domingo, 15 de setembro de 2019

Resenha: Outros Jeitos de Usar a Boca de Rupi Kaur




























Título: Outros Jeitos de Usar a Boca
Autor: Rupi Kaur
Editora: Editora Planeta Brasil
Ano de publicação no Brasil: 2017
Número de páginas: 208 / 272
Onde encontrar: Skoob
Nota: 4 / 5


Outros Jeitos de Usar a Boca é um livro de poesia, a maioria delas com temas feministas. O livro é dividido em 4 grandes partes: a dor, o amor, a ruptura e a cura. Algo recorrente, nas quatro partes, é a dor de ser uma mulher, e principalmente a dor de ser uma mulher "de cor". Sim, sei que mulheres sofrem opressão, mas você, mulher branca, nunca irá sentir a dor de uma mulher de cor. Inclusive a grande questão do movimento feminista, é que ele realmente precisa de cortes. Por mais que sejamos todas mulheres, questões étnicas influenciam diretamente na nossa experiência como mulher.

"transei ela disse 
mas não sei 
como é fazer amor"

Enquanto mulher negra, sei que nunca irei saber como é ser uma mulher árabe. Sofremos racismo, mas de formas diferentes, e eu acho extremamente importante ela abordar o racismo no livro. Como sou um mulher de cor, obviamente eu me identifiquei com quase 100% das coisas que ela diz no livro, mas não sei se uma mulher branca se identificaria tanto assim. Mas é claro que, sendo mulher, cis ou trans, você passa por muita coisa descrita no livro, tanto as situações ruins, quanto as sensações de prazer que certas coisas causam.

Pelo título eu pensei que fosse ser um livro meio pornô, e apesar de sim ter vários poemas eróticos, não são o tema principal do livro. O livro é mais sobre empoderamento feminino do que sobre qualquer outra coisa. Os poemas românticos, em sua maioria, têm erotismo, mas é um erotismo que fica bonito. A escolha das palavras foi bem feita, então o poema acaba realmente sendo até emocionante. Em vários momentos eu consegui encaixar o meu relacionamento dentro dos poemas (os românticos, devo deixar claro).

"você coloca minha mão 
entre minhas pernas 
e fala 
faça esses dedinhos lindos dançarem pra mim"

Eu gostei muito desse livro, da forma como as poesias são rápidas e impactantes. Confesso que muitas dessas poesias são clichês, principalmente por que pessoas que fazem poesia pelo twitter, como têm um espaço bem limitado para escrever, escrevem de forma parecida. Então sim, já vi muita coisa parecida no twitter, e não é um livro completamente inovador e que vai transformar a sua vida. É mais um livro que você lê e sente orgulho de ele ter sido escrito por uma mulher, por ter uma qualidade boa, e por abordar temas importantes.

"ele tocou meu pensamento antes de chegar à minha cintura,meu quadril ou minha boca, ele não disse que eu era bonita de primeira, ele disse que eu era extraordinária"

Eu amei muito um poema específico em que ela fala sobre como é ser uma mulher não-branca, e vindo de uma mulher marrom (ela é indiana) é algo que me agrada muito. Já li muito sobre a realidade de mulheres negras, principalmente brasileiras, mas a única coisa que li de uma autora indiana foi este livro, e fico feliz por ela abordar essa questão. Por que além de ser mulher, ela é uma mulher de cor, o que torna tudo ainda mais difícil. O livro também tem ilustrações simples, com o traço "sujo", mas que retratam perfeitamente os poemas.



























Amei os toques eróticos nos poemas. Pra mim, mulher escreve sobre erotismo de uma forma bem mais poética, leve e ao mesmo tempo profunda do que os homens. Por que, na minha opinião, o corpo feminino exala sensualidade, e como mulheres, no geral, conhecem seus próprios corpos, é mais fácil fazer algo erótico que realmente seja erótico. O jeito como ela escreve o erotismo e o romance me conquistaram, por que é numa forma bem rápida, direta, sem muitos rodeios.

"não quero ter você para preencher minhas partes vazias, quero ser plena sozinha, quero ser tão completa que poderia iluminar a cidade e só aí quero ter você, porque nós dois juntos botamos fogo em tudo"

O que me fez não amar o livro foi o fato de que em vários momentos ela fala como se os homens fossem a grande praga do mundo, que devem todos serem destruídos e que todos são horríveis. Entendo a indignação, mas acho difícil colocar isso num livro onde os maiores consumidores são adolescentes. O problema de pregar o ódio aos homens, principalmente sem deixar as informações corretas dos motivos, é que isso influenciam mulheres a propagarem o ódio (e desde quando ódio resolve algo?) e faz com que os homens que leem isso se sintam inferiorizados. A melhor forma de acabar com o machismo é informando, e não atacando. Entendo que seja difícil, e até gostei de alguns poemas desse tipo, mas acho que foram poemas demais nesse estilo, acabou ficando cansativo.

Fica a super fica de leitura, principalmente para mulheres. Muitos homens leram o livro e também gostaram, por que as poesias dela, mesmo tendo como foco as mulheres (por serem meio autobiográficas), consegue alcançar muita gente, por causa dos sentimentos passados através das palavras. E em alguns momentos, trocar o gênero da palavra já resolve tudo. Homem também ama, também é frágil e também chora. É um livro rapidinho de ler, e quem gosta de poesia vai amar.

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