas. Tanto pela maldição, quanto por ela ser filha de uma amante do pai e mesmo assim ser a filha preferida. É uma vida marcada também pelo idealismo de quem uma mulher só se torna mulher quando pari. E também uma vida extremamente marcada pelo racismo. 

"E não somos todos de certo modo escravos dos brancos?" _ Página 168.

No meio do seu povo, Nnu Ego era uma nobre, filha de um grande feche e neta de outro grande chefe. Porém, vivendo no centro do país, na casa de um casal branco, Nnu Ego não era ninguém, era frequentemente humilhada e passava diversas dificuldades, por que seu marido precisava continuar trabalhando. Várias vezes durante o livro Nnu Ego ressalta as dificuldades que seu povo passou e continua passando por causa dos brancos, inclusive sobre a escravidão, que segundo ela, nunca terminou. Mesmo sem escravidão oficial, a escravidão continua às escondidas, e se modernizou. Não eram mais escravos oficiais, mas trabalhavam o dobro ganhando uma miséria.

O livro também faz inúmeras reflexões sobre a relação entre as mulheres. Em diversos momentos Nnu Ego é a chefe da casa, afinal, Nnaife trabalha. Então a relação dela com outras mulheres acaba sendo necessária para conseguir sobreviver, para ter alguém com quem conversar. Nnu Ego é uma mulher bem fechada, então dá pra perceber, ao ler, a tensão que muitas vezes ela sente por ter que depender de outras mulheres para fazer certas coisas.

"Só que quanto mais eu penso no assunto, mais me dou conta de que nós, mulheres, fixamos modelos impossível para nós mesmas. Que tornamos a vida intolerável umas para as outras. Não consigo corresponder a nossos modelos, esposa mais velha. Por isso preciso criar os meus próprios" _ Página 239.

É um livro incrível, daqueles que acho que toda pessoa preta, ou que se importa com a causa da negritude deve ler em algum momento da vida. Na história de Nnu Ego, na Nigéria, nós encontramos um pouco da nossa história enquanto pretos diaspóricos, e perceber essa conexão é algo bem valioso. Obviamente também recomendo que pessoas brancas, indígenas e asiáticas leiam este livro, mas creio que será mais emocionante para pessoas pretas. É isto. Leiam esse livro, é simplesmente incrível, emocionante, e muito enriquecedor.