quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
Resenha: Aquarelas de Machado de Assis
Título: Aquarelas
Autor: Machado de Assis
Ano de publicação: 1859
Número de páginas: 12
Nota: 3/5
Aqui Machado escreve como se estivesse pintando um quadro da sociedade, mais especificamente de pessoas que ele acha que não são boas ou que não contribuem para que a sociedade melhore, pelos pontos de vista políticos e sociais. Temos que nos lembrar que Machado de Assis era bem ligado à política, inclusive ele era associado à um partido da esquerda na época dele.
Ele fala sobre os parasitas sociais e dá foco à três: parasitas de comida, parasitas de livros e parasitas de igrejas. No primeiro caso, é aquela pessoa que sempre na hora do almoço está na casa de alguém, come muito e vai embora. Ele justifica isso dizendo que esses parasitas, para conseguir manter a amizade com o dono da casa, sempre é educado e conversa bastante, assim, o dono da casa alimenta o corpo do parasita, enquanto o parasita alimenta o espírito do dono da casa.
O parasita literário é aquele que escreve mal, seus livros ou publicações no jornal não acrescentam nada à ninguém, mas mesmo assim consegue vender bem. Eu não acho isso ruim, afinal, existem gostos para tudo, e ele não gostar de tais coisas não significa que elas realmente são ruins. Entendo que muitos escritores são realmente ruins, escrevem errado e mal, escrevem coisas totalmente sem sentindo, e espero que ele tenha falado desse tipo de escritor.
"Tanto ópio encadernado que por aí anda enchendo as livrarias!"
E por último, o parasita clerical, aquele que rouba as pessoas em nome da religião, aquele que enriquece enquanto a comunidade fica cada vez mais pobre, aquele que inventa mentiras e faz com que as pessoas acreditem nelas, tudo isso em nome da religião, apenas para que ele se mantenha no poder, pois posições altas no clero significam uma boa posição social e política também.
Isso nos faz ver que desde o século XIX temos no Brasil pessoas envolvidas diretamente com a igreja, que roubam, mentem e fazem de tudo para ficarem ricos enquanto a população fica mais e mais pobre, esperando por milagres e ajudas que nunca virão.
"Assim colocado no centro da sociedade, desmoraliza a Igreja, polui a fé, rasga as crenças do povo."
Machado de Assis era católico, e a relação dele com Deus, pelo menos a parte que ele escreve em suas poesias no livro Poesias Dispersas, é algo bem íntimo, então acho que ele tem sim propriedade para falar disso, principalmente por que ele via isso pelo menos semanalmente. Como cristã vivendo no século XXI, fico triste por saber que isso acontece há séculos e ninguém tentou mudar. A Reforma Protestante teve o objetivo de fazer com que as mentiras parassem e que somente a verdade fosse dita, mas percebemos hoje que os ditos "pastores", são os que mais mentem e roubam as pessoas apenas para ficarem ricos. Isso me deixa triste.
"Transforma o altar em balcão e a âmbula em balança."
Ele também fala sobre fanqueiros e sobre funcionários públicos. Diz que funcionários públicos são contra as reformas ou melhorias na sociedade e na política, por que isso iria interferir diretamente no trabalho deles, e realmente vejo que isso ainda acontece. É assustador o número de pessoas que não apoiam coisas boas e apoiam ideias bem erradas apenas por que o salário vai aumentar, ou a carga horária vai diminuir.
"A sociedade não é um grupo de que uma parte devora a outra?"
E a última crítica feita fala sobre os folhetins, que são "franceses demais", diz que devemos abrasileirar isso, ou desistir, pois não precisamos de coisas estrangeiras aqui. Machado de Assis é bem patriotista, e isso me incomoda às vezes. Sei que no tempo dele era bem diferente, mas vendo esse discurso hoje em dia, fica estranho. Eu realmente não gosto de ver que o Brasil está cada vez mais parecido com os Estados Unidos, pelo menos no Sudeste, nas cidades grandes. Quero que meu país seja visto e valorizado pela cultura, e temos muita cultura e muita cultura diferente de estado pra estado aqui.
No geral foi um texto legal e concordo com algumas coisas ditas, e discordo de outras. Machado fala mesmo, não tem vergonha, ele joga o que ele pensa na rodinha, e quem não gostar que se vire. Gosto disso, de ele ser sincero. Não amei o texto, mas acho ele importante sim, e creio que muitos vão gostar.
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