domingo, 30 de agosto de 2020

Resenha: Vagina, de Naomi Wolf























Título: Vagina
Autor: Naomi Wolf
Editora: Editora Geração
Ano de publicação desta edição: 2013
Número de páginas: 368
Onde encontrar: Amazon
Nota: 5 / 5 

Vagina é um livro bem abrangente que conta a história da vagina, entre outras coisas. Aborda os aspectos biológicos da vagina (portanto fala especificamente de vaginas de mulheres cis, e especialmente sobre mulheres cis que se relacionam com homens), e da parte da História humana que engloba a vagina (como era vista desde a antiguidade até os dias atuais).

"A forma como qualquer cultura trata a vagina — quer com respeito ou desrespeito, quer com cuidado ou agressividade — é uma metáfora para como as mulheres em geral são tratadas naquele local e naquele momento."

É importante deixar claro desde agora que o livro fala especialmente sobre vivências de mulheres cisgênero hétero, e a autora deixa bem claro que não irá falar sobre outras realidades, por que a única realidade que ela conhece, é a que está no livro. Seria injusto uma mulher cis falar de vivências trans, e também seria injusto uma mulher hétero falar de vivências lésbicas ou bi. Todas as pessoas que têm vagina, com toda certeza vão gostar bastante da parte biológica, por que explica a função de alguns nervos e de como os hormônios atuam no nosso corpo à partir da vagina.

É um sistema muito complexo, em que você se sentar de maneira errada pode barrar um nervo e fazer com que você não sinta mais tanto prazer. A própria Naomi teve que passar por uma cirurgia, pois, por causa de um desvio nos ossos das costas, um nervo bem importante estava travado, e ela sentia menos tesão e os orgasmos eram menos intensos. Então, você, pessoa que tem vagina, fique ligado nesse livro! É um conhecimento muito interessante de ter.

"Quando o sistema dopaminérgico da mulher é ativado — como acontece quando há a expectativa de ótimo sexo, um efeito que é aguçado quando a mulher sabe o que a excita e pensa sobre o assunto, fazendo-a ir atrás disso —, ele fortalece seu senso de foco e nível de motivação, e isso a incentiva a estabelecer metas."


E todas as mulheres irão amar a parte mais histórica do livro. Sim, sei que existem mulheres trans que não tem vagina, mas creio que essa parte histórica, sobre a vagina, também fala muito sobre como o mundo via a mulher em si. Ver como a vagina foi tendo seu significado modificado é fascinante. Entender como o cristianismo fez com que a vagina fosse de algo sagrado à algo sujo e imoral, e como o cristianismo também tem, em suas primeiras obras de arte, a vagina retratada, de forma mais "limpa" e menos óbvia.

O livro também conta com vários capítulos sobre Tantra, que é uma filosofia matriarcal. No livro fala somente sobre como o sexo e a vagina são vistos no Tantra, mas existe mais do que isso. Naomi entrevista pessoas que fazem Tantra, para saber como essa prática influenciou suas vidas. Ela chama a sabedoria do Tantra de "Dança da Deusa", em que o homem precisa praticar várias pequenas atitudes ao longo do dia, se quiser que a mulher tenha um sexo realmente satisfatório.

Algo muito interessante sobre sexo é que a autora sempre diz que sexo vai muito além de gozar. No Tantra, por exemplo, o parceiro ouvir a mulher, dar beijinhos ao longo do dia, dar abraços e demonstrar amor, torna a mulher mais "receptiva" ao sexo. E que o homem só deve penetrar a vagina quando a vagina o "engole". É um conceito que pode parecer estranho, mas o livro explica melhor. Basicamente, o sexo é focado na mulher e no que ela sente.

"O estudo de ressonância magnética do dr. Komisaruk mostrou que a estimulação genital (clitoridiana, vaginal e cervical) em mulheres acionava partes diferentes, porém adjacentes, do córtex e que essas áreas também estavam relacionadas a diferentes centros funcionais e emocionais."

E um parte muito importante do livro fala sobre estupro e agressão física, que partem principalmente de homens. Por isso, se você tem gatilho com esse assunto, não recomendo que leiam. Pode parecer algo óbvio para algumas mulher, principalmente para as que já tem algum estudo no feminismo e em leis de proteção à mulher, mas estupro NUNCA é sobre sexo, e sempre sobre destruição. Um homem não estupra por querer sexo e forcá-lo, e sim pela vontade de destruir.

"... a cada ano, 1,3 milhão de americanas podem ser vítimas de estupro ou tentativa de estupro”. (Um a cada 71 homens já foi estuprado, segundo o mesmo estudo)."























O livro fala sobre alguns dados científicos, principalmente focando na anatomia e na endocrinologia, e mostra que um estupro, além de machucar fisicamente a vagina, causa alterações hormonais gigantescas. Isso por que existem nervos na vagina que são responsáveis por enviar alguns sinais específicos ao cérebro, e esses nervos podem ser danificados no estupro, e literalmente fazer com que a pessoa tenha depressão ou síndrome do pânico por causas anatômicas e endócrinas.

"A vagina reage à sensação de segurança feminina no sentido que a circulação aumenta quando a mulher se sente segura; mas os vasos sanguíneos da vagina sofrem uma constrição quando ela se sente ameaçada. Isso pode acontecer antes que a mulher conscientemente interprete seu ambiente como ameaçador. Portanto, se você ameaça ou diminui continuamente a vagina em um ambiente universitário ou profissional, envia um sinal contínuo ao cérebro e corpo femininos de que ela não está segura. O estresse negativo aumenta."

Eu devo dizer que amei o livro. Como sou bióloga em formação, e já estudei anatomia na faculdade, algumas coisas foram mais fáceis para entender, e sinceramente, ler esse livro me acrescentou MUITO, e com certeza minhas aulas sobre sistema reprodutor "feminino" (não gosto da nomenclatura, não acho que seja válida para os dias de hoje, mas é a única que conheço) serão melhores e mais completas. É preciso dar às pessoas a informação correta e mais completa possível sobre seus corpos.

Fica aqui minha super recomendação de leitura. É um livro que considero sim essencial para mulheres cis hétero, e um livro que mulheres no geral irão gostar muito, assim como homens trans também irão gostar, principalmente pela parte mais científica, de saber o que pode ou não atrapalhar o prazer de forma biológica. Um aviso que devo fazer é que a Naomi é feminista liberal, que é a vertente do feminismo mais forte tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. Então em alguns momentos vai ter sim essa pegada de "mulheres podem e devem mostrar seus corpos da forma como quiserem", apesar de a autora ter um capítulo inteiro falando sobre malefícios da pornografia. É uma escolha sua ler, mas espero que leia, pois é uma leitura incrível!


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